Proprietários querem transformar antigo cinema Odeon em recinto comercial
Arquitecto diz que os emblemáticos varandins "vão ser replicados"
Por Ana Henriques in Público
Velho espaço de cinema dará lugar a outras valências culturais, como exposições, livraria e loja de discos. Especialistas em património da Câmara de Lisboa condenam a reconversão
A reconversão do velho cinema Odeon em espaço comercial com valências culturais foi aprovada pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) e deverá ser também autorizada pela Câmara de Lisboa. Os técnicos da autarquia que analisaram o valor patrimonial do edifício construído em 1927 na Rua dos Condes discordam da decisão.
O plano de reconversão passa por demolir o interior do cinema, para nele instalar um restaurante/bar com uma pequena orquestra, uma sala de exposições, uma leiloeira de arte, uma enoteca, uma loja gourmet, uma livraria de primeiras edições e uma loja de discos especializada em música contemporânea. "As fachadas manter-se-ão rigorosamente idênticas ao que foram", explica o autor do projecto, Luís Pereira Coelho, do atelier 9H. Os emblemáticos varandins metálicos fechados e rendilhados, com vidros coloridos, "vão ser replicados", prossegue o arquitecto: "São impossíveis de recuperar, porque as lages que os seguram ao edifício estão partidas." A memória descritiva do projecto prevê a recuperação dos elementos interiores do edifício considerados mais marcantes: o tecto em madeira pau-brasil e o frontão art déco sobre a boca de cena, bem como as colunas que o sustentam. Duas das quatro caves serão para estacionamento.
O valor arquitectónico
"O edifício está fechado há 17 anos, por não ser viável do ponto de vista económico", diz Luís Pereira Coelho. "Tanto o presidente da câmara como o vereador do Urbanismo estão empenhados em que esta ruína seja transformada numa coisa utilizável." Foi já em meados de 2010 que o Igespar emitiu um parecer favorável, embora condicionado, sobre a reconversão do Odeon. "Face à impossibilidade da manutenção do interior do edifício, dado o seu avançado estado de degradação, consideramos que o resgatar para a cidade de pelo menos a sua imagem exterior e alguma da memória interior é já uma mais-valia a considerar", opinaram os técnicos do instituto. "A proposta de continuidade de um uso público e cultural para o imóvel é outro aspecto positivo a considerar."
Mas, em Agosto passado, os serviços camarários com competência para zelar pelo património - o Núcleo Residente da Estrutura Consultiva do Plano Director Municipal - emitiram um parecer contrário: "Verificada a recuperabilidade do edifício, confirmado o seu valor arquitectónico e tendo em atenção a importância que lhe é atribuível em termos culturais, considera-se que o programa de demolições não tem enquadramento no Plano de Urbanização da Av. da Liberdade." O projecto, notam, não garante "a preservação da identidade arquitectónica e construtiva do edifício".
"Felizmente não se trata de um parecer vinculativo", ressalva Luís Pereira Coelho, acrescentando que os entraves à reconversão serão ultrapassados com a entrega à câmara, pela sociedade proprietária do velho cinema, a Parisiana, de um relatório mostrando que a conservaçáo do edifício é técnica e economicamente inviável.
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