terça-feira, 13 de abril de 2010

Exposição "J. Laurent e Portugal - Fotografia do séc. XIX".






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J. Laurent (1816-1886)

Jean Bautiste Laurent et Minier nasceu em 1816, em Garchizy, uma aldeia francesa no departamento de Nièvre. Filho de Jean Laurent (1731-1818) e de Cláudia Minier, de quem se desconhece a idade, sabendo-se apenas que era bastante mais jovem do que o marido. A partir de 1843, estabelece-se em Madrid exercendo, até 1855, a profissão de cartonador, fabricante de papéis e caixas de luxo para guloseimas e outros usos. Especializa-se também como fabricante de papéis para encadernações.
Em 1856, abre um estúdio fotográfico na Rua de São Jerónimo, n.º 39, em Madrid, onde retrata personalidades de Espanha. Em 1857 começa a fotografar, em grande formato e estereoscopia, sobretudo vistas e panorâmicas de Madrid. A Companhia de Caminhos-de-ferro de Espanha (MZA) oferece à Rainha Isabel II de Espanha um álbum com fotografias que, em 1858, J. Laurent fez da construção do troço ferroviário Madrid / Alicante. Posteriormente, fotografou a construção de outras ferrovias, tais como: Madrid / Zaragoza, Tudela / Bilbao e Medina del Campo / Zamora. Foram os caminhos-de-ferro que permitiram a J. Laurent deslocar-se por toda a Península Ibérica com o seu equipamento: câmaras, tripés, placas em vidro, químicos, etc., e, ainda o seu carro laboratório, necessário para a sensibilização e revelação dos negativos em colódio húmido.
Foi, desde 1859, sócio da Sociedade Francesa de fotografia e em 1861 passa a designar-se como Fotógrafo de S. M. la Reina; no mesmo ano edita o seu “Catálogo de los retratos que se vendem en casa de J. Laurent”. Publica novos catálogos em 1863 e em 1866, neste ano com a edição em francês e tradução em alemão e inglês; também assim procede em 1867, 1868 e em 1872 e 1879, nestes dois últimos com fotografias feitas em Portugal.
Inventou (ou aperfeiçoou) o Papel Leptográfico, com José Martínez Sánchez (1808-1874), cuja patente registaram em 1866.
Em 1867, está presente na Exposição Universal de Paris, onde expõe fotografias das obras públicas de Espanha, uma encomenda de Lúcio del Valle, que Laurent executou com o seu sócio José Martínez Sánchez entre 1865 e 1867.
Tudo indica que os anos de 1869/70 sejam os da sua passagem por Portugal.
Em 1881 recebe a distinção honorífica de Cavaleiro da Ordem de Carlos III e entrega a exploração do seu estabelecimento fotográfico à sua enteada Melina Dosch e ao seu marido Alfonso Roswag.
Jean Laurent faleceu a 24 de Novembro de 1886. A lápide do seu túmulo, recentemente encontrada no cemitério da Almudena, em Madrid, veio esclarecer muitas das dúvidas que até então envolviam a vida do fotógrafo e a história da sua casa fotográfica. Depois da sua morte, Melina Dosch e Alfonso Roswag dão, com grande dificuldade, continuidade ao arquivo. Após a morte de Roswag em 1900, José Lacoste adquiriu o arquivo Laurent que em 1916 já era propriedade de Juana Roig. Posteriormente, passa para a família Ruiz Vernacci a quem o estado espanhol adquire todo o espólio em 1975.











J. Laurent e Portugal - Fotografia do século XIX

“J. Laurent e Portugal – Fotografia do século XIX” é uma exposição organizada pela APPh. - Associação Portuguesa de Photographia em parceria com a DGARQ - Direcção Geral de Arquivos/Torre do Tombo, integrando peças que pertencem a coleccionadores privados e a instituições oficiais.
A exposição procura divulgar o pleno dos trabalhos que J. Laurent fez em Portugal e tem como comissários Ângela Camila Castelo-Branco e Alexandre Ramires, sócios fundadores da APPh. e Carlos Teixidor curador dos espólios fotográficos de Laurent depositados no Instituto do Património Cultural de Espanha - IPCE, no arquivo fotográfico Ruiz Vernacci, Madrid.
J. Laurent (1816-1886), nasceu em França e manteve sempre a sua nacionalidade de origem, apesar de ter residido em Madrid durante 43 anos, cidade em que morreu. Jean, ou Juan, assinava J. Laurent.
Em 1856, abriu em Madrid, na Rua de São Jerónimo n.º 39, um estúdio fotográfico. Foi o começo de uma aventura que acabaria no maior levantamento fotográfico da Península Ibérica no século XIX.
As fotografias expostas são, na sua maioria impressas em papel albuminado, feitas a partir de negativos em vidro cujo processo de obtenção foi o colódio húmido.
A exposição apresenta-se uma parte dedicada aos monumentos e paisagens e às vistas estereoscópicas que Laurent efectuou em Portugal. Podemos ver também, os trabalhos que dizem respeito às séries A (pintura) e B (escultura) dedicadas às obras de arte que Laurent fotografou em Portugal e Espanha, em instituições e museus, especialmente na Academia Real de Lisboa, na Academia Real de Belas Artes de Lisboa, no Museu do Prado, em Madrid, ou no Museu de Belas Artes de Sevilha. Uma parte da exposição é dedicada ao retrato onde podemos ver os Reis D. Fernando II e D. Luís, o Príncipe D. Carlos e o Infante D. Afonso, fotografados em Portugal. Podem ser vistas também, fotografias da família real espanhola, bem como de outras figuras da política do país vizinho, como, por exemplo, a fotografia do Governo Provisório, constituído após a revolução de Setembro de 1868 – iniciada em Cádiz pelo General Prim -, além de algumas carte de visite com os membros do Primeiro Governo Provisório. Uma parte da exposição é dedicada a paisagens, vistas urbanas, arquitectura e obras públicas em Espanha e contém elementos biográficos do autor, numa síntese que contém os aspectos mais relevantes da sua obra.
















Estereoscópio de mesa, 1870. Colecção Vasconcelos e Sá


Máquinas e instrumentos fotográficos. Colecção Antonio Pedro Vicente/Centro Portugues de Fotografia


J. Laurent Galeria de retratos

No início da sua actividade em 1856, quando J. Laurent abriu o seu estúdio fotográfico na Rua de São Gerónimo, n.º 39, em Madrid, o retrato era a sua principal fonte de receita. No cabeçalho das facturas da Casa Laurent lia-se “J. Laurent / Reproducciones de todas clases y retratos todos los días excepto los festivos / además poseen retratos de la familia Real, así como la colección de los personajes más célebres de España.”.
Em 1861, edita o seu primeiro catálogo: o “Catálogo de los retratos que se venden en casa de J. Laurent” listando 180 títulos de personalidades, a começar pela Rainha Isabel II e seus familiares, e 78 reproduções de quadros do Museu do Prado. No mesmo ano, Laurent já ostentava nas suas fotografias as armas da família real espanhola e a legenda “Fotógrafo de S. M. la Reina”.
Quando Isabel II foi destronada em 1868, Laurent apaga do seu carro-laboratório todas as referências à monarquia e rasura em todos os cartões a designação de fotógrafo de S. M. a Rainha de Espanha. Fotografa, então, o Primeiro Governo Provisório e, individualmente, muitos dos seus membros.
No ano seguinte, Laurent viaja para Portugal, onde fotografa a família real de Bragança, os Reis D. Fernando II e D. Luís I, o Príncipe D. Carlos e o Infante D. Afonso.
Em 1866, J. Laurent e José Mártinez Sánchez (1808-1874) inventaram, ou mais provavelmente aperfeiçoaram, o processo de impressão em papel designado por leptográfico e constituíram a Leptografía Laurent. No mesmo ano patentearam o processo e divulgaram-no em França no Bulletin de la Société Française de Photographie. Nesse país foi constituída a Société Leptographique que produziu e comercializou este papel na Europa. O papel leptográfico era mais sensível que o papel albuminado e permitia a obtenção de brancos mais puros. Ao contrário do papel albuminado, este era comercializado já sensibilizado embora substancialmente mais caro.
O retrato foi a primeira actividade do fotógrafo e aquela que se nos revela menos conhecida.
Destaca-se nesta exposição um retrato do toureiro José Gordón, El Gordito, ca. 1865-68, em formato carte de visite: uma imagem fotográfica colorida a óleo, tirada em estúdio, apenas com um tapete, um fundo liso e uma cabeça de touro embalsamada, para lhe conferir realismo e, também, uma reprodução em tamanho natural (160x130 cm), da fotografia do Príncipe D. Carlos e do seu irmão o Infante D. Afonso, assinada J. Laurent, cujo original - que se deseja venha a ser restaurado - faz parte do acervo fotográfico do Palácio Nacional da Ajuda.


D. Fernando, 1869. Colecção Manuel Magalhães


D. Luis, 1869. Colecção João Clode


O Princípe D. Carlos e o Infante D. Afonso, 1869. Reprodução em tamanho real (160x130 cm.), da fotografia em papel leptográfico, assinada por Laurent quando esteve em Lisboa e cujo original se encontra no Museu do Palácio Nacional da Ajuda. Inv. F64334.




Dom Fernando de Saxe Coburgo Gotha (formato carte-de-visite) com o Código de Referência PT/AMLSB/AF/ORI/000249 Colecção Arquivo Fotográfico de Lisboa




Primeiro Governo Provisório espanhol, 1868. Colecção Centro Portugues de Fotografia.








Casa Pia actual Mosteiro dos Jerónimos. Colecçaõ Alexandre Ramires



J. Laurent Vistas e monumentos

O número das fotografias de paisagens e monumentos que Laurent fez de Portugal situa-se entre a Basílica da Estrela n.º 800 e a Torre do Aqueduto de Évora n.º 885 da série “C”. As obras de arte de pintura e escultura têm outra numeração dentro de outras séries: “A” para a pintura, “B” para a escultura e uma série “S” reservada às estereoscopias. Segundo Carlos Teixidor, Laurent terá feito cerca de 450 negativos em Portugal, correspondentes a cerca de 200 títulos diferentes.
Encontram-se actualmente em depósito em Madrid no Instituto do Património Cultural de Espanha, no arquivo fotográfico Ruiz Vernacci, 230 negativos de vidro em colódio sobre Portugal: 12 no excepcional formato panorâmico de 27x60 centímetros cada parte, 143 no formato 27x36 cm e as 75 placas restantes estereoscópicas em 13x18 centímetros.
As vistas e monumentos que Laurent fez em Portugal devem ser apreciados tendo em atenção a rede ferroviária dos caminhos-de-ferro então existente no nosso território, iniciada que foi em 1856 com o troço entre Lisboa e o Carregado. Dava, pois, os primeiros passos, quando em 1869 J. Laurent fotografou Portugal. O fotógrafo deslocava-se de comboio devido à quantidade de material necessário para a obtenção dos negativos em vidro de colódio húmido que tinham de ser sensibilizados e revelados no local onde se fotografava.
Laurent fotografou em Setúbal, cidade a que se chegava pela linha do Sado, aberta em 1861, num troço a partir do Pinhal Novo. Fotografou em Évora onde as locomotivas chegaram em 1863 pela linha do Sul, fazendo a ligação à fronteira espanhola pela Linha de Leste, no mesmo ano em que a rede ferroviária chegou a Badajoz e aguardava ligação a Madrid.
Em 1867, o governo autoriza a construção da linha do Douro, que só ficará concluída em 1887; em 1875, circulará o primeiro comboio a norte do Douro, enquanto a ligação ferroviária entre Lisboa e o Porto só foi possível em 1877, depois da construção da Ponte D. Maria Pia. De facto, em algumas localidades, não terá sido possível a J. Laurent chegar através da ferrovia; assim acontecia em Braga onde o comboio ainda não tinha chegado em 1869 ou em Sintra onde só chega em 1873. Mas tal não foi impedimento para que o fotógrafo se deslocasse a Braga e a Guimarães, nem tão pouco a Sintra e aos Palácios da Pena e de Monserrate, no alto da serra.
Segundo Carlos Teixidor, Évora pode ter sido a última cidade portuguesa a ser fotografada por Laurent; se tivermos em conta a numeração nos seus catálogos, verificamos que, imediatamente a seguir ao n.º 885, o Aqueduto de Évora, temos o n.º 886 que já corresponde à cidade de Cáceres.




Mosteiro de Alcobaça, 1869 Colecção António Barreto




Panorâmica do Porto, 1869. Colecção Manuel Magalhães




Estereoscopia da Torre de Belém onde se pode ver o carro-laboratório de J- Laurent.






Igreja da Estrela gravura segundo uma fotografia de J. Laurent





J. Laurent A fotografia de obras de arte.

J. Laurent fotografou inúmeras obras de arte: detalhes de arquitectura, mobiliário, escultura, armaria, ourivesaria, tapeçaria e pintura, no Museu do Prado, na Real Academia de Belas Artes de São Fernando, na Armería de Madrid, na Colecção de Lázaro Galdiano e no Museu de Belas Artes de Sevilha. Em Portugal, fotografou obras de ourivesaria, pintura e escultura, existentes em várias instituições e colecções particulares. No Palácio Real da Ajuda, fotografou objectos pessoais pertencentes a D. Luís, a D. Fernando e ao Marquês de Souza-Holstein; no então Palácio Real de Belém, fotografou o Coche de Gala do Rei D. João V.
Fotografou pintura e escultura na Academia Real de Belas-Artes de Lisboa e na Academia Real de Lisboa, hoje Academia de Ciências de Lisboa, onde se encontravam as obras do Museu Mainense do extinto Convento Nossa Senhora de Jesus. No catálogo de 1879 são referenciados trabalhos de artistas de grande importância como: Josefa Ayalla (Josefa d’Óbidos), F. Vieira de Matos (Vieira Lusitano), Amaro do Vale, Pedro Alexandrino e Domingos António de Sequeira. Fotografou, ainda, a Custódia de Belém e a Cruz de D. Sancho I e, na Biblioteca de Évora, um baixo-relevo em ardósia que representa uma contenda entre judeus e fariseus e o tríptico de Limoges atribuído a Nardon Pénicaud (1470-c.1543), e que terá pertencido a Francisco I, rei de França, e depois ao imperador Carlos V. Infelizmente, as albuminas de Laurent reproduzindo obras da pintura e escultura portuguesas são hoje muito raras.
Sousa Viterbo (1843-1910) dizia: “[...] é de urgente e inadiável necessidade, entrar com desassombro na elaboração do inventário dos objectos artísticos disseminados por todo o país[...]”. Lamentavelmente, no que diz respeito à fotografia como obra, a preocupação de Sousa Viterbo mantém-se actual, devendo notar-se que o trabalho de Laurent em Portugal revela-se da maior importância para a inventariação e divulgação qualificada da imagem do património que o próprio fotografou em Portugal. Algumas das fotografias feitas em Portugal foram passadas a gravura e publicadas em muitas revistas portuguesas e internacionais.




J. Laurent (Paris / Madrid) - Oeuvres d'Art. 221 [carimbo de tinta no v.º]. Calice em vermeil ) fin du XVI (à l[']academie royale de lisbonne [escrito a lápis no verso]. [Cat. Laurent, 1879, p. 184]. Colecção Nuno Borges de Araujo






J. Laurent (Madrid) - TERUEL.- 437.-Cabeza del antipapa, conocido por Benedicto XIII. Colecção Nuno Borges de Araujo


J. Laurent y C.ia (Madrid. / Es propriedad. Déposé) - LA CARTUJA. (BURGOS).-390.- Statue de Saint Bruno. [tem o carimbo seco de J. Lacoste (Madrid)] [Cat. Laurent, 1879, p. 4] Colecção Nuno Borges de Araujo






J. Laurent y C.ia (Madrid. / Es propriedad. Déposé.) - PALENCIA.-2010.-Vista general tomada desde el Santo Cristo de Oteros. Colecção Nuno Borges de Araujo.




J. Laurent (Madrid) - TOLEDO.-1.-Entrada de Toledo por el puente de Alcántara. [Cat. Laurent, 1879, p. 119]. Colecção Nuno Borges de Araujo





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Exposição organizada pela APPh. - Associação Portuguesa de Photographia em parceria com a DGARQ- Direcção Geral de Arquivos / Torre do Tombo. Patente ao público de 13 de Abril a 31 de Maio.
Agradecimentos a José António Silva/Torre do Tombo
pelas fotografias da inauguração da exposição.

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