sábado, 20 de março de 2010

Palácio dos Condes de Almada.


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Palácio da Independência, com a designação pela qual ficou chamada o histórico Palácio dos Condes de Almada, no Rossio, dado que foi adquirido e posteriormente doado ao Estado, em 1940, por ser um dos mais importantes marcos para a Restauração da Independência em 1640.
A primeira notícia da existência de casas da família Almada na zona do Rossio data de 27 de Junho de 1467, em que D. Fernando de Almada, Capitão-Mor de Portugal, e sua mulher, D. Constança de Noronha, adquirem uma propriedade ao fidalgo Nuno de Barbudo. As casas «partem com muro de trás (Muralha Fernandina) e com chão do conselho (Rua das Portas deStº Antão) e com Rossio (o Largo de S. Domingos) e mais confrontações». Não são dadas, no entanto, quaisquer referências ao tamanho nem ao aspecto das casas. Supõe-se, porém, que, inseridas no espírito da época, seriam casas austeras, feitas à volta de um pátio. O palácio ter-se-á desenvolvido em várias ampliações e transformações, a partir do núcleo medieval inicial. Enquanto que o exterior é articulado em duas fachadas rigorosamente estruturadas (a do Largo de S. Domingos e a Rua das Portas de Stº Antão), já o interior é completamente diferente, sendo resultado de um somatório de edificações de várias épocas e, consequentemente, diversos estilos. A evolução das casas dos Almada no Rossio deve ser entendida como o reflexo do poder que essa ilustre família foi tendo ao longo dos séculos.
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No Rossio, todas as terças-feiras, realizava-se, desde 1430 até ao século XVIII, a Feira da Ladra, que ali existiu desde 1430 até ao séc. XVIII. Aí se vendiam panos de linho, rendas, franjas, estopa para fiar - segundo o Padre João Baptista de Castro. Diz-nos Fernando Castelo-Branco: “No Rossio se concentrava parte da vida lisboeta. Realizavam-se aí certos espectáculos públicos, como as touradas, o que contribuía para a valorização das suas casas, donde comodamente se assistia a tudo o quena praça se passasse. (…) Era no Rossio que se assistia habitualmente aos Autos-de-Fé. Em tempos de maior calma, era aqui que, pelas esquinas,o lisboeta lia os pasquins e os editais.”1
A família abandona definitivamente o palácio em 1833, que lhe é confiscado por ter sido considerado rebelde o Conde de Almada, partidário do Rei D. Miguel. Nunca mais os Almada voltaram a residir no Rossio. Em 1834, lá viveu Almeida Garrett. Um ano depois, o palácio é restituído aos proprietários. E, durante cerca de um século, o edifício foi recebendo variados inquilinos. O Quartel General da I Divisão esteve lá instalado desde o fim do século até 1911. É aqui que, na madrugada de 4 de Outubro de 1910, se reuniu o Ministério de Teixeira de Sousa pela última vez. Segundo Norberto Araújo, a República foi proclamada pelo povo junto ao palácio, antes mesmo de o ser na Câmara Municipal. Entretanto, em 1861, foi cedida pelo Conde de Almada uma sala no palácio para sede da recentemente formada Comissão Central 1º de Dezembro de 1640. Doze anos depois, são feitas obras no terreiro defronte do palácio. Este é nivelado e posteriormente foram colocadas pilastras e gradeamento, para que ali a Comissão Central erigisse um monumento aos Restauradores de 1640 (que depois é trocado pelo local onde hoje se encontra, na praça com o mesmo nome). Em 1877, o foro de alguns terrenos do palácio é levado à praça sendo arrematado por 491$300 réis, pela Comissão 1º de Dezembro. Em 1939, o palácio é adquirido por subscrição pública feita pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal (nome que tomara a Comissão 1º de Dezembro em 1927). Foi então assinada a escritura de compra do edifício. Ficou na ocasião decretado que o palácio passaria a ter a função de Sede da Mocidade Portuguesa e da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. O Museu da Restauração deveria também ter surgido no palácio, mas tal nãoaconteceu até 1974. Com a agitação resultante da mudança de regime em 1974, o palácio foi invadido. Extinta a Mocidade Portuguesa, o edifício foi, quase na sua totalidade, ocupado pela Associação dos Deficientes das Forças Armadas. A Sociedade Histórica ficou então reduzida a quatro salas. Em 1983, por decisão governamental, foi determinado que o palácio fosse cedido, na sua totalidade, à Sociedade Histórica. Essa instituição tem a seu cargo a instalação, no edifício, do Museu da Identidade Lusíada. Em 1988 demoliu-se a central eléctrica que ocupava o espaço dos seus jardins que foram, entretanto, reconstruídos.
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As chaminés foram, durante muito tempo, apontadas como monumentos alusivos à Restauração de 1640. Num artigo escrito em 1864,a ssim eram chamados por Vilhena de Barbosa no Archivo Pittoresco;também assim eram chamadas no Diário Ilustrado de 29 de Outubro de 1880; e ainda nos folhetos turísticos sobre os monumentos de Lisboa, ainda no século XX. No entanto, Júlio de Castilho, após a observação da planta de Braunio, vai defender a ideia de que, no sítio das casa dos Almada, lá estão representadas as chaminés. Ora, sendo a planta de 1572, as chaminés serão então manuelinas e não padrões da Restauração, que só aconteceu no século seguinte. A sua semelhança com as chaminés do Palácio da Vila de Sintra tem ajudado a cimentar a interpretação que Castilho fizera em meados do século.
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Em 1940 fizeram-se obras de reintegração, orientadas pelo Arquitecto Raul Lino. Inúmeras alterações foram feitas, sendo as mais importantes o desafogamento do pátio principal (através do desemparedamento da escadaria do lado direito). Ao cimo da escadaria, do lado direito, foi desentaipado um portal manuelino. As arcadas, na ala da Rua das Portas de Santo Antão, foram também parte destas obras.
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"Em 1640, num pequeno e recolhido pavilhão dos seus jardins, um grupo de fidalgos portugueses fizeram algumas das importantes reuniões que conduziram à revolução do 1º de Dezembro e à consequente Restauração da Independência."

2 comentários:

Paulo disse...

Blog deprimente!

Lourenço de Almada disse...

Parabéns! Pela sensível e séria pesquisa assim como pela grande qualidade das fotografias.
Obrigado, gostei mt.