Lisboa (duas sugestões)
por MARIA DE LURDES VALE
Lisboa é uma cidade de sonho. Branca pela manhã, cor de salmão ao entardecer e luminosa de noite. De Inverno, tem uma névoa que a enobrece e, de Verão, um céu azul-pastel que lhe dá um tom impressionista. Depois, há o Tejo a abraçar o Atlântico. Que dizer da grandeza deste rio que atravessa Espanha quase clandestino e que vai alargando margens quando entra em Portugal e lhe cheira a mar? O Tejo em Lisboa é um cenário único. Lisboa podia ser uma exposição permanente, admirada por quem a visita e mais cuidada por quem nela vive. Cada um de nós deveria poder acrescentar mais uma pincelada de cor às colinas que a definem, sublinhar os bairros que a preenchem e fazer colagens com as janelas e portas das casas mais antigas.
De Lisboa oiço amigos de outras paragens dizer que tem tudo para ser a cidade mais bonita do mundo e com uma excelente qualidade de vida. Mas falta-lhe energia, gente nas ruas, comércio ao ar livre e modernidade. Parece que parou no tempo. No tempo errado. Pode ser que a culpa seja dos lisboetas que a trocam por outros sítios; pode ser que a existência de tantos centros comerciais e o declínio do comércio tradicional tenham contribuído para este isolamento; pode ser que a falta de verbas para renovar fachadas, arranjar jardins e praças também esteja na origem de um certo desleixo com que nos confrontamos no dia-a-dia; pode ser que exista falta de visão sobre o que está à vista de todos. Pode ser por tudo isto, mas Lisboa tem milhares de possibilidades para ser uma cidade atraente, cobiçada e vivida. Duas sugestões: o comércio deveria funcionar até mais tarde, o encerramento das lojas às 19.00 faz com que a cidade fique deserta e que a alternativa para as compras para quem sai do trabalho não seja outra que a dos centros comerciais.
Outro aspecto importante é o da reabilitação de espaços decadentes. Tomo como exemplo o Mercado de San Miguel, em Madrid, um velho edifício de ferro, construído em 1916, e que abriu as portas há dois anos totalmente renovado e com as tradicionais bancas transformadas em boutiques gastronómicas. É uma autêntica catedral dos sentidos e da degustação, situada junto da Plaza Mayor, aberta todos os dias das 10.00 até às 24.00 (quintas, sextas e sábados até às duas da manhã) e sempre a fervilhar de gente. É também um ponto de atracção para os turistas que sabem que naqueles três mil metros quadrados encontram uma selecção do melhor de toda a Espanha e também de alguns países vizinhos como Portugal, Itália, Áustria e França. É dos tais que vale a pena copiar. O Mercado da Ribeira, na 24 de Julho, poderia ser assim ou até melhor. Senhor presidente da câmara, pode tomar nota?
Sem comentários:
Enviar um comentário