sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Resolvida a eterna dúvida: o Terreiro do Paço é mesmo a Praça do Comércio.



Em boa hora a Câmara Municipal de Lisboa lançou a iniciativa «Aos Domingos o Terreiro do Paço é das pessoas». Como a imagem assim o atesta, há duas pessoas na Praça do Comércio. Sim, amplie por favor, são aqueles dois bonequitos domingueiros ao lado do eléctrico encarnado.
É, por isso, destituída de qualquer fundamento a notícia inserta no jornal “Público”, na sua edição de 27 de Agosto do corrente, segundo a qual que a iniciativa «Aos Domingos o Terreiro do Paço é das pessoas» não tem suscitado o devido entusiasmo dos moradores, dos comerciantes e dos autarcas da capital.
António Rosado, da Associação de Moradores da Baixa Pombalina, disse, no mesmo jornal, que vários habitantes se têm mostrado insatisfeitos com a concentração de trânsito nas restantes artérias, opinião partilhada pelo presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina, José Quadros, para quem as iniciativas levadas a cabo nesta praceta de Lisboa são «muito aleatórias e não são motivo de visita ao Terreiro do Paço». Há gente que parece que veio ao mundo só para desfazer o que os outros fazem. Incrível.

Pior ainda, mas a essa ninguém se atreveu, seria dizer que esta iniciativa não tem suscitado o merecido entusiasmo das populações. Só quem não passa aos domingos pelo Terreiro do Paço poderia fazer tal afirmação. De facto, como aqui mostramos, o Terreiro do Paço converteu-se num pólo de grande animação cultural e cívica. Milhares e milhares de seres humanos afluem aos domingos à Praça do Comércio. Só nestas fotografias poderemos contabilizar nada menos do que 22 (vinte e duas) pessoas. Ah, e se contarmos com o nosso repórter, estiveram naquela manhã domingueira 23 (vinte e três) pessoas no Terreiro do Paço.

A Câmara Municipal devia pensar em estruturas amovíveis para minimizar «a chuva e o vento de Inverno» e «O sol que bate de chapa no Verão», afirma o autarca João Mesquita (PSD). Aqui, concordamos com o Presidente da Junta de Freguesia de São José. Até agora, foi possível contar com o apoio da empresa Águas Castello e com os seus guarda-sóis, como veremos. Mas, falhando a iniciativa privada, o Estado tem de avançar. A isto chama-se princípio da subsidiariedade.


Sendo aos milhares os aderentes, como é que se entretém tanta gente ao mesmo tempo?

Ora bem:


Logo a abrir, duas alternativas culturais, duas opções de vida. A clássica, de cariz nacionalista, assente na entremeada de porco (3,50 €), na bifana simples (2,00 €) e no prego no pão (3,00 €). Também se oferece uma alternativa cosmopolita, mais arrojada, que tem por base a pita shoarma (4,50 €), o hambúrguer duplo c/ovo (3,50 €) e o abrasileirado cachorrão (2,50 €).


«A actividade cultural que ali se desenrola não é desejável nem cria dinâmica na Zona. A escala e a dimensão do Terreiro do Paço não são compatíveis com este tipo de iniciativa» disse o Presidente da Junta de Freguesia de São José, João Mesquita (PSD).

Não é de agora a aversão do Sr. João Mesquita à bifana simples (2,00 €) e ao cachorrão (2,50 €). Vários comentadores políticos, como José Pacheco Pereira e Marcelo Rebelo de Sousa, têm analisado, ao longo dos anos, a crónica repulsa deste homem público pela
pita shoarma (4,50 €) e pelo hambúrguer duplo c/ovo (3,50 €).

Agora, uma coisa é não gostar de B.B. (Berthold Brecht, Brigitte Bardot, Béla Bartók, Baptista Bastos ou, neste caso, a Bela Bifana), outra é desapreciar, numa postura elitista e insuportavelmente snobe, o legítimo artesanato português. Aí já entramos nos caminhos do antipatriotismo. Não estamos mesmo, mesmo no antipatriotismo, mas andamos muito lá perto. Não é patriótico, por exemplo, dizer que o cenário apresenta fragilidades estéticas, como os guarda-sóis Água Castello, os arranjos florais pobrezitos ou as pequenas crateras no terreiro do Terreiro do Paço.
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Por outra banda, os produtos expostos têm genuinidade e absoluto merecimento para figurar numa exibição na Praça do Comércio, banalmente designada por «sala de visitas de Lisboa». A Praça do Comércio derrotou por completo o Terreiro do Paço.
Como é sabido, Lisboa SOS tem por regra deontológica não se pronunciar sobre questões de gosto. Mas tal regra, como é evidente, aplica-se apenas àquilo que se poderia considerar «mau-gosto». Ora, não é o caso destas carteirinhas artesanais. Sim, claro, são foleiríssimas. Mas o seu foleirismo é tão, mas tão grande que até se converte em autêntico, porque absolutamente ingénuo. Aqui não há intenções perversas ou segundas leituras. Isto é arte, senhores. E ponto final. Ou seja: .


Ainda haverá de vir um intelectual da linha do Estoril para nos dizer que esta bolsinha com camafeu não merece ser exposta no Terreiro do Paço. Há gente azeda que nasceu para dizer mal.
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O quadro de um carro amarelo a avançar para a gente com um dístico a dizer «Lisboa» fica sempre bem em qualquer sala de estar de Helsínquia ou Estugarda. Apenas os 15 € podem ser considerados obscenos. Mas quem paga e dá é que sabe o valor que as coisas valem.



Vender a Família Aguiar a 4 euros é que já nos parece que merecia uma análise por parte do Ministério Público. Ainda que o não pareça, a Kátia Aguiar só tem 7 anitos e o pai de família, o Dr. Armindo Anacleto Aguiar, é uma pessoa louçã que nunca faltou com nada em casa. Vender os Aguiares por 4 euros, assim o agregado inteiro, parece-nos poder configurar um crime de tráfico de seres humanos. Isto, sim, temos dúvidas que possa estar em exposição no Terreiro do Paço.


Quanto à falta de adesão popular a esta iniciativa, Lisboa SOS constatou que é uma atoarda, uma ideia que se tentou transmitir à opinião pública da Beira Interior, mas sem correspondência com a realidade dos factos. Já atrás o dissemos: 22 (vinte e duas) pessoas no Terreiro do Paço. Gozando pacatamente as amenidades climatéricas lisbonenses, este conhecido xadrezista croata aguarda o seu parceiro sérvio para uma partidinha nas mesas de plástico da Praça do Comércio. Além dele, entrevistámos um casal de septuagenários, sentados na mesma esplanada, à espera da chegada da restante equipa de basquetebol sénior. No centro da Praça, um «performer» praticava equitação, mantendo-se imóvel durante longos minutos para gáudio dos muitos visitantes.
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Fronteiro ao arco da Rua Augusta, nada mais apropriado do que um carro de farturas. Fazem mal ao colestrol, bem o sabemos, mas um dia não são dias. E uma farturinha, só uma, até ajuda a empurrar a bifana.


Enquanto as senhoras se deliciam com a espontaneidade naïf do artesanto português, os cavalheiros queimam mais um domingo de ócio em jogos populares. Ao fundo, tabelas para a prática do basquetebol. Em primeiro plano, o lançamento da fartura queimada, desporto em que, dizem-nos, somos dos melhores à escala mundial.
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Pasmando para o rio, pasmando para a cidade, operários e contabilistas disputam-se em actividades lúdicas e recreativas. Um domingo inocente e, não hesitamos em concluí-lo, decerto muito bem passado. Família & Amigos, há lá melhor?



E o matraquilho, uma arte tão portuguesa, poderia lá faltar no Terreiro do Paço?


Vão por certo acusar-nos de manipularmos imagens, de gostarmos de criticar por criticar, de sermos uns pedantes, MAS FOI EFECTIVAMENTE COLOCADA UMA MESA DE MATRECOS BENFICA X SPORTING EM PLENO TERREIRO DO PAÇO. Agora, opinião sobre isto, cada um tem a que quiser. Nós só mostramos.
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Para os amantes do desportismo radical, estes veículos de duas rodas constituem certamente uma oportunidade ímpar para viver momentos inesquecíveis. Não é todos os dias que se anda de trotinete no Terreiro do Paço. O leitor, por certo, estará cheio de adrenalina ao olhar para estas imagens. Só lhe podemos responder: azar o seu. Mas, descanse, não faltarão oportunidades. A Câmara Municipal de Lisboa tem uma capacidade única para nos surpreender. Lutas de mulheres na lama ou lançamento de anões em pleno Rossio? Concursos de «Miss T-Shirt Rasgada» e «Miss T-Shirt Molhada» frente à Basílica da Estrela? Tudo é possível.
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Cansado de aguardar pelo seu adversário sérvio, o nosso xadrezista croata, Lazslo Tladic, ensaia uma demonstração de radicalismo a duas rodas. A alegria do rosto não consegue dissimular a emoção da experiência. Depois disto, Lazslo não será o mesmo. Nós também não.
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As esplanadas, cheias de nacionais e de estrangeiros, mostram aos Portugueses a dimensão do êxito desta iniciativa camarária. «Aos Domingos o Terreiro do Paço é das pessoas». As pessoas, uma vez mais, é que não têm o civismo de colaborar, sentando-se nestas multicoloridas cadeiras em plástico que em boa hora a autarquia disponibilizou (a encarnada, com o apoio da «Superbock»).
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As arcadas, como se vê, a abarrotar de gentes. Nós é que, por pirraça e má-fé, apagámos o pessoal todo com recurso ao Photoshop.

(Foto extraída do blogue Cidadania LX, com os devidos agradecimentos)

Havendo uma razoável oferta no domínio da fartura e da fritura na região de Lisboa, é incompreensível a contratação da empresa «Farturas à Scalabitano». São líderes de mercado, bem sabemos. São uma multinacional de referência, também o sabemos. Mas compete a uma autarquia fomentar o empreendedorismo e captar as sinergias que existem na área sob sua jurisdição. E só mesmo um inaceitável preconceito antimonárquico poderá ter levado à exclusão do «Rei das Farturas» e do «Imperador do Frito», empresários lisbonenses que têm provas dadas neste escorregadio e oleoso segmento de mercado.

(Foto extraída do blogue Cidadania LX, com os devidos agradecimentos).

A estátua equestre de D. José, Churros e Porras. Um motivo mais do que suficiente para correr a pontapé uma vereação inteira.
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Agradecemos a colaboração dos milhares de lisboetas presentes no local, do blogue Cidadania Lx, da família Aguiar, do cavaleiro tauromáquico D. José I, da Equipa de Basquetebol Sénior da Praça do Comércio, do artista plástico Machado de Castro, do sr. Lazslo Tladic, dos comentadores políticos José Pacheco Pereira e Marcelo Rebelo de Sousa e, enfim, de todos os responsáveis públicos e privados por esta pândega pombalina. Apoios institucionais: Águas Castello, Farturas à Scalabitano, Random Corporation, Associação dos Moradores da Baixa Pombalina (sociedade unipessoal), Fórum Davos e Museu de Arte Efémera.

7 comentários:

Bic Laranja disse...

Estava para lá ir mas, misantropo, tenho pavor das multidões.
Olha do que me livrei.
Cumpts.

Ana Assis Pacheco disse...

Se o Gregotti, arquitecto italiano autor DE FACTO do CCB (Centro Cultural de Belém) trabalhasse na CML, talvez não se tivesse avançado para este disparate.
Mas como o colega, arquitecto Manuel Salgado lá está, é o que se vê...
Estou mais ou menos a brincar, mas se fosse o Gregotti, não se tratava desta nossa Praça assim, desprezando-a.
Claro que a Praça foi estragada muitas décadas antes, quando se construíu uma avenida a separá-la do Tejo.
Mas agora há que pensá-la a sério.
Como ali não há infra-estruturas que a tornem um novo espaço público de estar, como é que se pode lá estar ???
Aqui ao lado, os nuestros hermanos têm nas maiores cidades, a típica "Plaza Maior".
Rodeadas de cafés, restaurantes e lojas várias, porta sim, porta sim.
À torreira do sol, ou ao vento e à chuva de Inverno, as Plazas Maiores funcionam e bem.
Porque não mandam o Gregotti, perdão, o Salgado em visita de estudo a Espanha ??
E proíbam por favor o Costinha e outros criativos de terem IDEIAS para Lisboa.
Lisboa precisa é de projectos a sério, seja de arquitectura, urbanismo paisagismo e já agora levantamentos SOCIOLÓGICOS sobre quem a habita.
Lisboa não precisa de IDEIAS, nem de FARTURAS.
Lisboa não precisa de "animação" (vulgo palhaços, feira do peixe, bailes nas praças...).
Lisboa precisa de ser uma cidade europeia, respeitando a provecta idade dos seus edifícios, classificados ou não como Património da Humanidade.

bA disse...

Arre porra, que os domingos no T.P. ainda são mais miseráveis do que eu supunha!
Poder-se-á dizer que “a emenda é pior que o soneto”. Se tratarem da cidade ela vive por si, não são estes paupérrimos remendos que lhe vão dar vida.

Filipe Melo Sousa disse...

Oh sim, a afluência é brutal. É ver as multidões ansiosas por ves os meninos do chapitô a fazer umas piruetas.

Provavelmente a praça tem mais movimento à noite com os mitras todos. Metade dos quais são se calhar os vendedores ambulantes de bugigangas de dia.

Julio Amorim disse...

Gostei do conteúdo...mas esse azul horrível no texto, só serve para agravar um possível daltonismo e, está esteticamente ao nível das "carteirinhas artesanais" !!!!

Já agora ponham o mesmo em preto, que assim dificulta a leitura mais um bocadinho. ;-)

Unknown disse...

Seria bom actualizar esta postagem com uma visita to Terreiro do Paço aos fins-de-semana e ver como "escravos por conta própria" tentam sobreviver aos quase 200€ que pagam para poderem trabalhar nesse espaço. Antes de ir multiplique esse valor por 30 artesãos que não têm qualquer tipo de apoio de quem os recebe.
Não se esqueça que somos obrigados a estar colectados e pagar quase 160€ de Segurança Social, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc...
Aconselho a ir antes de Outubro e também depois de Outubro, uma vez que a partir deste mês só lá ficará quem tiver Carta de Artesão.
Talvez encontre uma diferença entre o que realmente é artesanal e o que é pura revenda, ou talvez não...

Veja aqui algumas fotos dessa feira:
http://beadinia.blogspot.com/2008/03/aviso_27.html

Unknown disse...

Ah, aconselho a levar uns tampões para os ouvidos, é que o barulho diário dos autocarros é ensurdecedor. Caso contrário vai sentir-se num aeroporto com aviões a descolar de minuto a minuto!