quinta-feira, 19 de julho de 2012

Casa roubada, trancas à porta.






Interior de lojas históricas vai passar a ser protegido, promete Salgado
Por Ana Henriques in Público.
"Depois de todas as destruições que têm sido feitas no Chiado isto é correr atrás do prejuízo", observa antiga directora municipal da reabilitação urbana que agora é vereadora do PSD
A Câmara de Lisboa vai passar a exigir um levantamento fotográfico do interior das lojas históricas da cidade, mobiliário incluído, antes de autorizar obras nestes estabelecimentos, anunciou ontem o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado.
"Depois de todas as destruições de interiores que têm sido feitas nas lojas do Chiado isto é correr atrás do prejuízo", reage a vereadora do PSD Mafalda Magalhães de Barros, numa referência a casos como o da alfaiataria Piccadilly, na Rua Garrett, fundada em 1924, cujo mobiliário de madeira foi arrancado para dar lugar a uma incaracterística casa de sanduíches.
Antiga directora municipal de reabilitação urbana, Mafalda Magalhães de Barros diz que a protecção dos interiores dos estabelecimentos comerciais de reconhecido valor não passa sequer pela alteração das leis municipais em vigor, mas sim pela vontade política: "Quando fui directora municipal, em 2005, faziam-se vistorias aos locais que iam entrar em obra com historiadores municipais, para determinar o seu valor patrimonial. Onde estão agora esses historiadores?", questiona. O Chiado tem sido pródigo em exemplos quer de manutenção quer de destruição de interiores: fiéis à sua traça original, ainda ali subsistem duas velhas casas de cafés e uma antiga barbearia; mas os especialistas dizem que a adaptação que a Benetton fez à antiga casa Ramiro Leão desvirtuou o estabelecimento. O recente encerramento de uma das mais bonitas ourivesarias de Lisboa, a Aliança, também na Rua Garrett, fez levantar um coro de protestos, apesar de os proprietários do edifício, que entrou em obras, terem garantido que não tencionam destruir a sumptuosa decoração do estabelecimento.
Manuel Salgado não quis adiantar mais pormenores sobre a protecção das lojas históricas e outras questões relacionadas com o novo Plano Director Municipal, tendo remetido o seu cabal esclarecimento para depois da aprovação deste instrumento de planeamento na Assembleia Municipal (ver caixa). As questões patrimoniais foram, de resto, um dos temas que fizeram com que o PSD ainda não haja dado o seu acordo final ao PDM, embora os vereadores social-democratas tenham ontem dado mais um passo nesse sentido, ao votarem a favor da enésima versão do documento, elaborada também com contributos seus. Apesar de ter dado o seu assentimento a essa versão, Mafalda Magalhães de Barros mostra-se muito crítica da filosofia que presidiu à elaboração do novo plano director: "Não reflecte grandes preocupações patrimoniais, havendo o perigo de descaracterização das áreas históricas - e tem uma visão fachadista do património", de preservação de fachadas mas destruição de interiores.
A inclusão na carta do património do PDM de uma série de imóveis que dela não constavam também não convence a ex-directora municipal: "O tecido histórico construído está em risco e não é com listagens que vamos lá", observa. "Não há neste plano uma visão de preservação dos legados patrimoniais da cidade". O temor dos defensores do património é que com o novo PDM a câmara comece a autorizar demolições a eito, nas zonas históricas, de edifícios sem valor expressamente reconhecido mas cuja presença contribui para manter a identidade da cidade. Manuel Salgado tem garantido que não fará nada disso. O vice-presidente da câmara adiantou ontem também que casos como o da construção de um estacionamento subterrâneo na Praça D. Luís, à beira-rio, que por sorte não destruiu o importante património arqueológico que ali havia, não sucederão com o novo PDM, uma vez que passará a ser obrigatória a realização de sondagens prévias nas obras a realizar na frente ribeirinha.


Público

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