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Ao cimo da Rua Feliciano de Sousa e da Rua do Alvito, avista-se, para lá da Rua da Fábrica da Pólvora e da Vila Cabrinha (habitação operária mandada construir pela Companhia de Têxteis do Sul), um edifício que remata a saída do vale. É a Estação Ferroviária de Alcântara-Terra, uma estação da linha da Azambuja da rede de comboios suburbanos de Lisboa. Daqui também se avista o campanário da Igreja do Palácio das Necessidades (já agora, nas Necessidades existia uma célebre caixa, que o rei D. Pedro V mandou instalar à porta e onde todos podiam deixar as suas queixas e mensagens ao soberano: se fosse hoje, não haveria caixas que chegassem...).
Aqui de cima é também possível avistar-se o Cristo Rei do outro lado do Tejo.
As duas ruas nascem lá em baixo, junto à rotunda, onde morou a desaparecida sala do Éden Cinema de Alcântara, o «Piolho», com duas sessões, seguidas de western. No Éden Cinema de Alcântara regalei-me com filmes em que Clint Eastwood era, então, um cowboy igual a Ronald Reagan – um, acabou Presidente dos Estados Unidos da América; o outro está entre os grandes cineastas americanos vivos. Foi lá que vi Rio Bravo, com John Wayne; o Viva Zapata, com Marlon Brando; Por um punhado de dólares, com Clint Eastwood e Sete noivas para sete irmãos, versão musical do conto O Rapto das Sabinas, de Stephen Vincent Benet, do mesmo realizador de Singin' in the rain, Stanley Donen. Além dos western's, havia as comédias do Cantiflas e do Louis de Funès. O Éden «piolho» foi o meu Cinema Paraíso. Infelizmente, dele nem os piolhos sobraram.
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Desapareceu o Éden Cinema de Alcântara e desapareceu também a praça ali a dois passos, ao fundo da Rua da Fábrica da Pólvora, com entrada pela Avenida de Ceuta, depois da Vila Cabrinha. Lembro-me de lá comprar petinga embrulhada em papel de jornal. Já quase desapareceu a sardinha pequena, nas apertadas malhas da União Europeia. E quase desapareceu também a terminologia “praça”. Pelo andar da carruagem, a palavra “jornais” irá pelo mesmo caminho. Depois, como se embrulhará o peixe? Pronto, já sei, vai tudo acabar a comer sushi.
Nesta mesma rotunda, os da nossa idade apanhavam boleia para a Caparica ou para o Algarve, onde queimavam as férias de Verão nas praias da Rocha e de Ferragudo em Portimão. E as inglesas bêbadas, com quem falávamos a língua que aprendêramos a ver os filmes do Clint Eastwood. Não admira que tivéssemos tão pouco sucesso... Mas éramos jovens, muito pobres e muito felizes. Seríamos mesmo felizes?
Desapareceu o Éden Cinema de Alcântara e desapareceu também a praça ali a dois passos, ao fundo da Rua da Fábrica da Pólvora, com entrada pela Avenida de Ceuta, depois da Vila Cabrinha. Lembro-me de lá comprar petinga embrulhada em papel de jornal. Já quase desapareceu a sardinha pequena, nas apertadas malhas da União Europeia. E quase desapareceu também a terminologia “praça”. Pelo andar da carruagem, a palavra “jornais” irá pelo mesmo caminho. Depois, como se embrulhará o peixe? Pronto, já sei, vai tudo acabar a comer sushi.
Nesta mesma rotunda, os da nossa idade apanhavam boleia para a Caparica ou para o Algarve, onde queimavam as férias de Verão nas praias da Rocha e de Ferragudo em Portimão. E as inglesas bêbadas, com quem falávamos a língua que aprendêramos a ver os filmes do Clint Eastwood. Não admira que tivéssemos tão pouco sucesso... Mas éramos jovens, muito pobres e muito felizes. Seríamos mesmo felizes?
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