sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Casa Daupiás. Chalet Mon Plaisir.


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Os Daupiás
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Em 1755, o Marquês de Pombal, «o Bismark português, depois de torcido o pescoço à Companhia de Jesus, entendeu reformar a sociedade por meio da mais profunda revolução que homem algum ousou jamais impor a um país. (...) Para uma tal construção faltavam na sociedade portuguesa todos os materiais. Pombal preocupou-se pouco com a resolução desta pequena dificuldade (...) importou do estrangeiro o que não tínhamos em casa. (...) Precisávamos primeiro que tudo, de ideias. Mandou-as vir. E chegaram, para resolver as questões coloniais do Brasil, Vellasco e Brunelli, e para fundar o ensino chegaram Cecchi, Vandelli Birmingham, Tallier e vários outros. Não tínhamos comércio criaram-se as Companhias dos Vinhos, do Grão-Pará, do Maranhão, etc. Não tínhamos pão: arrancaram-se as vinhas e plantaram-se cearas nos mateiros do Tejo e do Mondego.Não tínhamos industria: mandaram-se vir de fora industriais: os Vanzeller, os Bon, os Polyart, os Georges, os Crammer, os Lecussen Verdier, os Mathevon de Curnieu, os Roland, os Simion, os Borel, os Bertrands, e, finalmente, o mais ilustre de todos, Jacome Ratton, de cuja família, aliada aos Daupias, o visconde Daupias é hoje o descendente e o representante na sociedade de Lisboa. (...)A maior parte das famílias (...) que o ministro e D. José atraiu ao nosso conflito industrial vingaram, constituíram verdadeiras dinastias burguesas e fundaram consideráveis exemplos de iniciativa, de trabalho inteligente, de probidade inexcedível, de dignidade perfeita e absoluta. (algumas destas famílias ainda hoje perduram) Deve-se-lhes inteiramente a criação da nossa industria fabril, e pela comunicação das ideias da Revolução Francesa, de que alguns deles foram os portadores e protagonistas, como Ratton, Verdier e Curnieu deve-se-lhes também em grande parte o fermento democrático de 1820. O visconde Daupias é como dissemos o descendente e o representante de Jacome Ratton. Poderíamos acrescentar que é o continuador da sua obra».
Isto escrevia Ramalho Ortigão sobre o Visconde de Daupiás, em 1881, no Comércio e Industria.
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Pedro Eugénio Daupias, 1.º visconde e 1.º conde de Daupias.
n. 28 de Maio de 1818. f. 25 de Janeiro de 1900.
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Chalet Mon Plaisir

A Casa Daupiás fica junto aos arcos do Aqueduto das Águas Livres, ao fundo da Rua do Arco de São Mamede, em Lisboa. "No início do século XX, Frederico Romão Daupiás d'Alcochete - 4º Barão de Alcochete -, decide comprar um terreno, com o objectivo de se dedicar ao interesse particular que nutria por plantas e jardins, adquirido nas suas inúmeras viagens à Europa. Daupiás, impulsiona a criação de um jardim que aglutina diversos espécimes arbóreos, constrói pequenos núcleos ajardinados independentes dentro do terreno - aproveitando a sua inclinação em socalcos com um carácter experiementalista, ao qual se alia uma perspectiva de interacção entre o homem e a natureza, abrindo arruamentos calcetados e instalando bancos, com o objectivo de, pontualmente, abrir o jardim ao público. A este núcleo, representativo das técnicas de jardinagem portuguesa na viragem do século (com o uso de um sistema complexo de tanques, bombas e canalizações), alia-se uma casa projectada por um arquitecto desconhecido, de construção eclética, também da primeira década do século XX. De planta quadrada, coberta por telhados de duas e três águas, possui uma fachada escalonada, com um corpo central saliente, de dois andares, terminando numa empena triangular; os dois corpos laterais, com um único piso são rasgados por duas fenestrações de secção quadrada e cobertos por beiral."
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Rua do Arco de São Mamede, nº 6 a nº 8.
Situação: ao abandono.
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Quanto tempo restará a estas varandas em ferro?
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«Construção do elevedaor que gerou polémica em 2001 com João Soares vai arrancar para o ano. Obra será financiada com verbas do Casino Lisboa» (Correio da Manhã, de 25/11/2008).
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«Acesso ao Castelo custa 5 milhões» (Correio da Manhã, de 25/11/2008).

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«A Câmara de Lisboa pediu à empresa TMN para reduzir a publicidade natalícia com que ocupou todo o Terreiro do Paço» (Público, de 25/11/2008).
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Isto está bonito, não?










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Isto foi bonito, não?







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«Sou um social-democrata como Olof Palme» (José Sá Fernandes, Público, de 28/11/2008).
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«Câmara prepara-se para aprovar financiamento três vezes superior para a futura sede da Fundação Saramago, que alega não poder pagar nada» (Correio da Manhã, de 18/11/2008).





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«Mais um milhão na Casa dos Bicos» (Correio da Manhã, de 18/11/2008).
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Contrastes.
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A cidade não é apenas um instante. É um conjunto de momentos que se sucedem sem poderem sobreviver isoladamente. O futuro da cidade é o seu presente e (muito) o seu passado histórico. As suas pedras, mas também as gentes que a construíram e desenharam em todos os sentidos. É por isso que o que resta de uma pequena casa no n.º 6 da Rua do Arco de São Mamede não é apenas o resto de uma casa. É tudo o que aqui lemos, desde que o Marquês de Pombal chamou Jácome Ratton até aos nossos dias. Que alguém o não entenda, podemos perceber. Que uma cidade inteira o ignore, é preocupante. É por isso que temos de saudar o esforço de um punhado de pessoas que se tem dedicado para que esta memória não desapareça. Tudo têm feito para poder salvar o «Chalet Mon Plaisir» (ou, como dizem, a «Casa Daupiás), na Rua do Arco de São Mamede n.º 6.
Neste sentido, o “Fórum Cidadania Lx entregou, oportunamente, à CML um extenso dossier (...) propondo uma solução para a antiga casa e jardins Daupiás que contemple, designadamente, a recuperação do chalé para os serviços da Junta de Freguesia de São Mamede (que necessita urgentemente de um novo espaço), centro de dia, sala de aulas e biblioteca e do logradouro para o projecto original de Frederico Daupiás, alargado a horticultura (em sintonia com a Quinta Pedagógica dos Olivais, o mercado biológico do Príncipe Real, os Amigos do Jardim Botânico, etc.); (...) Considerando que esta proposta teve o apoio entusiástico e expresso, de Nuno Daupiás d’Alcochete (descendente de Frederico Daupiás e desde há anos empenhado na protecção do espaço junto da CML), da Junta de Freguesia de São Mamede (cuja assembleia aprovou também por unanimidade esta pretensão), da Liga dos Amigos do Jardim Botânico, da Srª Coordenadora do Serviço de Extensão Pedagógica do Museu Nacional de História Natural, e, ainda, de iminentes defensores de Lisboa como a Prof. Raquel Henriques da Silva, Profª Regina Anacleto, Prof. José-Augusto França, Prof. Gonçalo Ribeiro Teles, Arq. Nuno Teotónio Pereira, Arq. Filipe Lopes;”.

Parece que, apesar disto tudo, a cidade continua de costas para a Casa Daupiás.
É muita pena...

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