segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Não me obriguem a vir para a rua cantar.

Cantaram na rua em defesa de chalets históricos
Grupo de cidadãos quer travar degradação de velhos palácios, onde já viveram Spínola ou Luiz Pacheco
Luís Garcia
Um grupo de cidadãos manifestou-se ontem pela recuperação de duas vilas centenárias em Benfica (Lisboa), cantando, enfeitando o exterior dos edifícios e oferecendo presentes de Natal aos moradores. Mas a situação parece longe de estar resolvida.

Quem dava mais nas vistas eram os elementos da tuna da Universidade Intergeracional de Benfica que, de instrumentos em punho, cantavam a plenos pulmões em frente aos dois edifícios históricos que ocupam o n.º 674 da Estrada de Benfica.

Ao mesmo tempo, dois ou três membros do Movimento de Cidadãos pela preservação da Vila Ana e da Vila Ventura colocavam alguns enfeites natalícios na fachada de ambas as casas apalaçadas, que já acolheram inquilinos ilustres como general Spínola ou o escritor Luiz Pacheco. Do outro lado da rua, elementos do grupo distribuíam panfletos aos transeuntes, alertando para o estado de degradação do edifício.

João Pires, 43 anos, aceitou um panfleto mas não ficou surpreendido com a acção promovida pelo grupo. "Antigamente, pensava que as casas estavam abandonadas", explica, adiantando que só se inteirou da situação quando o grupo começou a desenvolver acções em defesa dos imóveis.

Morador em Benfica, João Pires concorda com os alertas lançados pelo movimento de cidadãos. "Realmente, são palácios dignos de se preservar e é triste que ninguém faça nada por isso. Infelizmente, edifícios antigos a cair é o que não falta em Lisboa", diz.

Construídos há mais de 100 anos por uma família portuguesa que fez fortuna no Brasil, os dois "chalets" gémeos são dois dos poucos exemplares que ainda resistem das casas apalaçadas e quintas que caracterizavam a zona de Benfica no século XIX.

Abrigo de toxicodepentes

Actualmente, os dois edifícios têm três inquilinos legais mas estão profundamente degradados, por dentro e por fora. Uma das casas, a Vila Ana, serve mesmo de abrigo a toxicodependentes e sem-abrigo.

Segundo Alexandra Carvalho, do Movimento de Cidadãos pela preservação da Vila Ana e da Vila Ventura, quando o grupo de cidadãos foi criado, a empresa proprietária dos dois imóveis tinha requerido à Câmara de Lisboa que eles fossem retirados do Inventário Municipal do Património, de modo a que pudessem ser demolidos para dar continuidade a uma urbanização existente nas traseiras dos edifícios.

Fazendo parte do inventário, as vilas só podem ser demolidas caso ameacem ruir, o que, de acordo com a Câmara, não é o caso.

Após várias acções de sensibilização desenvolvidas pelo movimento, que incluíram a entrega de uma petição com mais de 1500 assinaturas à autarquia, solicitando a preservação dos dois edifícios, a Câmara intimou o proprietário a fazer obras de restauro até 31 de Dezembro.

No entanto, não foi feita qualquer intervenção, prevendo-se, como penalização para o proprietário, um aumento de 30% no Imposto Municipal sobre Imóveis.

Entretanto, o movimento voltou à luta. "O nosso objectivo é que as vilas sejam recuperadas e que se preserve parte do património histórico que tem vindo a ser aniquilado ao longo dos anos", diz Alexandra Carvalho.

A vontade do proprietário continua a prevalecer, uma vez que a vereadora da Habitação, Helena Roseta, que tem acompanhado o processo, já disse que será "muito difícil" a autarquia avançar com obras coercivas, devido às restrições orçamentais.

(in Jornal de Notícias).

1 comentário:

Alexa disse...

AMEI o vosso título, Amigos do Lisboa SOS!
Muito obrigada pela divulgação da nossa Causa.
No "Retalhos de Bem-Fica" encontram uma actualização detalhada desta Acção.

Abraço