domingo, 17 de junho de 2012

António Costa: uma nódoa.



Lisboa. Câmara reforça recolha de lixo mas há serviços em pré-ruptura


Por Pedro Rainho



Falta de funcionários na recolha de resíduos pode ser só a ponta do icebergue. Há outros serviços

A semana escolhida pelos cantoneiros e pelos motoristas da recolha de resíduos sólidos da Câmara de Lisboa para fazer greve às horas extra alterou a paisagem da cidade. A noite de Santo António e um feriado pelo meio levaram a acumular o lixo nas ruas da capital, mas possibilitaram uma resposta da autarquia, que promete para “muito em breve” um reforço dos condutores de camiões de recolha destes resíduos. No entanto, o problema pode ser mais grave.

Para já, a solução encontrada para a recolha de lixo leva José Jesus, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local, a considerar que se está a “tapar o sol com a peneira”, porque “23 dos motoristas saem dos cantoneiros”, levando a que a limpeza urbana em breve se ressinta destas ausências. Ao mesmo tempo, a principal reivindicação dos trabalhadores – o pagamento de ajudas de custo – continua sem resposta, motivo pelo qual a greve vai continuar até à próxima segunda-feira, como previsto, ficando em aberto a possibilidade se prolongar o protesto.

caixa de pandora A carência de recursos humanos na recolha de resíduos sólidos trouxe à luz do dia consequências mais alargadas da redução do número de funcionários autárquicos, imposta pela troika. Vítor Reis, do Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa, explica que há maior visibilidade desta situação nos serviços com um “impacto mais directo na vida das pessoas”, mas outros problemas têm passado despercebidos.

Nomeadamente, em serviços como o da brigada de calceteiros, onde os cerca de 20 funcionários “têm todos acima de 40 anos”, ou na jardinagem, que não é reforçada “desde os anos 90”, o que levou a que a autarquia “tenha deixado de prestar serviços em vários pontos da cidade por falta de pessoal”. Mas é nos jardins-de-infância da câmara que esta carência é mais sentida.

Vítor Reis fala numa “falta acentuada” de auxiliares de acção educativa, que tem vindo a agudizar-se a partir do Verão do último ano. Desde então, cerca de 40 funcionários da autarquia com contrato a termo certo foram terminando os vínculos. Para colmatar a situação, a câmara “colocou auxiliares de serviços gerais e administrativos nesses lugares, pessoas que não têm habilitação para lidar com crianças”, explica o sindicalista. A sobrecarga de trabalho e a incapacidade de se adaptarem a funções para as quais não têm qualificações levou a que, em alguns casos, os funcionários tenham recorrido ao sindicato dependentes de calmantes psiquiátricos “porque já não conseguiam aguentar”.

Além disso, estes funcionários estão em “permanente rotatividade, de quinzena a quinzena”, para compensar os casos de ausências inesperadas, por estarem a funcionar “nos mínimos dos mínimos”, refere o sindicalista.

O i tentou obter da Câmara de Lisboa esclarecimentos quanto a esta situação, mas até ao fecho da edição não conseguiu qualquer resposta

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