quinta-feira, 21 de maio de 2009

Contra o poder, bordar, bordar...


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Museu d' Arte Popular
Cem ti o que Eide ser
Queresme trocar por Outro
Inda hás de te arrepender
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Trata-se de um edifício situado junto ao rio que acolheu, aquando da grande Exposição do Mundo Português realizada em 1940, o Pavilhão da Vida Popular e onde, a partir de 1948 foi instalado, por decisão de António Ferro, o Museu de Arte Popular.
Projecto do Arquitecto António Maria Veloso Reis Camelo (projecto de 1938 e conclusão de obra 1940, apresenta volumetria que evidencia a existência de vários corpos de forma rectangular e quadrangular que se interligam no interior através de corredores onde podem ser observadas obras de pintura e escultura, integradas na arquitectura, de Tomás de Melo, Kradolfer, Carlos Botelho e Eduardo Anahory, entre outros. O espaço museológico, onde se agrupam por regiões várias colecções de arte popular, é arquitectonicamente animado pela transparência de algumas das suas paredes, possibilitando a visão e o acesso ao meio envolvente.

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Por volta dos 10 anos visitei pela primeira vez o Museu de Arte Popular. Não foram os monstros da ceramista Rosa Ramalho que me atraíram. Nem as banda fardadas de azul e branco dos oleiros de Barcelos. Fascinaram-me os arados e tantos utensílios rurais que eram novidade que nunca tinha visto. Mais tarde, muito mais tarde, voltei ao Museu – já então conhecia Portugal de Rio de Onor a Tourém, os socalcos do Douro da Régua a Miranda; os vales escavados pelo Côa; as amendoeiras em flor; os troncos cor de fogo dos sobreiros nas planícies alentejanas; as encostas fustigadas pelo mar na Ericeira, na Areia Branca ou em Peniche; os canais do Vouga e as salinas de Aveiro; os arrozais ribatejanos; os pescadores da Nazaré e a sardinha aberta a secar nas redes. Contudo, foi no Museu de Arte Popular que melhor compreendi a diversidade do nosso país.
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Dos turistas que nos visitam, vindos de Paris ou Nova Iorque, de Tóquio ou de São Paulo, suspeito, que poucos teriam a necessidade de se deslocar a Lisboa para ver arte moderna na colecção do Comendador Joe Berardo no Centro Cultural de Belém. A maioria terá em qualquer destas cidades melhor e em maior quantidade, no que diz respeito a arte contemporânea e moderna. O mesmo não se poderia concluir se o Museu que visitassem se tratasse do Museu de Arte Popular. Onde os turista que nos visitavam podiam ver, até há pouco tempo, o mais genuíno da nossa cultura. Infelizmente, aqueles que decidem por nós, assim não o entenderam. O Museu foi fechado e o seu conteúdo encaixotado. Os frescos da autoria de Tom, Kradolfer, Carlos Botelho ou Eduardo Anahory foram entaipados. A ideia é inaugurarem no mesmo lugar um Museu da Língua - seja lá o que isso for. Um grupo de pessoas tem-se manifestado contra esta decisão, mas o “poder” não os têm ouvido, nem sequer tentado. E, no entanto, entre essas pessoas estão nomes como o Professor Jorge Calado, a Dra. Raquel Henriques da Silva, a empresária Catarina Portas, o Professor Costa Cabral, a artista Joana Vasconcelos, a Dra. Dalila Rodrigues ou o crítico de arte Alexandre Pomar- Porque será que não são ouvidos?
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Bordar, Bordar, um grande lenço dos namorados foi uma iniciativa com graça, pouco participada. De facto, se a Colecção Berardo no CCB tem o seu público-alvo nos portugueses, o Museu de Arte Popular tinha como público-alvo o nacional e o estrangeiro. Portugal precisa dos turistas que o visitam e os turistas que nos visitam precisam de um Museu de Arte Popular. Senhor Ministro da Cultura, já se bordou um lenço de namorados. Agora, será necessário fazer-lhe um desenho?
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