domingo, 14 de setembro de 2008

Há muitas lisboas dentro de Lisboa: a Vila Janira, na Penha de França.





A Igreja da Penha de França e o convento com o mesmo nome, concluídos em 1598 e 1635, respectivamente, são obra do arquitecto Teodósio de Frias. Ambos foram destruídos pelo terramoto de 1755 e posteriormente restaurados com a ajuda do Marquês de Marialva e outros devotos, como lembra a placa colocada à saída do templo. Da freguesia situada na colina com 110 metros de altura, a mais alta das sete colinas de Lisboa, avista-se meia-cidade, num ângulo que se estende do Castelo de São Jorge ao Alto de São João. Outras vistas alcançaremos se baixarmos os olhos e a alma sobre a encosta onde se esconde, envergonhada, a Vila Janira ou Dejanira. Ali, mesmo aos nossos pés, um abrigo de animais - alguns cães, umas dezenas de gatos, muitos pombos - e de um número indeterminado de pessoas. Vivem famílias na Vila Janira, não sabemos ao certo quantas. Nem provavelmente a Câmara Municipal ou a Junta de Freguesia da Penha de França sabem quantas almas ali habitam. O cheiro nauseabundo resulta do fermentar do lixo sob as altas temperaturas de Verão. Calculo que no Inverno as coisas não melhorem, antes pelo contrário, com a chuva que arrasta as lamas. Telefonei para a Junta de Freguesia da Penha de França. Do outro lado, alguém me disse que estavam a estudar o problema dessas pessoas. Perguntei quantas famílias ali habitam naquelas condições. Não souberam responder. As famílias que vivem na Vila Janira deveriam ser uma prioridade dos governantes, mas não são. Por isso, neste Portugal «europeu», no West Coast do Velho Continente, cheio de janelas de oportunidades e choques tecnológicos, ainda se vive no centro da capital como há centenas de anos. Com telenovelas e telemóveis, por certo. Mas, no fundo das coisas, pouco mudou desde que a Igreja e o Convento da Penha de França foram construídos.









A Real Irmandade de N. S. da Penha de França e de São João Baptista mandou em 10 -?- 188? collocar estas portas para resguardar este seu recinto.



























Encalhada numa tira estreita de terreno entre a Igreja e o Convento da Penha de França e a encosta da colina mais alta de Lisboa, prisioneira da miséria, da ignorância e da burocracia há gente que continua à espera.















































Nomes como o Casal Ventoso, a Curraleira, o Bairro Chinês, as Galinheiras, a Musgueira, o Cambodja, o Bairro do Relógio, a Quinta do Marquês de Abrantes, o Jacaré e o Alto dos Moinhos, fizeram a história de Lisboa do virar do século XX. Graças ao programa Especial de Realojamento – PER, as autarquias tentaram resolver o problema de milhares de famílias que foram contactadas a partir de 1993. O objectivo foi acabar com as barracas. Contudo, outras foram aparecendo e, num ou outro caso, o problema não se resolveu de todo. E é por isso que ainda hoje subsistem situações como o Bairro da Liberdade e outras de menor dimensão, mas não menos importantes, como a Vila Janira de que mostramos aqui imagens. Não vale a pena dizer mais nada.

3 comentários:

Rafael Santos disse...

E eu moro por estas bandas não conhecia esta vila. Aproveito também para felicitar-vos pela prestação no programa de rádio da Antena 1 que fiz questão de ouvir enquanto conduzia um dos autocarros da carreira 701. Dentro das possibilidades ouvi o que foi discutido e abordado e só fui mesmo interrompido pelos barulhos da carroçaria e chassis do autocarro causados pelos muracos e reessaltos da Rua Maria Pia ou da Av.Forças Armadas. Enfim algo que já me vou habituando. Abraços

Anónimo disse...

A religião católica em Portugal em crise! Porém fica-se chocado ao ver, pelas imagens, tanto de bom que fizeram de uma Lisboa opulenta (ainda não há muitos anos), num autêntico "pardieiro" degradado.

Os homens que têm governado o meu país (onde não vivo há 46 anos) deveriam ter dois dedos de vergonha na cara e mentalizaram-se que a política, não é um espaço de prazeres, de bem estar na vida...

Essa Lisboa de outras eras, feito num chiqueiro, onde tudo o tempo está a corromper e a desmoronar-se...

Mas agora não é o terramoto de 1755, mas este provocado pela natureza dos homens da política que Portugal tem tido.

Então ó progressitas de uma "figa" o que foi que vocês fizeram depois daquele dia lindo, em que a liberdade foi dada aos portugueses?

Um zero à esquerda...

É tempo que se termine a "chulice" dos fala-baratos, dos políticos, portugueses e que outra gente venha e faça algo para este país, que não tarde a cair num abismo profundo.
José Martins

TONINHO disse...

Entendo e reconheço o valor deste blogue e seus posts de alerta, mas devemos pensar tambem que mesmo sendo pobre monetariamente não precisamos de lhe agregar a pobreza do resto...
Cresci na zona do Chile e efectivamente não conhecia esta vila que mostras tão degradada, vandalizada e suja, apesar de ter convivido e brincado em outras que ainda existem por aí e são habitadas.

Lembro uma frase que escutei muitas vezes em miudo mas que parece não ter sentido algum, "pobresinho mas lavadinho".