segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Amoreiras: 25 anos.





O Shopping que mudou os hábitos dos lisboetas
Telma Roque
Houve excursões. Veio gente de todo o país e muitos lisboetas saltaram da cama já a pensar em ver de perto essa obra controversa, demasiado arrojada para a época e que estava a ser vendida como "uma cidade dentro da cidade", inaugurada faz hoje 25 anos.

“Ainda me lembro da polémica. Tudo aquilo parecia demasiado grande e exuberante. Ou se criava uma grande empatia com aquela arquitectura modernista, ou odiava-se”, diz Aurora Piedade, residente na zona das Amoreiras.

Aurora confessa que, a dada altura, se sentiu “chocada” à medida que as paredes cresciam, mas não nega que isso lhe aguçou a curiosidade. Como seria lá dentro? E assim foi uma entre as milhares de pessoas que circularam pelos corredores na abertura ao público, um dia após a cerimónia oficial, presidida pelo general Ramalho Eanes, que ocupava então o cargo de presidente da República. Hoje, se Aurora entrar no Shopping das Amoreiras, a obra mais emblemática do arquitecto Tomás Taveira, será recebida com champanhe e tapas, numa acção de charme da administração.

Inovador, a começar logo pela arquitectura, o Amoreiras foi o primeiro grande espaço de comércio e serviços, acabando por mudar hábitos. “As idas ao cinema vulgarizaram-se. Foi neste shopping que soube o que era um hamburguer, uma pizza e comida chinesa. Já podia comprar roupas parecidas com aquelas que via nos filmes e nas novelas”, revela Andreia Nunes, uma cliente.

Durante mais de uma década reinou sem concorrência. O Centro Colombo, ainda maior, retirou-lhe alguns clientes. Veio anos mais tarde, o Vasco da Gama e o El Corte Inglés, qualquer um deles com o metro à porta a “descarregar” milhares de clientes. O Amoreiras ajustou-se à nova realidade. Transformou o que seria uma desvantagem numa vantagem. “É este sossego, este ambiente quase familiar que me fideliza”, diz a cliente Susana Marques.

E engane-se quem pense que foram os outros centros entretanto inaugurados (entre os quais o Dolce Vita Tejo, na Amadora) que mais abalaram o shopping. A construção do túnel das

Amoreiras foi altamente prejudicial. “Evitem as Amoreiras” devido às obras foi um slogan mortífero.

No ano passado, a administração anunciou obras de remodelação, mas pouco mais fez do que substituir parte da cobertura. Nelson Leite, director-geral do Amoreiras optou por não dar explicações. Tomás Taveira, que, em 2009, fez saber que as travaria em tribunal, por terem sido entregues a outro arquitecto, também se remeteu ao silêncio.

(Jornal de Notícias).

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