segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Outsider Art – o único museu do país.

Voltámos ao Pavilhão de Segurança – Museu, que desde Setembro aumentou o espaço onde exibe pinturas, desenhos, pequenas esculturas e azulejos de doentes. Agora são mais 4 salas, num total de 8, com uma arte exuberante, que abrange todas as décadas do século XX, desde 1902, a maioria Outsider Art, mas também arte naif e convencional.
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Além de um edifício panóptico e vanguardista, onde residiu Jaime Fernandes, e com uma colecção de 3500 obras, é o único Museu de Outsider Art do país (e até da Península). Uma mais valia para Lisboa, internacionalmente, pois lá fora este tipo de arte é muito mais conhecido e apreciado (a Lonely Planet já o descobriu …).
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E como se lê no folheto de apresentação, «um espaço de homenagem às pessoas com perturbação mental, à sua sensibilidade e inteligência, combatendo o preconceito»
Noutro texto do Museu, explica-se o que é Outsider Art :

«No século XX, de um interesse quase exclusivamente clínico, a arte dos doentes mentais passa a ser reconhecida como de valor artístico específico e inovador, influenciando grandes figuras e movimentos, como Picasso e Klee ou o expressionismo e o surrealismo. Os livros de Walter Morgenthaler e de Hans Prinzhorn (1921 e 1922) são os primeiros estudos a demonstrar o elevado valor da arte dos “loucos”, o último dos quais baseado numa recolha selecionada de 5000 obras, em diversos hospitais europeus.

E nos anos 1940 Jean Dubuffet lança o conceito de Art Brut – Arte Crua, designando a arte livre de quaisquer padrões, fruto de necessidade pura e interior, de artistas sem formação ou autodidatas, em muitos casos com perturbação mental, um conceito de algum modo alargado nos anos 1970 para Outsider Art. Uma arte diferente e autêntica, muito heterogénea e inventiva, por vezes rude, que não se apreende de imediato, mas de crescente aceitação, e tão desprezada e desconhecida entre nós.
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(Para uma introdução ao universo da Outsider Art, aconselhamos: os sites, da revista Raw Vision, da Collection abcd (Paris), da Collection de l’Art Brut (Lausanne), do American Folk Art Museum (Nova Iorque), do Intuit Center (Chicago); e os livros disponíveie pela internet “Outsider Art” de Colin Rhodes, “Raw Creation” de John Maizels, “À Corps Perdu, abcd collection”.)»

E o texto descreve algumas das raridades expostas pela primeira vez, no núcleo mais antigo:

«Complementa as anteriores e vem colocar definitivamente o Pavilhão de Segurança no circuito mundial dos museus que expoem Outsider Art (a melhor revista neste campo, a Raw Vision, refere o Museu em recente número).
Inicia-se com o desenho/projecto de uma megalómana fonte, de 1902, um guache com esquissos da planta e de disposição no verso, do internado António Gameiro, pintor bolseiro da rainha, uma raridade em termos internacionais. Trata-se de uma pintura que certamente integrava o Museu criado pelo Prof. Miguel Bombarda, dos primeiros da Europa, descrito na imprensa e no livro de Júlio Dantas “Pintores e Poetas de Rilhafoles”, de 1900, e cujas obras se encontram desaparecidas há muito.
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Também de importância internacional, pelo vanguardismo e mestria, exibe-se as fotografias de uma instalação, de José Gomes, de latas, arame e papel, de 1913, e uma instalação humana, performance ou fotografia intervencionada, do mesmo doente, no pátio das oliveiras do hospital, em 1914, uma composição surrealista antes do surrealismo, com o autor de vestes esfarrapadas, mais 4 pessoas, uma delas com uma guitarra, 4 cães, 1 cabra, a bandeira espanhola e dizeres.
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Destaque-se ainda um desenho modernista, ou abstracto, de Alcobia (1912-1913), dois desenhos do poeta-pintor Ângelo de Lima (1919), as composições de um expressionismo abstracto de Ilda (1934), o desenho de uma enfermaria “desconstruída”, sem paredes, tecto e pavimento, com duas camas invertidas no espaço (1933), desenhos de traço automático ou “mediúnico”, composições de traço automático ou “mediúnico”, e desenhos surreais ou alucinatórios de Ernesto Afonso e de Maria Rosa Sousa. Além de outros desenhos muito singulares e heterogéneos, apresentando o conjunto uma surpreendente semelhança com as obras da célebre colecção Prinzhorn, de Heidelberg.
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Finalmente, realce-se a exibição de dois Jaime Fernandes, artista outsider de renome mundial (representado no Museu de Lausanne, ou na colecção ABCD, e exposto em Nova Iorque), um deles inédito, em tons de verde, recentemente depositado no Museu, que junta o guache às linhas consecutivas a esferográfica, típicas das suas geniais obras. »
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"Tons verdes", de Jaime Fernandes.
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Joaquim A. M. Demétrio, 1964.
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Pavilhão de Segurança, Enfermaria Museu,
Hospital Miguel Bombarda, Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa,
tel. 21 3177400
Horário:
segundas e sábados das 14h às 18h,
quartas das 11,30h às 13h .

1 comentário:

Maria Albuquerque disse...

Gostei de ler o site; muito bom Maria A
LBUQUERQUE