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Casa onde Solnado começou obrigada a mudar de bairro
por CARLA BERNARDINO
Sociedade Guilherme Cossoul tem de abandonar as instalações históricas do Palácio dos Távoras.
Durante décadas, a Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul foi considerada o "Conservatório da Rua da Esperança". Foi ali, em Santos, que Raul Solnado deu os primeiros passos como actor e terminou a sua carreira como professor de teatro. Na data em que passa o primeiro aniversário da morte do humorista, esta associação com 125 anos vai ter de mudar para Campolide. É que o prédio onde está instalada pertence a privados, que pretendem rentabilizar este palácio que, segundo a Câmara de Lisboa, foi propriedade dos Condes de Aveiro, ou seja, os Távora.
A solução para evitar a erradicação total da Guilherme Cossoul ainda foi encontrada por Raul Solnado nos últimos anos de vida. "Ele sempre acompanhou o José Boavida [actor e presidente da colectividade] nas reuniões com a Câmara e batalhou muito para que a Guilherme Cossoul não saísse do palácio. Foi uma luta dele, porque foi lá que começou, mas agora há dificuldades", desabafa Joselita Alvarenga, ex-mulher do humorista que também trabalha no espaço. "Nós pedimos à Câmara de Lisboa a possibilidade de ficar, fazendo algumas obras, ou ficar noutro sítio perto. O presidente, António Costa, foi quem nos arranjou este novo espaço e o Raul ainda participou nas reuniões. Nós estávamos no olho da rua e poderíamos mesmo deixar de existir", recorda José Boavida. Raul Solnado ainda teve tempo de conhecer o novo local - a Escola Primária n.º 13, perto das Amoreiras - que considerou "interessante". 2010 é agora o ano limite para a despedida.
A iminência da saída da Sociedade Guilherme Cossoul do palácio já é uma história antiga, mas nada pode ser feito perante uma ordem de despejo, mediante a falta de pagamento de renda a proprietários privados. "É uma situação que se arrasta desde 2000 em que houve uma tentativa de despejo. Acabou por ser aumentada a renda para 350 contos mensais", começa por explicar ao DN o director municipal da Cultura, Francisco Mota Vargas. E segue: "Em 2006, a Câmara deixou de apoiar a Sociedade e eles deixaram de pagar a renda. Em Outubro de 2007 foram confrontados com a possibilidade de despejo e, no mês seguinte, a questão ficou resolvida com uma verba de 22 mil euros. No entanto, a situação com o senhorio não ficou clarificada e sofreram nova ordem de despejo em 2008."
O actual espaço foi encontrado em Fevereiro de 2009 e será lá que a associação tem morada garantida até 2018. Já a saída definitiva de Santos, está por meses. Porém, José Boavida avança: "Nós vamos ficando aqui enquanto pudermos e enquanto as obras em Campolide não estiverem todas concluídas."
É neste espaço que está albergada a escola de teatro Raul Solnado, criada pelo actor há quatro anos e que é dirigida por Joselita Alvarenga e pelo filho, Renato Solnado. "O José Boavida diz que podemos ficar lá até ao final do ano", adianta esta actriz.
Quanto ao futuro, a ex-mulher de Raul garante que a formação de actores vai continuar, só desconhece ainda o local. "É possível que nos mudemos para o novo espaço se houver lugar para nós. Se não, vamos procurar outro", diz, que também lamenta que a Sociedade Guilheme Cossoul termine o seu "reinado" na Avenida D. Carlos I.
Agora, o momento da saída é de tristeza. "Há o lado emocional, passaram por aqui tantos actores, encenadores, cenógrafos", enumera o presidente da colectividade. "Há uma grande nostalgia, são muitos anos e isto faz parte do coração da Madragoa. A Junta de Freguesia de Santos-o-Velho não queria que saíssemos daqui, mas não havendo outra solução, vamos continuar noutro sítio", declara o responsável.
Francisco Mota Vargas, director municipal da Cultura, defende: "O espaço anterior tem a memória, mas para a Câmara Municipal de Lisboa era importante dar as condições para que esta Sociedade pudesse dar continuidade ao seu trabalho e, hoje, é dado um apoio anual de 21 mil euros e fá-lo com a consciência de que é uma estrutura com uma mais-valia cultural em Lisboa que deve ser apoiada."
Manuel Cavaco, um dos actores que também começaram na Guilherme Cossoul, apelida todo este processo de "miserável". "Condói-me muito ver as coisas morrerem. É um sítio onde passei a minha infância até aos dez anos, foi lá que pisei pela primeira vez um palco, em que senti o que era o aplauso do público. Recordo-me do Raul Solnado, do Jacinto Ramos, do Varela Silva, do José Viana", desabafa o actor. Recentemente, Manuel Marques e Pepê Rapazote foram dois actores que deram os primeiros passos na representação neste palco.
por CARLA BERNARDINO
Sociedade Guilherme Cossoul tem de abandonar as instalações históricas do Palácio dos Távoras.
Durante décadas, a Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul foi considerada o "Conservatório da Rua da Esperança". Foi ali, em Santos, que Raul Solnado deu os primeiros passos como actor e terminou a sua carreira como professor de teatro. Na data em que passa o primeiro aniversário da morte do humorista, esta associação com 125 anos vai ter de mudar para Campolide. É que o prédio onde está instalada pertence a privados, que pretendem rentabilizar este palácio que, segundo a Câmara de Lisboa, foi propriedade dos Condes de Aveiro, ou seja, os Távora.
A solução para evitar a erradicação total da Guilherme Cossoul ainda foi encontrada por Raul Solnado nos últimos anos de vida. "Ele sempre acompanhou o José Boavida [actor e presidente da colectividade] nas reuniões com a Câmara e batalhou muito para que a Guilherme Cossoul não saísse do palácio. Foi uma luta dele, porque foi lá que começou, mas agora há dificuldades", desabafa Joselita Alvarenga, ex-mulher do humorista que também trabalha no espaço. "Nós pedimos à Câmara de Lisboa a possibilidade de ficar, fazendo algumas obras, ou ficar noutro sítio perto. O presidente, António Costa, foi quem nos arranjou este novo espaço e o Raul ainda participou nas reuniões. Nós estávamos no olho da rua e poderíamos mesmo deixar de existir", recorda José Boavida. Raul Solnado ainda teve tempo de conhecer o novo local - a Escola Primária n.º 13, perto das Amoreiras - que considerou "interessante". 2010 é agora o ano limite para a despedida.
A iminência da saída da Sociedade Guilherme Cossoul do palácio já é uma história antiga, mas nada pode ser feito perante uma ordem de despejo, mediante a falta de pagamento de renda a proprietários privados. "É uma situação que se arrasta desde 2000 em que houve uma tentativa de despejo. Acabou por ser aumentada a renda para 350 contos mensais", começa por explicar ao DN o director municipal da Cultura, Francisco Mota Vargas. E segue: "Em 2006, a Câmara deixou de apoiar a Sociedade e eles deixaram de pagar a renda. Em Outubro de 2007 foram confrontados com a possibilidade de despejo e, no mês seguinte, a questão ficou resolvida com uma verba de 22 mil euros. No entanto, a situação com o senhorio não ficou clarificada e sofreram nova ordem de despejo em 2008."
O actual espaço foi encontrado em Fevereiro de 2009 e será lá que a associação tem morada garantida até 2018. Já a saída definitiva de Santos, está por meses. Porém, José Boavida avança: "Nós vamos ficando aqui enquanto pudermos e enquanto as obras em Campolide não estiverem todas concluídas."
É neste espaço que está albergada a escola de teatro Raul Solnado, criada pelo actor há quatro anos e que é dirigida por Joselita Alvarenga e pelo filho, Renato Solnado. "O José Boavida diz que podemos ficar lá até ao final do ano", adianta esta actriz.
Quanto ao futuro, a ex-mulher de Raul garante que a formação de actores vai continuar, só desconhece ainda o local. "É possível que nos mudemos para o novo espaço se houver lugar para nós. Se não, vamos procurar outro", diz, que também lamenta que a Sociedade Guilheme Cossoul termine o seu "reinado" na Avenida D. Carlos I.
Agora, o momento da saída é de tristeza. "Há o lado emocional, passaram por aqui tantos actores, encenadores, cenógrafos", enumera o presidente da colectividade. "Há uma grande nostalgia, são muitos anos e isto faz parte do coração da Madragoa. A Junta de Freguesia de Santos-o-Velho não queria que saíssemos daqui, mas não havendo outra solução, vamos continuar noutro sítio", declara o responsável.
Francisco Mota Vargas, director municipal da Cultura, defende: "O espaço anterior tem a memória, mas para a Câmara Municipal de Lisboa era importante dar as condições para que esta Sociedade pudesse dar continuidade ao seu trabalho e, hoje, é dado um apoio anual de 21 mil euros e fá-lo com a consciência de que é uma estrutura com uma mais-valia cultural em Lisboa que deve ser apoiada."
Manuel Cavaco, um dos actores que também começaram na Guilherme Cossoul, apelida todo este processo de "miserável". "Condói-me muito ver as coisas morrerem. É um sítio onde passei a minha infância até aos dez anos, foi lá que pisei pela primeira vez um palco, em que senti o que era o aplauso do público. Recordo-me do Raul Solnado, do Jacinto Ramos, do Varela Silva, do José Viana", desabafa o actor. Recentemente, Manuel Marques e Pepê Rapazote foram dois actores que deram os primeiros passos na representação neste palco.
(in Diário de Notícias).
1 comentário:
Lamentável.
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