Art Déco
Tratar os clientes pelo nome com arte
por RAQUEL TERESO
O Hotel Britania foi considerado pelo diário britânico 'The Guardian' como um dos quatro hotéis Art Déco mais bem preservados da Europa. É o mais recente dos prémios que este hotel, da autoria do arquitecto Cassiano Branco, já recebeu. O Britania tem história(s). Por lá já passaram muitos clientes ilustres, como Natália Correia, Amália Rodrigues, Assis Pacheco ou Vinicius de Moraes. Inaugurado na década de 40, era um dos hotéis mais caros de Lisboa, primando pelo ambiente boémio e excêntrico das suas festas e pelo serviço personalizado, que ainda hoje é uma das suas imagens de marca, que já lhe valeu outros prémios. O estilo Art Déco alia-se assim ao perfeccionismo do arquitecto, visível no detalhe com que define os materiais e o desenho do espaço, ao rigor do atendimento. No hotel da Rodrigues Sampaio, 17, ao Marquês de Pombal, todos os clientes são tratados pelo nome e há muitos cujos hábitos de anos são bem conhecidos...
Almofadas, malas e estojos da bar-ba são alguns dos objectos de clientes que se escondem nas arrecadações do Hotel Britania. Privilégios de clientes frequentes que assim evitam andar com a mala às costas.
Quando chegam, é Lúcia Ponces quem vai buscar as suas coisas e as arruma no quarto, certificando-se de que está tudo em ordem. Aos 43 anos, é a funcionária mais antiga, com 22 anos de casa e muito orgulho por conhecer "todos os cantinhos" do hotel. Sabe qual é o tipo de quarto que os clientes preferem, o que gostam de lá ter e se se incomodam se as funcionárias arrumarem os seus objectos pessoais.
"São clientes exigentes que sabem muito bem aquilo que querem", define a recepcionista Raquel Salas, de 34 anos. Essencialmente ingleses e americanos que vêm para fins-de-semana alargados ou viagens de negócios. Normalmente ficam um, dois ou três dias e, quer seja a primeira ou vigésima vez que visitam o hotel, à entrada são sempre cumprimentados pelo nome.
Um "contacto personalizado" que só é possível devido à reduzida dimensão do hotel, que conta com 33 quartos, 16 funcionários e uma ocupação máxima de cerca de 70 hóspedes, e lhes permite ter mais tempo para atender aos seus pedidos. Para preparar um pequeno-almoço especial para um pedido de casamento no hotel, programar um bolo-rei brigadeiro para o aniversário de um cliente ou o fotógrafo para um registar o casamento feito em Lisboa, só com os noivos.
"Coisas que a nível de hotel são recorrentes, mas às quais podemos dar uma atenção especial", explica Raquel Salas. "E esse acaba por ser o nosso cartão-de-visita", o "cuidado" com os clientes e a preocupação em criar um "ambiente familiar" e "cómodo". Um esforço reconhecido pelos clientes, que classificam o serviço como "excelente" e chegam atraídos pelas boas críticas feitas ao hotel em sites como o TripAdvisor, "o maior site do mundo de agentes de viagem", como define o administrador do hotel, Luís Alves de Sousa.
A família Martin faz parte desse grupo de clientes. O casal e os dois filhos vieram de Minneapolis, nos EUA, em busca de um lugar menos frio para a despedida de solteiro do filho mais velho, prestes a casar. E escolheram o Hotel Britania pela Internet, com base nas descrições que o colocam no número um das recomendações de viajantes para hotéis em Lisboa.
O espaço que mais os conquistou foi a sala de estar, pelo conforto que encontraram entre as paredes tons de bege, com estuques trabalhados e um lanternim que deixa passar a luz solar. O bar é outro dos lugares marcantes, com as suas pinturas originais representando os brasões das ex-colónias portuguesas, os anjos da República e motivos alusivos aos descobrimentos, como caravelas, uma rosa-dos-ventos, o Adamastor e a frase de Camões: "E se mais mundo houvera, lá chegara."
Pinturas que só se tornaram visíveis depois da recuperação que se iniciou em 1975, quando o hotel foi adquirido pelos actuais donos. Uma recuperação lenta, feita com o hotel em funcionamento, e que desde 1997 lhe tem valido vários prémios, entre os quais a classificação como imóvel de interesse histórico para a cidade de Lisboa.
Além disso, foi preciso "adaptar o hotel à vida de hoje", adverte Luís Alves de Sousa. Instalar ar condicionado, Internet e todas as estruturas que permitissem oferecer as comodidades de um hotel moderno. Mas "encaixámos tudo dentro do que já existia, sem deitar uma parede a baixo".
A única divisão que lhes viram suprimida foi o restaurante, por causa da construção do parque de estacionamento de um edifício contíguo. Uma perda colmatada com um pequeno-almoço alargado até ao meio dia, e reforçado com ovos mexidos e vários legumes salteados, além do pão, café e condutos habituais.
Ainda assim, o mais difícil, aponta, não é conseguir cobrir os custos de manutenção, associados ao trabalho dos artesãos contratados para os restauros. "O que custa é encontrar pessoas que façam bem" e, acrescenta a mulher, Ana Alves de Sousa, sensibilizar os mestres-de- -obras para o facto de o valor do hotel estar na sua "autenticidade".
No facto de os mármores da casa de banho serem os originais, de o chão de cortiça dos quartos ter sido refeito de acordo com as indicações e técnicas antigas. No toque perfeccionista que reconhece ao arquitecto, pelo rigor com que definiu todos os detalhes do espaço e pela "coerência" que imprimiu aos desenhos geométricos do chão, no desenho da porta e no hall marcadamente Art Déco. "Não quer dizer que seja fantástico, que seja lindíssimo, mas é único", remata.
(in Diário de Notícias).
Almofadas, malas e estojos da bar-ba são alguns dos objectos de clientes que se escondem nas arrecadações do Hotel Britania. Privilégios de clientes frequentes que assim evitam andar com a mala às costas.
Quando chegam, é Lúcia Ponces quem vai buscar as suas coisas e as arruma no quarto, certificando-se de que está tudo em ordem. Aos 43 anos, é a funcionária mais antiga, com 22 anos de casa e muito orgulho por conhecer "todos os cantinhos" do hotel. Sabe qual é o tipo de quarto que os clientes preferem, o que gostam de lá ter e se se incomodam se as funcionárias arrumarem os seus objectos pessoais.
"São clientes exigentes que sabem muito bem aquilo que querem", define a recepcionista Raquel Salas, de 34 anos. Essencialmente ingleses e americanos que vêm para fins-de-semana alargados ou viagens de negócios. Normalmente ficam um, dois ou três dias e, quer seja a primeira ou vigésima vez que visitam o hotel, à entrada são sempre cumprimentados pelo nome.
Um "contacto personalizado" que só é possível devido à reduzida dimensão do hotel, que conta com 33 quartos, 16 funcionários e uma ocupação máxima de cerca de 70 hóspedes, e lhes permite ter mais tempo para atender aos seus pedidos. Para preparar um pequeno-almoço especial para um pedido de casamento no hotel, programar um bolo-rei brigadeiro para o aniversário de um cliente ou o fotógrafo para um registar o casamento feito em Lisboa, só com os noivos.
"Coisas que a nível de hotel são recorrentes, mas às quais podemos dar uma atenção especial", explica Raquel Salas. "E esse acaba por ser o nosso cartão-de-visita", o "cuidado" com os clientes e a preocupação em criar um "ambiente familiar" e "cómodo". Um esforço reconhecido pelos clientes, que classificam o serviço como "excelente" e chegam atraídos pelas boas críticas feitas ao hotel em sites como o TripAdvisor, "o maior site do mundo de agentes de viagem", como define o administrador do hotel, Luís Alves de Sousa.
A família Martin faz parte desse grupo de clientes. O casal e os dois filhos vieram de Minneapolis, nos EUA, em busca de um lugar menos frio para a despedida de solteiro do filho mais velho, prestes a casar. E escolheram o Hotel Britania pela Internet, com base nas descrições que o colocam no número um das recomendações de viajantes para hotéis em Lisboa.
O espaço que mais os conquistou foi a sala de estar, pelo conforto que encontraram entre as paredes tons de bege, com estuques trabalhados e um lanternim que deixa passar a luz solar. O bar é outro dos lugares marcantes, com as suas pinturas originais representando os brasões das ex-colónias portuguesas, os anjos da República e motivos alusivos aos descobrimentos, como caravelas, uma rosa-dos-ventos, o Adamastor e a frase de Camões: "E se mais mundo houvera, lá chegara."
Pinturas que só se tornaram visíveis depois da recuperação que se iniciou em 1975, quando o hotel foi adquirido pelos actuais donos. Uma recuperação lenta, feita com o hotel em funcionamento, e que desde 1997 lhe tem valido vários prémios, entre os quais a classificação como imóvel de interesse histórico para a cidade de Lisboa.
Além disso, foi preciso "adaptar o hotel à vida de hoje", adverte Luís Alves de Sousa. Instalar ar condicionado, Internet e todas as estruturas que permitissem oferecer as comodidades de um hotel moderno. Mas "encaixámos tudo dentro do que já existia, sem deitar uma parede a baixo".
A única divisão que lhes viram suprimida foi o restaurante, por causa da construção do parque de estacionamento de um edifício contíguo. Uma perda colmatada com um pequeno-almoço alargado até ao meio dia, e reforçado com ovos mexidos e vários legumes salteados, além do pão, café e condutos habituais.
Ainda assim, o mais difícil, aponta, não é conseguir cobrir os custos de manutenção, associados ao trabalho dos artesãos contratados para os restauros. "O que custa é encontrar pessoas que façam bem" e, acrescenta a mulher, Ana Alves de Sousa, sensibilizar os mestres-de- -obras para o facto de o valor do hotel estar na sua "autenticidade".
No facto de os mármores da casa de banho serem os originais, de o chão de cortiça dos quartos ter sido refeito de acordo com as indicações e técnicas antigas. No toque perfeccionista que reconhece ao arquitecto, pelo rigor com que definiu todos os detalhes do espaço e pela "coerência" que imprimiu aos desenhos geométricos do chão, no desenho da porta e no hall marcadamente Art Déco. "Não quer dizer que seja fantástico, que seja lindíssimo, mas é único", remata.
(in Diário de Notícias).
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