quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Uma nova vida.





Cirurgiões nos EUA removeram tumor de mais de cinco quilos a "homem sem rosto"
Por Andrea Cunha Freitas

A notícia foi dada na segunda-feira pela cadeia de televisão norte-americana ABC. José Mestre abandonou, nessa tarde, o Hospital de St. Joseph, em Chicago (EUA), após ter sido submetido a quatro cirurgias, duas para a remoção de um tumor com mais de cinco quilos que lhe cobria o rosto e outras duas para a reconstituição possível da face. A operação - bem como todos os custos associados (alojamento e viagens) - terá sido inteiramente suportada pelo Serviço Nacional de Saúde.
José Mestre regressará a Lisboa dentro de seis semanas (DR)

As imagens mostram José Mestre com a cara envolvida em ligaduras e de mão dada com a irmã, Edite Margarida Abreu. O "homem sem rosto" - como ficou conhecido após um documentário do canal Discovery sobre a sua história - que antes andava pelas ruas de Lisboa, na zona do Rossio, viajou há três meses para Chicago, onde deverá permanecer por mais seis semanas. Ramsen Azizi, um dos cirurgiões envolvidos na delicada operação, declarou à ABC que os resultados só poderão ser avaliados dentro de um ano. Porém, as imagens mostram já um considerável progresso. José Mestre ainda tem (e terá) o rosto visivelmente deformado - os especialistas são unânimes em considerar que era impossível remover o tumor totalmente - mas desapareceu a enorme massa tumoral que o cegou, o impedia de dormir e que lhe tornava o simples acto de respirar cada vez mais difícil. "É uma nova vida", afirma a irmã de José Mestre. Ele agradece a Edite todo o apoio e espera agora conseguir algo parecido com uma "vida normal".

"Do ponto de vista médico, o resultado é muito bom, sem qualquer dúvida. Era muito difícil ou impossível fazer melhor do que isto", comenta Vítor Fernandes, presidente do Colégio de Especialidade de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética da Ordem dos Médicos (OM), após assistir às imagens pós-cirurgia.

Antes de viajar para Chicago, José Mestre consultou a equipa de especialistas do Hospital Amadora-Sintra para avaliar a possibilidade de fazer esta operação em Portugal. O colégio de especialidade da OM também se pronunciou sobre o caso, acabando por concordar com a equipa do hospital português na decisão de referenciar o doente para a unidade especializada nos EUA. Um dos motivos que pesaram na decisão, alega Vítor Fernandes, foram as "altas expectativas" de José Mestre. "A confiança do doente é muito importante. A cirurgia era de altíssimo risco. E ainda que fôssemos capazes de o fazer aqui, mesmo com os mesmos resultados, a extraordinária vitória da medicina norte-americana seria sempre um extraordinário fracasso nosso. Por causa das expectativas, nunca iria ser um resultado satisfatório", argumenta.

Cláudio Correia, responsável da Direcção-Geral de Saúde (DGS), sublinha que a decisão de referenciar o doente baseou-se exclusivamente em "critérios clínicos". O mesmo responsável admite, no entanto, que o estado psicológico do doente pode ser importante numa decisão deste tipo. "Mas só referenciamos um doente quando não há capacidade de resposta no nosso SNS", conclui. "O que é importante aqui é que este senhor foi muitas vezes maltratado nas ruas de Lisboa, teve ajuda e está melhor. Aproveitámos esta janela de oportunidade", diz Cláudio Correia. Sobre os custos da operação, o responsável da DGS refere que ainda não recebeu "a factura", adiantando apenas que as estimativas para a cirurgia podem rondar os 60 mil euros.

Os responsáveis da DGS referem que ainda aguardam informações detalhadas sobre a cirurgia da equipa do hospital de Chicago, nomeadamente sobre o custo da operação. Por lá, a unidade hospitalar norte-americana já está a fazer apelos para quem quiser ajudar José Mestre e a sua família a superar dificuldades financeiras e já abriu uma conta bancária de apoio. Dentro de seis semanas, José Mestre estará de regresso a Lisboa.

(in Público).

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