sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Nobel da Paz para Liu Xiaobo. Entretanto, há umas semanas em Lisboa...

Há umas semanas atrás, no Festival TODOS, uma iniciativa da CML de que muito gostamos, o descuido da organização e dos programadores foi tal que estiveram em exibição e distribuição dezenas de exemplares de uma fantástica peça de propaganda do regime despótico que oprime o mais populoso Estado do planeta: "O Plano de Acção Nacional dos Direitos Humanos da China 2009-2010". O conteúdo da brochura era hilariante, quando não ofensivo para quem conhece minimamente a situação dos direitos humanos.
Damos aqui um excerto:
"Since the founding of the People's Republic of China in 1949, under the leadership of the Communist Party of China, the Chinese government, combining the universal principles of human rights and the concrete realities of China, has made unremitting efforts to promote and safeguard human rights. Hence, the fate of the Chinese people has changed fundamentally, and China has achieved historic development in its efforts to safeguard human rights. It is worth mentioning that, since the introduction of the reform and opening-up policy at the end of 1978, China has enshrined respect for and protection of human rights in its Constitution as a major principle of government, and has taken effective measures to promote the cause of human rights, while enhancing the material and cultural life of the Chinese people and providing firm guarantees for their political, economic, cultural and social rights. Thus, a new chapter has opened in the history of the development of the cause of human rights in China".

No meio dos livrinhos e brochuras, que procuravam simular o lado multicultural da cidade, nem havia um que viesse de fonte independente e que fizesse a crítica ou o diálogo com a propaganda oficial das embaixadas.
Será que a CML e os organizadores não podiam estar mais atentos?
Curiosamente, isto sucedeu na mesma altura em que António Costa e Manuel Salgado estiveram a viajar pelo "Império do Meio" a tentar cativar uns investimentozinhos.






Num próximo ano o LisboaSOS espera que a CML e os programadores do Festival TODOS nos facultem o "plano de acção nacional para a igualdade de género da Arábia Saudita 2011-2012", o "plano de acção nacional contra a homofobia do Paquistão 2011-2012", ou o "plano nacional para a tolerância religiosa da Nigéria 2011-2012". Estas e outras peças notáveis de semelhante teor revelariam o caminho certo para um mundo sempre melhor.
Mas agora segue-se o importante.

"Nobel da Paz para Liu Xiaobo

O Prémio Nobel da Paz foi entregue ao activista chinês Liu Xiaobo, que cumpre uma pena de 11 anos de prisão.
O dissidente chinês Liu Xiaobo, galardoado hoje com o prémio Nobel da Paz, está preso há quase dois anos, pela terceira vez, por actividades consideradas subversivas.
Antigo professor universitário e crítico literário, Liu Xiaobo, de 54 anos, foi condenado em Dezembro passado por um tribunal de Pequim a 11 anos de prisão, acusado de tentar "subverter o Governo".
Liu Xiaobo foi detido pela última vez em Dezembro de 2008, depois de ter promovido um abaixo-assinado a favor da introdução de reformas políticas na China, nomeadamente o fim do regime de partido único, a independência do poder judicial e a liberdade de associação, com a famosa "Carta 08".
Foi a sua terceira detenção desde a sangrenta repressão do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, em Junho de 1989.
"Liu Xiaobo foi distinguido pela sua luta longa e não violenta pelos direitos fundamentais da China", disse o Comité, ressalvando que "ponderou amplamente antes de tomar esta decisão que liga os direitos humanos à paz".
A nota emitida pelo Comité Nobel Norueguês refere ainda que há muito acredita existir uma ligação estreita entre os direitos humanos e a paz. "Nas últimas décadas, a China conseguiu avanços económicos inigualáveis na história. O país tem agora a segunda maior economia do mundo, centenas de milhões de pessoas foram arrancadas da pobreza. O alcance de uma participação politica também aumentou", de acordo com o texto.
"O novo estatuto da China deve implicar um aumento de responsabilidade. A China não está a cumprir vários acordos internacionais dos quais é signatária, bem como as suas próprias disposições relativamente aos direitos políticos", acrescenta.
"O artigo 35 da Constituição da China estipula que 'os cidadãos da República Popular da China gozam de liberdade de expressão, de imprensa, de associação, e de manifestação'. Na prática, estes direitos têm provado ser impedidos aos cidadãos da China", adianta.
Durante duas décadas, Liu Xiaobo foi um forte porta-voz a favor da aplicação dos direitos humanos na China", frisou, recordando a participação de Liu Xiaobo nos protestos de Tiananmen.
Liu participou também na elaboração de diversos manifestos de artistas e activistas a favor dos direitos humanos na China, actividade que lhe valeu 11 anos de prisão e dois de privação de direitos civis.
A candidatura do activista chinês tinha sido promovida pelo ex-presidente checo Vaclav Havel e também pelo Nobel Desmond Tutu, tornando-se desde logo como uma das favoritas. Esta situação motivou mesmo que o ministro dos Negócios estrangeiros chinês tenha alertado na altura que as relações bilaterais com a Noruega ficariam em perigo.
Veja aqui o vídeo com legendas em inglês onde Liu Xiaobo fala sobre a situação da China.




Agradecimentos ao DN/Lusa)

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