segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Vila Galvão.



Vai o passeante tranquilo e depara com o cartaz «Villa Galvão». Interessante.
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T 1, T 3 Duplex, Garagens. A coisa promete.



Entremos. Realmente, estamos num dos bairros mais soalheiros de Lisboa. Junto ao Restelo, grandes vistas de Tejo. Sossegado. Vou comprar um T 1 na Villa Galvão.



O diligente vendedor mostra-nos o pouco que ainda têm. Já venderam quase tudo.



Pudera, com esta localização fabulosa.



Acabamentos de luxo. Mantendo a traça original, em tijolo e argamassa.



Ares condicionados no tecto.



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Com quadros abstractos encastrados na parede. Aqui, o famoso «Green», de Andy Warhol.
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«Green», de Andy Warhol (c. 1967), 245mm x 126mm. Acrílico na parede.



Janelas high-tech, de arejamento rápido.



Outro modelo, mais aberto e solto, atravessa-nos o caminho.



Este, fabuloso, com o telhado em «arte étnica». Madeiras do Bali. Não, este ultrapassa o orçamento. Tempos de crise.
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Mas o olho, triste e frustrado, ficou-se-me pespegado nesta janela. Aqui, eu seria feliz.
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A reconceptualização da noção de «zona expectante» é outra das apostas da Villa Galvão.

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À espera de Godot?
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Mas quando tiraram daqui as pessoas não devia ser vossa obrigação deitar tudo abaixo e arranjar o espaço? Vão mandar abaixo, não vão? Não estão a pensar recuperar, pois não? Então porque estamos há tanto mas tanto tempo assim?
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É porque este WC ainda tem serventia? Não parece.





É porque alguém deu um pontapé na porta?



Ou querem ainda guardar o adorável penico em plástico?


Ou é porque pensam reutilizar aquela lata de «Ice Tea» e a porta branca no futuro condomínio de luxo?
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Mas era vossa obrigação não deixarem este condomínio de lixo assim.


O recanto étnico é, de facto, só para quem pode.
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Com este ar multicultural, dava uma boa sede para o Partido Nacional Renovador.



No meio, um banco público. Degradado, por certo, mas está aqui meio perdido. Vê-se logo pelo modo como olha para a gente.
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Em madeira nórdica, o revestimento do tecto é um inimigo das grandes amplitudes térmicas.



Os construtores da Villa Galvão reservaram um espaço de lazer colectivo.





E não falta o clássico tanque de lavar. Geralmente, andam aos pares, como os gémeos siameses, os testículos ou os polícias de giro.
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Mas, agora fora de brincadeiras, que cena é esta?
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Espantoso é os senhores toxicodepentes não virem para aqui. Terão nojo?



Ou frio?
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Ou mesmo vergonha de dizer que pernoitam na Vila Galvão?



A Villa que tem dois «l» mas falta-lhe o tecto das habitações.


Uma cozinha equipada.

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E até na alimentação dos recém-nascidos eles pensaram. O «target», de facto, é constituído por jovens casais de alto potencial.



Olhem lá para o potencial disto.







Um labirinto de oportunidades para um investimento seguro.
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Um investimento de betão.



«Bem, esta não vos devia mostar, estamos em testes com o arquitecto», diz-nos o vendedor, algo acabrunhado.
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Um cabide. Um cabide?! Um cabide.



Uma poltrona. Uma poltrona?! Uma poltrona.

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Vistas amplas? Sim, vistas amplas.







O WC, imaculado, poderia começar hoje a fucionar.



Por pouco, não levámos com esta cena má na tromba. E acabava-se o Lisboa SOS?
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Não, de forma alguma. Neste momento, temos uma rede de 53 equipas de 4/5 elementos para cobrir Lisboa inteira.



E o pior é que Lisboa tem sido coberta há muitas vereações & gerações.



Já viram o impercável castanho desta porta? É horrível o castanho, Cesaltina. Mas está bem pintado, lá isso está, amor.
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A futura casa de Marcos Perestrello, vereador da CML para a Higiene Urbana e os Espaços Públicos. Deve morar em Canaveses, este pândego do Marcos.
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Villa Perestrello. Eram quatro «l» em duas palavras. Seria bello.

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Não, já está estafado o trocadilho com «mobiliário urbano».



A televisão faz tanta companhia. Quando é boa, faz muita companhia.
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Cá está ele, o terreno, expectante. Está cheio de medo do que lhe vão fazer.



Sossega, vais ficar como o teu primo. Ali na foto, é o da esquerda. Alto e branco. Ser alto tem as suas vantagens.
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Os dossiers da «Operação Furacão», com os códigos secretos das trafulhices, aqui deixados ao acaso. Displicência. Que desleixo de País.
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Nós somos bons é na decoração de exteriores. Devíamos apostar nisso.
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Um dos nossos repórteres, o mais valente e mais bonito e mais irresistível, subiu aquelas escadas. Qual João Garcia, arriscou. Mas isto não é para brincar, nem para fazer colecção de fotos. O que se tem, mostra-se ao leitor, ávido deste quotidiano exercício de autoflagelação diária a que se entregam os homens & mulheres de Lisboa SOS.





A delicada paleta de cores dos arquitectos de interiores do condomínio Villa Galvão. Quando se faz, faz-se a sério. Demora um bocadinho mais, está certo. Mas no final vê-se a diferença de quem sabe trabalhar. Tons suaves. Debussy no Galvão.
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Olha, já colocaram a areia. Bom sinal.



Olha, outro monte de entulho. Mau sinal.



Dúvida: isto é para comprar «na planta»?



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E há sempre, mas sempre, sempre, uma porcaria duma cadeira nestas orgias privadas da trapalhada e da degradação humana, perdão, urbana.
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A porta blindada, com sistema «cordel security plus».



Quando se põem grades, algo de mau está para acontecer. Lembrem-se de Guantánamo. Grades são más. Transmitam isto à APL, sff.




A Drª Retrete também aparece sempre nestas coisas. Nunca foi convidada, mas está em todas.

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Bem, está em todas menos aqui.

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Regressemos ao clássico. No tempo disto, não havia IKEA e o pessoal já era asseado. Vêm para aqui só para chatear a gente, não é?

1 comentário:

Ana Assis Pacheco disse...

se agora até há no Bairro Alto uma galeria para expôr "grafites"
não seria boa ideia umas quantas galerias
espalhadas em vários bairros lisboetas
para expôr lixo ?
é que o material é tanto
e os artistas tantos também...
o Costinha já manuseia com jeito uma latinha de spray
(como se viu na reportagem de abertura da dita Galeria)
se lhe derem uma vassoura
não será capaz de mais artes ??
com ajuda do Marquinho, se possível