domingo, 31 de agosto de 2008

Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.


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«A Faculdade de Farmácia de Lisboa tem a sua origem na Escola de Farmácia anexa à Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, criada por Passos Manoel em 1836. Desde esta data até 1911, o ensino superior de Farmácia foi sempre ministrado nessa Escola, passando depois para a Faculdade de Medicina, de onde só saiu em 1918.
Em 1919, foi reconhecido que a Escola funcionava mal nas instalações inade­quadas, acanhadíssimas e dispersas da Faculdade de Medicina. e que era urgente dar-lhe instala­ções definitivas, modernas e pedagogicamente adequadas. Para esse efeito, foi autorizado um empréstimo de 500 contos para aquisição do terreno e construção do edifício e ainda para aqui­sição de equipamento escolar. Em 1920, a Comissão encarregada de edificar a Escola adquiriu para esse efeito a Quinta da Torrinha, por 225 contos. A escolha foi justificada por se tratar de um vasto terreno, simultaneamente afastado do bulício da cidade, mas perto dos seus centros, em local onde havia a ideia de construir o Bairro Universitário, do qual poderia vir a ser o núcleo, embora naquela altura pudesse parecer ficar deslocado. Pouco depois, o Arq.º Amílcar Pinto apresentou à Comissão um projecto das novas instalações da Escola. Apesar de tudo, a casa de habitação da Quinta, que a Comissão não pensava aproveitar para as instalações, acabou por ser, de facto, a sede deste estabelecimento de ensino durante os 50 anos seguintes, completada pelo aproveitamento dos armazéns de alfaias agrícolas, adaptados a laboratórios. Depois de iniciada a construção, com diversas dificuldades, como no recebimento do crédito previsto e o aumento inesperado dos preços dos materiais, a obra acabou por ser embargada pela Câmara por invadir terrenos destinados ao prolongamento da actual Avenida das Forças Armadas, ficando reduzida a um conjunto de ruínas cobertas de vegetação. O pouco dinheiro ainda disponível foi entretanto utilizado na adaptação da moradia da Quinta a sede da Escola, transformando-se quartos e salas de habitação em laboratórios, salas de aula, secretaria e biblioteca em 1953 foi possível levantar, sobre o que restava das fundações primitivas, o edifício onde hoje se encontra o bar da Associação de Estudantes.
Menos de trinta anos depois do falhanço do projecto inicial de edificar devidamente a Escola de Farmácia, a Quinta da Torrinha começou a ser retalhada em proveito de terceiros. Em 1937, foram desanexados 21.522 dos 36.000 m2 originais. A parte desanexada é a que ho­je se encontra para lá do muro que acompanha a Av. das Forças Armadas, abrangendo a Aveni­da e os blocos de habitação em frente à Faculdade, até ao muro do mercado, numa extensão que vai desde a Cantina Nova até à esquina em frente ao Café Pátria. A desanexação foi feita atra­vés de negócios entre o Estado e uma firma proprietária de terrenos. Em troca dos quase dois terços da Quinta da Torrinha, o Estado recebeu quatro lotes, na área onde hoje estão a Reitoria, as Faculdades de Letras e de Direito e a Cantina Universitária.
Em 1966, a Quinta, ou o que restava dela, foi novamente amputada duma grande fatia, para construir o edifício do Instituto de Física e Matemática. Pouco depois, foi cedida outra par­cela para a construção da Cantina Nova. Como consolação foi construído, em 1961, o pavilhão de Tecnologia, seguindo-se, em 1967 e nos anos seguintes, a construção do Pavilhão de Biolo­gia. Desde a derrocada do plano dos anos vinte, vários projectos surgiram para substituir definitivamente as antigas construções da Quinta da Torrinha» (in http://www.ff.ul.pt/ ).
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O edifício, desactivado, foi objecto de obras de recuperação. No entanto, estas... pararam. Segundo informação no local, apenas a parte superior do edifício foi objecto de renovação. O resto parou. Actualmente, a entrada do antigo edifício da Faculdade de Farmácia encontra-se no estado em que a imagem o documenta. Nem melhor, nem pior. Simplesmente assim.



Zona envolvente à antiga Faculdade de Farmácia e ao ISCTE.





O edifício de Farmácia, notando-se a renovação realizada na parte superior.



O edifício de Farmácia, notando-se a degradação instalada no corpo principal.



Vistas interiores:





Vistas da zona envolvente:






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O edifício contíguo, igualmente integrado nas antigas instalações da Faculdade de Farmácia, enmcontra-se assim. Segundo informação colhida no local, alguns serviços ou departamentos da Faculdade mantêm alguma actividade neste edifício.






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No edifício antigo, os azulejos dos anos vinte aguardam a melhor atenção dos profissionais do furto neste segmento de mercado.






Entrada pela Avª das Forças Armadas.

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A sinalética foi devorada por plantas medicinais e curativas. Ou não estivéssemos nós em Farmácia.



O edifício contíguo está praticamente tão mau, ou talvez pior, do que o edifício principal.

sábado, 30 de agosto de 2008

Há muitas lisboas dentro de Lisboa. Bairro da Liberdade. Bairro da Serafina

"No Bairro da Liberdade, para lá de Campolide, à beira do aqueduto das Águas Livres, mora uma gente que dá gosto vê-la, de simples e honrada que é. A fantasia de quem nunca andou por aquele sítio, emprestou-lhe famas indevidas, tenebrosas, de miséria negra e de vileza turva, que não tem, é um bairro simpático, este bairro da Liberdade. É pitoresco. É amável. É bom".

Gustavo de Matos Sequeira, Diário de Notícias de 28/12/1931

Poucos lisboetas serão os que, algum dia, não terão passado de automóvel junto ao Bairro da Liberdade, em filas quilométricas a caminho das praias da Costa. Muitos por aqui passaram sem mesmo dele se aperceberem, ao entrarem na cidade ou dela saindo após um dia de trabalho. O Bairro da Liberdade (ou das Minhocas, nome por que também era conhecido) nasceu no início do séc. XX, quando Alcântara se industrializou e as fábricas para aqui trouxeram os operários e as suas famílias. O Bairro foi crescendo nas faldas da Serra do Monsanto (na altura, ainda não arborizada). Descendo até ao caneiro de Alcântara, acompanha de ambos os lados o Aqueduto das Águas Livres até ao lugar da Quinta da Rabicha e ao edifício da antiga fábrica de cola. Só nos finais dos anos 30 seria construído nas costas do Bairro da Liberdade um outro bairro, o Bairro do Alto da Serafina. A construção do Bairro da Serafina procurava então resolver o problema do crescimento anárquico do Bairro da Liberdade.Embora diferentes na sua génese social e urbana, os bairros da Liberdade e da Serafina acabaram por converter-se numa única realidade. Limitados a Norte, Sul e Poente pelo Parque Florestal do Monsanto e, a Nascente, pelo Vale de Alcântara, pelo Eixo Norte-sul, pela Linha-férrea do Sul, pela Estação de Campolide e pela Avenida de Ceuta, os bairros da Liberdade e da Serafina transformaram-se em guetos isolados da restante malha urbana. E também separados fisicamente do núcleo administrativo a que pertencem, a Freguesia de Campolide.

















Consolidar a encosta da Rua Inácio Pardelhos Sanches


A encosta denuncia, mesmo para um leigo, algum perigo de derrocada. Interessa saber, todavia, se será correcto expropriarmos aqueles que ali vivem há muitos anos para outras zonas da cidade, uma vez que a adaptação aos novos locais se tornará muito difícil, dada a idade avançada dos moradores. Se a autarquia pretender que o bairro cresça noutra direcção e se tal estiver ao alcance de todos é aqui que devem permanecer os moradores.Apesar de já ter passado bastante tempo desde que esta parte da encosta do Bairro da Liberdade foi expropriada, ainda não foram demolidas as casas nem consolidada a encosta, o que incentiva a ocupação destes espaços por outra população e facilita a proliferação da marginalidade. Se, por um lado, houve pressa em solucionar o problema das pessoas que estavam a correr riscos permanecendo naquelas casas, por outro lado não se vislumbra a hora de demolir, limpar o entulho e consolidar a encosta da Rua Inácio Pardelhos Sanches.







O Bairro do Alto da Serafina



A Serafina é um bairro construído durante o Estado Novo. Projectado pelo arquitecto Paulino Montez, este bairro social, que data de 1938, previa desde o início que as famílias que nele fossem habitar pudessem adquirir as suas casas ao fim de 20 anos. Com o tempo e com o aumento dos agregados familiares, os edifícios foram sofrendo alterações e acrescentos que vieram introduzir elementos dissonantes, alterando a imagem e o conceito inicial do bairro. Mesmo assim, a Serafina ainda possui alguns elementos característicos, como o Balneário Público, que se mantêm inalterados.









A vida no Bairro da Liberdade e na Serafina
O bairro tem potencialidades turísticas e de lazer que não são exploradas. A proximidade do Parque Florestal do Monsanto, a morfologia do terreno (que lhe proporciona panorâmicas de grande beleza sobre a cidade) e a imponência do Aqueduto das Águas Livres são características privilegiadas e que deviam ser aproveitadas. Para tal, seria necessário que a autarquia e que o Estado investissem na segurança e na higiene do bairro - os seus maiores flagelos.
Aquilo que mais nos entristeceu nos Bairros da Liberdade e da Serafina foi a humilhação e a discriminação constantes a que estão sujeitas as pessoas que aí habitam. Confunde-se frequentemente pobreza com marginalidade, até porque a primeira é escondida e envergonhada e a segunda tem total possibilidade de se afirmar. Vimos pessoas que habitam em condições miseráveis, em casas sem os mínimos requisitos de salubridade e onde o lixo acumulado é repasto de ratazanas. Muitas das casas não têm água canalizada, como se nota pelo número de bicas espalhadas pelo bairro e pela sua frequente utilização.
Numa população de cerca de 8000 pessoas (isoladas), é prioritário o reforço do policiamento feito a partir do pequeno posto que funciona ao lado dos Balneários Públicos do Bairro da Serafina.






Actividades de mecânicos, esteticistas, cabeleireiros e outros restringem-se ao Bairro da Liberdade. A Serafina é um bairro exclusivamente habitacional.














O Centro Popular da Liberdade e a Paróquia de São Vicente de Paulo

O bairro possui equipamentos sociais de qualidade, como o lar de terceira idade do Centro Popular da Liberdade ou a Paróquia de São Vicente de Paulo onde trabalham cerca de «...150 pessoas, entre técnicos, psicólogos, terapeutas, fisiatras, enfermeiras, assistentes sociais, médicos, ajudantes de acção directa, cozinheiros, ajudantes de cozinha. Uma máquina pesada que quer dar primeiro resposta ao desemprego do Bairro, promovendo o desenvolvimento integral da pessoa e dando respostas para uma mudança». A obra do Cónego Crespo merece uma leitura atenta como exemplo a seguir em bairros com as características do Bairro da Liberdade.



Centro Popular da Liberdade







O Aqueduto das Águas Livres


Com vista privilegiada sobre a cidade rica, das Torres das Amoreiras às Twin Towers, a “Liberdade” e a “Serafina” cresceram ladeando um dos mais belos e imponentes monumentos de Lisboa, o Aqueduto das Águas Livres. Monumento classificado, é a condicionante legal mais marcante que impende sobre a Área de Intervenção e que resulta da Zona Especial de Protecção ao Aqueduto das Águas Livres.

«Quanto a Valores Patrimoniais identificados no Inventário Municipal do Património (IMP), para além do Aqueduto das Águas Livres, classificado como Monumento Nacional, há a referir um conjunto edificado, hoje muito degradado, constituído pela Quinta da Mineira / Quinta do Cardim / Rua dos Arcos e Rua das Águas Livres (conjunto 10.35)».

Seria importante que se impedisse o estacionamento entre as arcadas do Aqueduto, se recuperassem as escadinhas que o ladeiam e se removesse o lixo que se acumula junto aos pilares do monumento.












Inscrições murais no Aqueduto das Águas Livres







As demolições no Bairro da Liberdade e da Serafina


A propósito do que se tem falado sobre as demolições nos bairros da Liberdade e da Serafina, são públicos os planos para esta zona da cidade; podem ser consultados aqui.



As cooperativas, os bairros sociais e as demolições


«A zona de maior impacto na Área de Intervenção deste Plano é a correspondente ao Bairro da Liberdade. (...) Parte substancial do Bairro, construído de forma espontânea e com má qualidade, encontra-se fundado em encostas algo instáveis. (...), apesar disso, constata-se que a estrutura do Bairro apresenta alguma lógica interna (o que levou a sua classificação no PDM como Área Consolidada), quer em termos espaciais, quer em termos de vivências e relações sociais, podendo constituir uma referência para futuras intervenções.” (...) “Se se pode considerar pacífica a inclusão do Bairro da Serafina numa Área Consolidada de Moradias, já a inclusão do Bairro da Liberdade numa Área Consolidada apresenta algumas contradições, face ao seu carácter como conjunto irregular e degradado, a exigir uma operação de reabilitação/reconversão» (Plano de Pormenor dos Bairros da Liberdade e Serafina, Câmara Municipal de Lisboa, 2008).

























A Câmara Municipal de Lisboa, pretende realizar um Plano que contemple a reabilitação/reconversão do Bairro da Liberdade, o que exige a adopção de medidas legislativas adicionais que permitam a realização de operações de reordenamento fundiário, pelo que deve ser promovida a declaração da área do Bairro da Liberdade como Área Crítica de Reconversão Urbanística.Apesar de encontrados os problemas e estudadas as soluções, a situação de impasse prolonga-se há vários anos com dramáticas repercussões na qualidade de vida dos munícipes. É difícil viver no Bairro da Liberdade, como é difícil viver no Bairro da Serafina.