segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Portugal Novo.

Ena pá, ganda pinta! Que luxo... É a sede da Microsoft/Europa? Ná, é o edifício dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa.

Vamos lá a falar a sério: nas Olaias, na Freguesia do Alto do Pina, foram construídas as instalações dos Serviços Sociais dos trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa. Estes serviços foram criados em 2003 e a construção das suas instalações e sede foram decididas em 2005. A construção do imóvel foi então orçada no valor de 7,5 milhões de euros (1 milhão e 200 mil contos) e subsidiada pela autarquia. Nada a dizer, não fosse este investimento servir agora como cortina para ocultar uma cooperativa de habitação que pede o auxilio e a intervenção da Câmara Municipal de Lisboa há mais de 20 anos. A mesma cidade, múltiplas prioridades. Uma capital, dois sistemas. A história do Bairro Portugal Novo conta-a Marina Almeida no Diário de Notícias de 14 de Novembro de 2006: “O bairro foi construído em terrenos da Câmara de Lisboa há 24 anos por uma cooperativa que faliu passados sete anos. Desde então, ninguém paga renda e impera a lei do mais forte.” (…) “A pessoa aqui vai à terra e quando volta tem a casa ocupada ou vandalizada, se vai um velho para o hospital doente fica logo alguém à porta à espera que ele morra para ocupar a casa." Zélia Mascarenhas, 65 anos, mora há 23 no Bairro Portugal Novo, nas Olaias. Resume numa frase a tensão diária que ali se vive - nas traseiras da esquadra da PSP, do Hotel Altis Park, paredes meias com a encosta das Olaias, em que o preço de algumas casas pode chegar aos 500 mil euros.”.





Já se começa a ver alguma coisa por trás dos Serviços Sociais...



Pois aqui temos um bom exemplo de serviço social...


Os serviços sociais da Câmara são realmente de grande eficácia. Merecem estar bem instalados, de facto. Sim, eu sei, aquilo é só para os trabalhadores da Câmara. Mas não digam mal. Primeiro, o edifício ficou muita lindo, com revestimento a madeira, relvado e até um espelho de água. E, depois, presta realmente um grande serviço social: impede que os lisboetas vejam a desgraça do bairro Portugal Novo. Assim, evita-se a nostalgia do Portugal Velho e a recorrente conversa da «quarta classe bem feita, no meu tempo», do «antigamente, uma sardinha dava para três» ou o clássico «o que esta malta precisava não era nem de um, nem dois, mas de três salazares».

O Portugal Novo também tem espelhos de água. Ei-los:



Até têm carros à porta... O que é que esta gente quer mais? Querem ver que ainda queriam mas era fazer parte dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa? Querem ver? Vão mas é para o Turf ou para o Grémio Literário, ranhosos do camandro.







É pá, o Nelo gosta imenso de fazer fogueiras junto à parede. Já lhe disse que essa cena 'tá muita mal feita.




Olha, controla-me bem a cena que o Nelo fez. Assim não dá mesmo para entrarmos nos Serviços Sociais da Câmara. Com gente como o Nelo, não dá mesmo.

O que vale é que os nossos putos também têm relvados como os dos Serviços Sociais da Câmara. Bem visto, bem visto, não quero fazer parte dos Serviços Sociais.


Aqui no Portugal Novo é tudo muito a coçar para dentro. Não há espírito colectivo. Não há camaradagem. Cada um pinta o seu bocadinho de parede e prontos. Depois sai tudo uma misturada.

Olha a quantidade de carros que os tipos dos edifícios K, L-1 e M-23 têm... Depois reclamam serviços sociais. Até tenho vergonha de ser vizinho deste pessoal tão fatela.



Ficou giro aquele desenho do meu mais velho, não ficou? O puto quando for grande já disse que quer ser artista. Eu gostava mais de o ver com um emprego seguro, um ordenado certo, num supermercado ou no «carjacking» ou assim, mas o miúdo tem-me a mania que é artista. Na volta ainda me sai mas é um ganda lilas. Ou ainda me casa com uma preta. O problema são as companhias, que ele até é bom moço.


E tem jeito, olhem melhor...

Al Berto, o poeta, deu nome a uma rua do Bairro. Mas não é de poesia que se vive aqui. É do medo que se alimenta o bairro. Os habitantes chamam-lhe “Portugal Miserável” em vez de “Portugal Novo”. Os autarcas ignoram-no. Está tudo chamuscado de pequenas fogueiras junto das empenas dos prédios e nas entradas. Não existe um canteiro, um parque para as crianças brincarem, uma bica de água, um banco na sombra de uma árvore. O que há são janelas e portas entaipadas ou completamente destruídas, lixo espalhado por ruas que nem ruas são. Dura isto há vinte anos. Uma vida. Uma vida no medo. As imagens que aqui vos trago podem não vos sensibilizar, podem parecer-vos até um pouco coloridas. Por isso, um destes dias visitem o Bairro Portugal Novo. Está lá tudo o que não devia estar.















Ainda bem que saímos da realidade. Regressemos, tranquilos, ao edifício dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa.











Em 2005, o vereador do Bloco de Esquerda, José Sá Fernandes, apresentou uma proposta para reabilitação do Portugal Novo, entre outros bairros:

in http://www.esquerda.net/media/reabilitacaobairrossociais.pdf

A proposta seria aprovada. Depois, José Sá Fernandes e Francisco Louçã estiveram no Bairro Portugal Novo. Claro, muitas notícias: aqui, aqui e aqui.

Muitas notícias, poucos resultados. O Bairro continua na mesma. Não nos interessa nada se o Zé faz falta. O que nos interessa é o que faz falta ao Zé. E se o Zé não consegue dar o que faz falta ao Zé para que é que temos um Zé? Para nada?

7 comentários:

Cidadão disse...

Finalmente alguém, com coragem, se lembrou de mostrar a realidade do Bairro. Gostava de ver ao fim de 26anos alguém pôr finalmente as mãos no bairro. Os verdadeiros donos das casas não se importam de passar a pagar renda para terem as condições e a segurança de poderem ir de férias descansados sem correrem o risco de voltarem e terem as suas casas ocupadas ou vandalizadas. Numas das fotos pode se ver as únicas pessoas que gostam de como o bairro está.

Unknown disse...

boa noite, eu tambem moro no bairro portugal novo desde o inicio infelismente! e isto esta cada vez pior nao ha volta a dar. tiroteios entre pretos e ciganos, o bairro a cair aos ''bocados'' lol insegurança entre os moradores etc... a camara municipal de lisboa devia ter a coragem e a dignidade pegar nisto duma vez por todas legalizar o bairro começar a pagar renda impostos etc. eles nem sequer sabem quantas e que moram no bairro e ha quanto tempo por isso.. pelo menos alguem com coragem para dar voz a esta situaçao. cumprimentos

Anónimo disse...

boa tarde!por acaso ate desconhecia este blog mas visto que passei a ter conhecimento e visto ler coisas aqui escritas que nao sao bem a realidade do que aquilo que se passa aqui!tem vergonha na cara e nao vanhas difamar ou falar de coisas que nao sabes.e pior e quem vem para aqui comentar e dar forca a quem publicou esta miseravel noticia que nem sequer sabe ou tem conhecimento de tais situacoes.pois bem eu fui nascido e criado neste bairro ha 30 anos,vou de ferias quando bem me apetecer e o tempo que quiser e bem descansado da minha vida porque sei perfeitamente que ninguem mexe na minha casa nem sequer soube de alguma coisa parecida!e ha mais como por exemplo vires para aqui falar de nomes de pessoas que nem sequer praticam o mal como vieste para aqui difamar.conheces a tal pessoa de algum lado?sabes que podes sofrer consequencias sobre as palavars que escreveste neste blog?tem mas e vergonha na cara com as palavras que escreves pois nao sabes do que as pessoas sao capazes...ainda existe muita estupidez neste mundo infelizmente....

Unknown disse...

Mano eu tambem vivi 30anos nesse bairro sei que a muita boa gente ai. Mas infelizmente a ciganada que cada vez sao mais e sempre a reproduzirem-se cada vez mais e mais e mais. Se moras ai a 30anos sabes muito bem que sim é verdade o que dizem um cota morre e a ciganada invade logo as casas sabes muito bem como eu como o bairro era a 10anos atraz e como se encontra hoje em dia cada vez pior. Sabes muito bem que os ciganos ameaçam as pessoas para ficarem com as casas andam anos a intimidalas ate que as pessoas nao aguentam e acabam por perferir deixar uma casa para traz muitas perderem quaze tudo o que têm na vida so porque nao aguentam mais essa gente. Sabes tao bem como eu e ja viste como eu vi com os meus olhos a policia para nao ter problemas entregar casas aos ciganos porque é mais facil levar com 1 branco ou 1 preto na esquadra do que 50ciganos a invadila. Porque se vives ai no bairro a 30anos sabes tao bem como eu que a policia tem medo da ciganada e quando entra no bairro vai com tudo para cima dos pretos ou brancos enquanto a ciganada foge ou entra com armas pela parte de traz do bairro. Porixo se moras ai a 30anos raminhos ao menos tem a coragem de admitir a realidade no qual vives todos os dias quando vens a janela ou sais a porta pois levas logo com eles de frente a tua casa... Looool a realidade de uma pessoa qua morou e conhece muito bem a realidade do bairro portugal novo ou seja o bairro azul das olaias

Tiago Junqueira disse...

Viva, queria perguntar como estou a pensar em ir morar para perto desse bairro, se nas redondezas, isto é, junto à PSP se também existe insegurança, ou seja, se a malta não anda _completamente_ à vontade?

osoriolobato disse...

Bom dia depois de ler o seu blog e de andar a descobrir a zona do vale de chelas/Olaias e de ja1 ter visitado o seu bairro, gostaria de saber se me poderia dar mais informação durante uma visita?
Sou arquitecto Holandês mas vivo actualmente em Lisboa e ando a tentar ter contactos com vários moradores de bairros e organisações na zona .
Agradecia se me contactasse, obrigado
José Osorio Lobato
info.osoriolobato@gmail.com

Daniel De León Languré disse...

Espero que esteja bem. Acho este post muito interessante e quero compartilhar algo com você, que, apesar de saber que é uma pequena intervenção, pode ser interessante.
Sou um arquiteto mexicano que há alguns anos promove a prática de esportes e arquitetura para intervir em espaços urbanos degradados. Nesta ocasião e na Trienal de Arquitetura de Lisboa, temos a oportunidade de realizar um projeto de amostra no Bairro de Portugal Novo com a ajuda de um escritório local e vizinhos, a ser inaugurado em 5 de outubro de 2019.
A intenção, claro, não é mudar a dinâmica ou resolver problemas profundos, mas chamar a atenção, ainda que um pouco, para a situação em Portugal Novo, usando a notoriedade que um evento internacional como esse pode ter na mídia e na comunidade de arquitetura local.
Espero este mensaje, a pesar de los años de haberse escrito el artículo, le pueda llegar.
Para mais informações, deixo o link do evento. Saudações
https://2019.trienaldelisboa.com/projectos-associados/boxing-boxes/