Lisboa SOS apurou que a última reunião da Junta de Freguesia dos Prazeres não acabou bem. Nada bem, mesmo. O ponto 4 da ordem de trabalhos, relativo à conservação da Tapada das Necessidades, provocou violenta celeuma. Residentes na zona, contactados por Lisboa SOS, dizem ter ouvido gritos e ruídos de vidros partidos. As imagens, captadas na manhã seguinte, não deixam margem para dúvida. Algo de muito grave se passou. Como o próprio nome indica, a Junta dos Prazeres é uma autarquia prazenteira e algo sibarita, que prefere o culto do hedonismo caseirinho à fúria das grandes controvérsias políticas. Trata-se, pois, de um episódio absolutamente inédito na já longa história desta prestigiada freguesia da capital do país.
O chalet de veraneio dos membros da Junta, em madeira nórdica, apresenta ainda vestígios da contenda.
Das mais afectadas, a casa de veraneio dos membros da Junta, em madeira nórdica, como as imagens documentam.
Em protesto por estas atitudes menos dignas das suas chefias, que põem em causa o bom nome de uma autarquia inteira, pagando o justo pelo pecador, porque tanto ladrão é o que vai à vinha e etc., os funcionários da Junta decidiram passar a adquirir o «Correio da Manhã», abandonando a leitura do «Herald Tribune» e do «Washington Post». «Assim como assim sempre ficamos a saber o que é que esta gente anda aqui a fazer às noites», confidenciou um dos funcionários autárquicos ao Lisboa SOS.
Em resposta de homem para homem, o vogal Adalberto Telhado decidiu levar para casa algumas telhas de um dos edifícios, alegando igualmente que as havia adquirido a suas expensas, mas no supermercado Lidl do Beato.
Encontra-se já agendada nova reunião autárquica, que se augura conciliatória, tendo a Junta começado a preparar os equipamentos necessários para o efeito. Na imagem, um frigorífico atestado de refrigerantes naturais e bebidas espirituosas. Assim como assim, não é à toa que a freguesia se chama «dos Prazeres». O tanque, ao fundo, irá servir para lavar a roupa suja que tanto ensombrou a última reunião de Junta.
Até lá, mantêm-se as rigorosas medidas de protecção do local.
As quais, como se vê, são escrupulosamente respeitadas. Com a Junta dos Prazeres ninguém brinca. Prazeres é uma coisa; brincadeira, é outra.
Na verdade, em colaboração com o Ministério da Defesa, a autarquia instalou na Tapada das Necessidades celas disciplinares e corredores tenebrosos que fazem corar de inveja os pérfidos arquitectos da Colónia Balnear Infantil de O Guantanamo, na Linha do Estoril.
Observando com uma sabedoria de milénios estes fastos da Tapada, o vogal Anaximandro Heraclito confidencia a quem o quiser ouvir que episódios como este o entristecem profundamente. Às acusações de que está «agarrado ao lugar», o Sr. Heraclito responde que é uma estátua de pedra. O argumento é inatacável. Anaximandro, que pinta o cabelo e as sobrancelhas, gosta de perguntar aos passeantes quantos anos lhe dão. Estes, por simpatia, pecam por defeito e acaba tudo em bem. Em Outubro, Anaximandro conta partir em viagem de recreio até ao Nordeste do Brasil, em visita aos pais afectivos da senhorita D. Carmen Miranda, já referida nesta peça. Até lá, contratou os serviços de um p.t. («personál traina», na colorida linguagem dos rapazes da freguesia, 89% dos quais agarrados ao cavalo, isto é, distintos praticantes de hipismo e frequentadores de Ascot).
Com milenar amizade, o Sr. Heraclito despede-se até ao próximo programa...
Conforme o Lisboa SOS noticiou, em primeira e única mão, na sua edição de ontem, ocorreu uma tumultuosa reunião na Junta de Freguesia dos Prazeres, a qual envolveu, inclusivamente, referências esteticamente menos conseguidas à actividade profissional das mães de alguns distintos autarcas da nossa capital. Como também noticiámos, após terem sido alegremente destruídos diversos equipamentos de uso colectivo, o bom senso acabou por imperar. Assim, foi de imediato agendada nova reunião de Junta, com vista a encontrar consensos alargados e plataformas de entendimento que permitissem responder, de uma vez por todas, à grande interrogação que o futuro coloca aos habitantes da freguesia dos Prazeres: Cristiano Ronaldo fica ou não no Manchester United?
A reunião possuía todas as condições para ser um êxito. À semelhança dos organizadores dos Jogos Olímpicos de Pequim, a Junta não se poupou a esforços para alcançar um retumbante sucesso mediático, de modo a fazer esquecer o Mundo que também a Freguesia dos Prazeres possui responsabilidades históricas - e muitas - na actual situação do Tibete. Mas isso são contas de outro rosário, a resolver em sede própria.
Graças aos esforços e abnegação do Senhor Presidente, a piscina da Tapada das Necessidades encontrava-se preparada para recreio e lazer dos vogais da Junta, como se vê. De tão cristalina, a água nem se vê. Mas está lá. Verificámos no local.
Os sistemas de abastecimento de águas foram devidamente mostrados aos vogais das diversas forças político-partidárias, ficando em exposição permanente para toda a população da zona. O Senhor Presidente pôde, assim, desfazer as aleivosias que circulavam em cafés e pastelarias de Alcântara sobre um suposto encanamento clandestino na Tapada das Necessidades com ligação ao seu domicílio particular.
Para comodidade dos vogais, os arruamentos foram macadamizados. Infelizmente, como costuma suceder nestas ocasiões, a empreitada sofreu um ligeiro atraso. Ninguém tem culpa que o mestre-de-obras seja um furioso adepto do ciclicismo, na qualidade de espectador. Trata-se de um hábito adquirido vai para 37 anos. Não seria agora que o Sr. Amorim Teixeira Duarte ia deixar de tirar duas semanas em Agosto para acompanhar a rapaziada da Volta.
Aliás, as obras de reparação dos arruamentos sofreram os naturais atrasos destas maçadoras intervenções nas zonas históricas. Sempre intrusivo, o IPPAR - Instituto Português do Património Arquitectónico embargou as obras nesta cratera, onde foram descobertos vestígios do histórico paquete «Santa Maria». Julga-se ser possível recuperar na íntegra a mítica embarcação capitaneada por Henrique Galvão, bem como alguns restos do Navio-Escola Sagres.
O pórtico do edifício de reuniões da Junta dos Prazeres impressiona pela grandeza e imponência. A dignidade do Estado assim o exige.
É também em nome da dignidade funcional, e não por vaidade ou desejo de luxos, que os senhores vogais da Junta dos Prazeres e os senhores dos ministérios mantêm a Tapada das Necessidades num impecável estado de conservação.
Modestos, porém, os senhores vogais e os senhores dos ministérios deixaram alguns espaços abertos e «ao natural» para recreio das populações, não desbaratando o dinheiro dos contribuintes em benfeitorias voluptuárias - como seria, obviamente, a colocação de vidros nesta porta.
Em todo o caso, a atmosfera de grande dignidade e respeito pela História envolve a cada instante os que afluem à Tapada das Necessidades. Aqui, sim, orgulhamo-nos de Portugal. E, porque também é Portugal, orgulhamo-nos igualmente da Freguesia dos Prazeres.
Até na conservação e limpeza dos vasos ornamentais a Junta de Freguesia dos Prazeres mostra estar à altura da sua missão. Ele há pormenores que fazem toda a diferença. É com coisas pequeninas como esta que se ganham as eleições, meus senhores!
Isto, obviamente, sem esquecer necessidades de cariz mais básico, como o saneamento. A cultura lá terá o seu lugar, sim senhor, mas primeiro estão as pessoas. As pessoas estão primeiro.
Resolvido o problema do saneamento básico, devem as autarquias avançar para outras realizações. A educação, por exemplo, configura-se como uma prioridade decisiva para um Portugal melhor. O futuro que ambicionamos para os nossos filhos constrói-se todos os dias, em cada sala de aula, em cada tempo escolar. Na vanguarda, a Junta de Freguesia dos Prazeres adaptou um dos pavilhões da Tapada das Necessidades às necessidades educativas dos nossos dias. Se é para atirar com professores ao chão por causa de telemóveis, crê-se que o espaço que abaixo mostramos se encontra perfeitamente adaptado aos novos objectivos formativos e pedagógicos.
É, de facto, uma bonita cúpula em vidro. Infelizmente, os senhores vogais da Junta, vítimas da proverbial iliteracia dos autarcas portugueses, continuam a referir-se-lhe como «cópula». Apesar dos protestos do pároco da freguesia, o lapso linguístico persiste, tendo-se mesmo convertido numa «private joke» dos habitantes da zona dos Prazeres/Necessidades.
À entrada deste edifício, como se não bastasse um tradicional banco de jardim, o Senhor Presidente da Junta teve o cuidado de mandar colocar uma mesa para reuniões multilaterais, vulgarmente conhecidas como «bisca» ou «sueca». Estavam, pois, encontradas as condições políticas para um encontro autárquico frutífero e esclarecedor. Tudo indiciava que a população dos Prazeres iria finalmente poder saber se o Sr. Cristiano Ronaldo permanece ou não ao serviço do Manchester United.
Além de reuniões multilaterais, abertas à presença da comunicação social (na abertura e no encerramento), providenciou-se um espaço mais reservado para encontros bilaterais, como o atesta a seguinte imagem:
Apesar dos (injustificados) protestos das outras forças políticas, de que o «The Economist» deu conta na sua edição on-line, o Senhor Presidente da Junta reservou para si a melhor cadeira, modelo «tipo design». Alegou, com inteira justiça, que o que estava em causa não era a sua pessoa («eu, por mim, tanto me sento aqui como em qualquer taberna da freguesia») mas a dignidade do cargo.
E não, não é verdade que haja sido este o assento que o Senhor Presidente da Junta reservou para os vogais da oposição. Trata-se de um «bidon» ferrujento que, segundo corre na freguesia, foi deliberadamente colocado no local para urdir uma cabala capaz de denegrir a obra do Senhor Presidente, fazendo crer que a Tapada das Necessidades não se encontra devidamente limpa e arranjada.
Regressando ao interior do espaço reservado a reuniões bilaterais, é com gosto que verificamos, como a imagem o documenta para qualquer observador de boa fé, que a sala foi meticulosamente preparada, estando os assentos colocados em posição de plena igualdade, independentemente da diversa representatividade das várias forças políticas em presença. Para evitar acusações torpes de que escondia dos seus opositores informação privilegiada fornecida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Senhor Presidente da Junta determinou que todas e quaisquer gavetas fossem retiradas da sua mesa de trabalho. «Agora a mesa não é de trabalho, é de reuniões», disse o Senhor Presidente aos repórteres do Lisboa SOS. Escusa, pois, o Senhor Bob Woodward continuar a dizer que, à semelhança da Sala Oval da Casa Branca, na Junta dos Prazeres existem microfones escondidos.
Também em nome da transparência, e em ordem a pôr um ponto final sobre os infundados rumores que há meses a esta parte alvoroçam os Prazeres, ordenou o Senhor Presidente da Junta a limpeza integral das estantes que rodeavam o seu gabinete de trabalho. Coleccionador das publicações «Cavaleiro da Imaculada», «Além-Mar» e «Almanaque de Santa Zita», o Senhor Presidente generosamente doou estes raros espécimes bibliográficos ao Museu do Neo-Realismo, em Alhandra. Gostávamos de saber se, tirantes o Professor Marcelo, algum autarca deste País seria capaz de um gesto tão altruísta. Admiramo-nos, pois, pelo facto de os responsáveis do espaço museológico de Alhandra não terem aceite a nossa proposta de passagem da designação «Museu do Neo-Realismo» para «Museu Senhor Presidente da Junta de Freguesia dos Prazeres». Julgamos haver em tudo isto motivações de ordem política - de baixa política - que nos transcendem. Felizmente.
A remoção dos volumes da biblioteca, como se vê, esteve a cargo da Selecção Nacional de Râguebi.
As estantes vazias, podendo entristecer o leitor, são, todavia, prova da dimensão da biblioteca pessoal do Senhor Presidente da Junta, um Homem de Cultura, o qual tem sido vítima de uma cabala e de uma vil campanha caluniosa no que se refere a um alegado mau estado de conservação da Tapada das Necessidades.
Interrompemos por momentos o trabalho da rapaziada da Selecção Nacional de Râguebi...
... para assistirmos às filmagens de um sensaborão «remake» (como o são todos os «remakes») de «A Carga da Brigada Ligeira».
A tarde cai. O lago, em verde, simboliza a esperança numa longa vida do Senhor Presidente.
2 comentários:
Genial reportagem!
Incrível o que as fotografias mostram. Que tristeza de país!
É por isso!!!Está desvendado o mistério!!! Embora sendo o Palácio das Necessidades a sede do MNE, todas as recepções são feitas na Ajuda e em Queluz...têm vergonha de expor esta nojeira... Que saudades do D. Carlos.
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