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Mas quando estava ali sentado, vi uma coisa que me ia deixando doido. Alguém tinha escrito na parede «Vai-te foder». Aquilo ia-me deixando doido. Pus-me a pensar que a Phoebe e os outros miuditos iam ver aquilo, e iam perguntar que raio queria dizer, e então um qualquer miúdo ordinário dizia-lhes - tudo baralhado, naturalmente - o que aquilo queria dizer, e eles iam andar uma data de dias a pensar naquilo e às tantas até preocupados. Fiquei com vontade de matar a pessoa que tinha escrito aquilo. Imaginei que tinha sido um vadio tarado que se tinha esgueirado para dentro da escola à noite para dar uma mija ou coisa assim e depois escreveu aquilo na parede. Fiquei a imaginar-me a apanhá-lo em flagrante e como havia de lhe partir a cabeça nas escadas de pedra até ele estar morto e mais que morto e cheio de sangue. Mas também sabia que não teria tomates para o fazer. Sabia que não. Isso deixou-me ainda mais deprimido.
(...)
Desci por outras escadas e vi outro «Vai-te foder» na parede. Tentei apagá-lo com a mão, mas este estava gravado, com um canivete ou coisa assim. Não saía. É inútil, de qualquer modo. Mesmo que tivéssemos um milhão de anos para o fazer, não conseguiríamos apagar metade dos «Vai-te foder» que escreveram no mundo todo. É impossível.
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J. D. Salinger, À Espera no Centeio [The Catcher in the Rye], Trad. portuguesa de José Lima, 2ª ed., Lisboa, Difel, 2010.
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