segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A derrocada.

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Derrocada em velho palacete deixa quatro famílias sem tecto.
Moradores foram apanhados pelos desabamentos enquanto dormiam. Não há feridos.

Uma derrocada numa das alas do Palácio da Dona Rosa, em Alfama, Lisboa, deixou ontem quatro famílias sem tecto. Outros dois casais idosos terão de abandonar as casas devido ao risco de novos desabamentos. O susto foi grande, mas ninguém ficou ferido.
"Nem imagina o barulho. Foi horrível. Quando os bombeiros chegaram ainda havia coisas a cair", explica Ana Soares, uma das moradoras do pátio da Dona Rosa, uma das alas do velho e grande palacete setecentista que ainda é habitada.
Os moradores ainda dormiam quando, perto das cinco horas da madrugada de ontem, uma das paredes e parte da cobertura do prédio cederam ao peso dos anos, afectando zonas ainda habitadas. Só por sorte não ficaram sepultados juntamente com o entulho. "Foi a parede das salas e não a dos quartos. Podia ter sido uma tragédia", dizem em uníssono.
Ana Soares, o companheiro e a filha, passaram a noite num alojamento de emergência da Protecção Civil, juntamente com outras três famílias que viviam no mesmo pátio. Ao todo, saíram do palacete 13 pessoas, entre as quais várias crianças. Mas dois casais idosos ainda passaram a última noite naquelas paredes trémulas situadas no coração de Alfama.
"Não quero ficar aqui sepultada. Tenho medo. Assim que oiço um barulho fico logo sobressaltada", queixava-se ontem Maria do Rosário, uma das moradoras que ainda passou a noite no palacete e cujo marido está muito debilitado devido a um AVC. "Se o senhorio alguma vez tivesse feito alguma coisa, nunca teríamos chegado a este extremo. Nunca veio cá pregar um prego. Fomos nós que fomos arranjando as casas. Até construímos as casas-de-banho. Tantas vezes que pedi que fizesse obras e aumentasse as rendas", afirmava, por sua vez, Silvina Antunes, enquanto olhava para os estragos.
Vários donos, mas sem obras
Há décadas que o imóvel, propriedade privada, se encontra em ruína. "Há anos que se diz que a única solução era a Câmara tomar posse administrativa", frisou Maria de Lurdes Pinheiro, presidente da Junta de Santo Estêvão.
De acordo com a autarca, o palacete é um dos "calcanhares de Aquiles" da freguesia, fazendo parte do lote de meia dúzia de imóveis que estão em muito mau estado de conservação.
Maria de Lurdes Pinheiro esteve ontem no local para se inteirar da situação, tal como Helena Roseta, a vereadora da Habitação. Técnicos do Departamento de Construção e Conservação de Habitação da Câmara de Lisboa estiveram também no palacete para fazer uma vistoria.
Ao JN, Emília Castela, da Protecção Civil de Lisboa, garantiu que os moradores da zona em risco foram realojados e que, para hoje, está marcada uma reunião que vai juntar moradores, Protecção Civil, vereadora da Habitação e presidente da Junta de Santo Estêvão, para programar intervenções futuras no local.
(in «Jornal de Notícias»).

1 comentário:

Gastão de Brito e Silva disse...

Este velho palácio pertenceu a uma amante do D. João V, a D. Rosa... conheço bem este edifício que necessitava de uma urgente intervenção e era por si só mais um atentado ao urbanismo...adivinhava-se que isto iria acontecer...

Mais uma prova de inoperância da CML, do senhorio e de quem lá vivia...