Por Ana Henriques e Marisa Soares in Público
Vereadora da Habitação invocou interesse público do despejo para ultrapassar ordem do tribunal que impedia expulsão dos ocupantes enquanto não fosse decidida a providência cautelar
A ocupação não durou sequer um quarto de hora, findo o qual as autoridades escoltaram os jovens aos gritos até à porta do edifício da Rua do Ouro, onde funcionam gabinetes de vários vereadores. Viveram-se, no entanto, momentos de tensão, com os "ocupas" a vasculharem salas à procura de Helena Roseta. Mais tarde, quando a autarca apareceu, os jovens decidiram que não se reuniriam com a autarca, pelo menos enquanto a polícia não libertasse os três "ocupas" detidos durante o despejo e não lhes devolvesse os seus bens, levados da casa de S. Lázaro para um armazém camarário.Tudo começou cerca das 10h, quando, sem aviso prévio, os agentes da autoridade arrombaram a porta do número 94 da Rua de S. Lázaro, invadido no passado dia 25 de Abril pelos jovens em solidariedade com os "ocupas" da Fontinha, no Porto. Àquela hora só havia três pessoas dentro da casa. "Eram uns 15, parte dos quais à civil, e estavam todos armados", descreve uma das ocupantes, Carolina Santos. "Começaram a levar os nossos pertences e tiraram-nos para fora à força. Já na rua sufocaram-me, quase me estrangulando. Como sou asmática tive um ataque", prossegue a mesma jovem, que acabou por ser levada para uma esquadra durante algumas horas. O italiano Tommasso Montari foi outro dos detidos. "Estava a tocar um instrumento na rua [durante a acção policial de despejo]. Tiraram-mo à força e mandaram-me ao chão, pondo-me um pé no pescoço para me imobilizarem", conta, levantando a camisola para mostrar o abdómen arranhado. O terceiro detido terá sido um advogado amigo dos "ocupas". De acordo com a Polícia Municipal, o despejo decorreu "sem qualquer problema".Para ultrapassar uma ordem do tribunal que a impedia de desalojar os ocupantes enquanto não fosse julgada uma providência cautelar interposta pelos jovens para evitarem o despejo, a vereadora da Habitação, Helena Roseta, invocou o interesse público - que, no seu entender, foi comprometido com a suspensão da ordem de expulsão do imóvel. Segundo um despacho da autarca entregue ao tribunal, "o prédio encontra-se em péssimo estado de conservação e é potenciador de riscos iminentes para a segurança de pessoas e bens", o que já tinha motivado a sua desocupação em tempos. Apenas se mantém "legitimamente" no edifício a associação gay Ilga, que sofreu uma inundação provocada pelo "mau uso" do prédio por parte dos "ocupas". O uso nocturno de velas pelos invasores para colmatar a falta de energia eléctrica é outro argumento invocado por Helena Roseta, dado "o grave risco de incêndio e perigo para a segurança" das pessoas.A vereadora afirma ainda que a actuação da câmara visa garantir o "direito à habitação" e "disponibilizar o prédio" para que seja atribuído "a agregados familiares efectivamente carenciados", um requisito que o grupo de "ocupas" "não preenche". E acrescenta que a ocupação ilegal e abusiva pode levar à "perda de investimentos aprovados ou a aprovar e ao agravamento de custos, colocando em causa o interesse municipal e os interesses públicos de reabilitação do imóvel, no sentido de garantir habitação atempadamente a quem efectivamente precisa".Para a hora de fecho desta página, os "ocupas" tinham marcado duas manifestações, uma no Martim Moniz, em Lisboa, e outra na Fontinha, no Porto, em apoio da primeira.
1 comentário:
Nunca nadei neste local....mas também fui estrear a nova António Arroio....creio que no Outono de 1971 ?
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