quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Havia um lago.




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Havia lá um lago. Com uma ponte, até. Um lago com patos e nenúfares. Rãs e peixes dourados, assim como nas histórias de crianças. Mariana gostava de se sentar à beira do lago, ao entardecer, em leituras românticas ou a bordar e a coser.
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Depois houve lá uma «Comissão de Moradores». Mas isso foi muito depois. Nessa altura, já Mariana não vivia ali.
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E então vieram os homens e taparam tudo com tijolos e cimento.
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Fecharam as janelas com tijolos.
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Mariana hesitara muito antes de casar.
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Por aqueles caminhos, Mariana pensava antes de casar.
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E vieram os rapazes com tinta. Pintaram tudo. «Tiroteio», escreveram.
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«Casa do Tiro».
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«Castelo da Morte».
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As paredes de estuque assistiram ao pedido de casamento de Mariana. Mariana hesitou muito antes da cerimónia.
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As paredes de estuque. Mariana casou, enfim. Porque tinha de ser.
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Do Brasil, o pai trouxera o gosto das palmeiras. A quinta tinha muitas palmeiras. Ainda lá existem palmeiras.
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As janelas, agora, caíam no vazio.
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Os rapazes deitaram abaixo os tijolos. E entraram.
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Mariana gostava de viver ali. Agora, depois de casar, só aqui viria de vez em quando.
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Isto é só um «post» num blogue. Não liguem muito. É só um blogue.
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Mariana não teve filhos. Morreu sem netos. Os sobrinhos desentenderam-se.
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Veio um fogo. Vem sempre um fogo.
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Agora, as paredes olharam para nós. Surpreendidas.
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Agora, tinham destruído tudo.
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Destruíram tudo. Tudo.
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Não havia nada a fazer.
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Só havia pedras moribundas. Chove em Lisboa e no meu coração.
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Chove em Lisboa e no meu coração.
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Havia lá um lago. Com uma ponte, até. Agora, não resta nada. Só uma casa suicidada.
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Na Quinta da Salgada, só resta a memória de uma Mariana imaginária. Quinta da Salgada, em plena campanha eleitoral. O ruído da campanha, lá longe. E, aqui, a lembrança de um lago vazio. Mas isto é só um blogue, não é?

2 comentários:

antoniomcascais disse...

As fotos são bonitas,a sequência também, mas...Mariana ,afinal isto é só um blogue ?
Que pena , não percebi nada , gostava de saber que romantiquice é esta,gostava de ajudar a defender este lindisssimo património , mas assim, sem saber sequer aonde fica , não dá...

Gastão de Brito e Silva disse...

Este post, é um poema urbano, além de uma homenagem a uma eventual antiga proprietária...tem a ver com todo o ambiente impregnado de romantismo...está fantástico, como é costume...

Já agora....fotografei esta antiga quinta e além do nome, nada mais consegui saber...alguém me pode ajudar a desenterrar a sua história???