segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Parabéns.





Porque foi premiada esta igreja?
por MARINA MARQUES


"Quando aqui cheguei, há nove anos, a primeira coisa que fiz foi pedir à Protecção Civil para se certificar se seria seguro celebrar culto", lembra o cónego Armando Duarte, que amanhã recebe o Prémio Vilalva, atribuído pela Fundação Gulbenkian, "pela qualidade do trabalho realizado" no restauro da Igreja do Santíssimo Sacramento, "edifício de grande relevância artística", assinalou o júri.

Quando agora se entra nesta igreja é difícil imaginar o seu estado em 2002. Em pleno coração do Chiado, na Calçada do Sacramento, 14 anos depois do grande incêndio nesta zona da capital, o tecto estava completamente negro devido ao fumo e as inundações e infiltrações resultantes dos estragos feitos pelos bombeiros ao utilizarem o telhado da igreja para apagar o incêndio eram bem visíveis. Nos anos 90 o seu estado piorou por causa dos trabalhos de construção da estação de metro do Chiado e de um parque de estacionamento subterrâneo.

Armando Duarte lembrou os danos causados às duas empresas e em Julho de 2007 recebeu cerca de 180 mil euros do Metropolitano de Lisboa como indemnização pelos estragos causados a que se seguiu um donativo de cerca de 20 mil euros. "Foi com esses 200 mil euros que se iniciou o restauro", explica o cónego. E ao contrário do provérbio português, aqui os trabalhos começaram pelo telhado, seguindo-se a consolidação da estrutura do edifício e, por fim, o trabalho de restauro das pinturas dos tectos da nave principal e do altar-mor, das telas no altar-mor, do presbitério e dos seis janelões.

Esta última intervenção não fazia parte do plano inicial, "uma situação normal" em obras deste género, como explicam Carmen Almada e Luís Figueira, da empresa de restauro Junqueira'220. Durante os trabalhos de limpeza a equipa liderada por Marta Fernández apercebeu-se que por baixo da tinta que cobria os vãos dos janelões se encontravam outras pinturas. "Tivemos de utilizar um bisturi para ir retirando uma a uma as várias camadas de tinta até chegarmos aos frescos do século XVIII", destaca.

As pinturas dos tectos estavam tão degradadas a equipa de restauro começou por fixar tudo - pintura e sais que eclodiam em grandes áreas - e só depois fazer a limpeza. Seguiu-se o enchimento e por fim a reintegração cromática, ou seja, as áreas onde já não foi possível recuperar a pintura foram preenchidas com finas linhas verticais que à distância parecem refazer a pintura.


(in Diário de Notícias).

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