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Depois de ter sido a segunda proposta mais votada no Orçamento Participativo de 2010, a criação de um centro cultural no antigo Cinema Europa, em Lisboa, está dependente da aquisição, pela autarquia, de um dos pisos, após a demolição e construção de um novo.
"Há largas dezenas de anos que aquele edifício se está a degradar e está vedado ao usufruto cultural do bairro", apontou, ao JN, Pedro Cegonho, presidente da Junta de Freguesia de Santo Condestável.
A histórica sala de cinema de Campo de Ourique já não exibe filmes desde 1981. Depois dessa data, chegou a funcionar como estúdio de televisão mas durante essa altura, frisou Pedro Cegonho, "não se pode dizer que o bairro pudesse usufruir do espaço". O Europa acabaria por fechar e entrar numa prolongada fase de abandono e degradação. Há cerca de cinco anos, um conjunto de cidadãos do bairro - o "SOS Cinema Europa" - uniu-se com o objectivo de salvar o espaço.
A luta deu frutos na semana passada: o projecto da criação de um centro cultural no antigo edifício foi a segunda proposta mais votada no Orçamento Participativo de 2010 da Câmara Municipal de Lisboa, tendo-lhe sido atribuída uma quantia de 690 mil euros para a sua concretização. "É o primeiro passo para que este espaço seja devolvido ao bairro", afirma, satisfeito, o presidente da Junta.
A questão é que o edifício é privado e a Câmara ainda terá que adquirir um dos pisos ao proprietário, depois deste reconstruir o imóvel. E aí reside, agora, a grande dúvida: quanto custará esse espaço à Câmara?
A CML não comenta nem avança, para já, com qualquer valor. O presidente da Junta de Santo Condestável afirma desconhecer os montantes dessa negociação (se é que já começou) e limita-se a dizer apenas que "a determinação do preço tem que ser conversada e a Câmara terá que ver se esse preço será possível face à conjuntura financeira e ao seu orçamento". Esclareça-se que os 690 mil euros do Orçamento Participativo não contemplam a aquisição do espaço, sendo apenas destinados para o projecto cultural, o que deverá ser feito após a compra.
José Albuquerque, um dos responsáveis pelo movimento de cidadãos "SOS Cinema Europa", confessou ao JN estar bastante confiante. "O presidente António Costa em momento algum disse não querer comprar o espaço", frisou.
Certo é que a CML só comprará o espaço depois do proprietário - a Sociedade Administrativa de Cinemas - fazer obras, as quais arrancarão já no próximo mês e implicarão a demolição do espaço.
O aviso da demolição já foi feito aos únicos inquilinos do edifício: uma família que há mais de três décadas paga a renda da Churrasqueira Xurrex, no número 28 da rua Francisco Metrass.
"Vamos ser corridos outra vez"
"Viemos de África corridos sem nada e agora vamos ser corridos outra vez", protestou, ao JN, Maria de Lurdes Moreira, responsável pela churrasqueira. Visivelmente emocionada, de lágrimas nos olhos, a gerente lembra que na churrasqueira trabalham seis pessoas. "Isto é o nosso ganha-pão e não tínhamos interesse algum em sair daqui". "Estamos aqui há 32 anos", prosseguiu, "e agora custa-me muito ter de sair".
(in «Jornal de Notícias»).
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