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CRIL põe em risco 'museu' informal de azulejos raros
A empresa Cortiço e Netos guarda, há três décadas, azulejos e revestimentos cerâmicos fruto da sua actividade comercial. Actualmente tem milhares de azulejos, alguns verdadeiras raridades. Com as obras da CRIL, a firma e a autarquia nunca chegaram a entendimento e o despejo compulsivo desalojou este espólio à força
Na Estrada Militar (Amadora), o número oito já não existe. Mas no chão ainda se encontram azulejos armazenados em paletes e dispostos em grupo ao ar livre, a lembrar que naquela zona se comercializam peças raras daquele material.
A demolição da Cortiço e Netos sedeada naquele local, onde decorrem os trabalhos para a construção do último troço da CRIL (Circular Regional Interna de Lisboa), aconteceu há cerca de cinco semanas originando prejuízos à empresa que tem como sócio-gerente um velho armazenista de azulejos portugueses, alguns datados de 1950.
Joaquim Cortiço, de 78 anos, armazena, cataloga e preserva produtos de revestimento cerâmico desde 1980. Actualmente tem milhares de azulejos com os mais diversos desenhos e louças sanitárias descontinuadas provenientes dos principais fabricantes e revendedores nacionais, muitos já não estão no mercado, como a Fábrica de Loiça de Sacavém.
Um stock que ao longo dos anos se transformou num património: a empresa reuniu aquele que pode ser considerado o maior espólio de azulejos industriais do País. No entanto, devido a uma acção de despejo (ver texto ao lado) para posterior demolição do edifício, o espólio encontra-se espalhado por cinco espaços.
Cerca de 30 anos a procurar azulejos antigos e, posteriormente, também a ser procurado por firmas que queriam vender os restos dos seus stocks e outras que iam fechar as portas, levaram a que Joaquim Cortiço ficasse conhecido como "o homem que compra tudo". Por isso, dizem: "Se não encontra vá ali atrás do Cemitério de Benfica que ele tem", conta Joaquim.
E na verdade, os clientes habituaram-se a procurar os azulejos mais raros na Estrada Militar, a fronteira entre os concelhos de Lisboa e Amadora. O tempo e as vozes que passam a palavra levaram o nome da firma a vários pontos do País tornando aquele espaço movimentado por pessoas vindas de norte a sul à procura de exemplares que não se encontram noutras superfícies comerciais. E da loja - onde "se não há de tudo, quase" - nem os clientes que não encontram o azulejo-chave para uma reparação saem "desiludidos". "Apesar de não descobrirem material para a casa deles encontram material igual aos que viram na casa das avós ou das mães."
As histórias que Joaquim conta são memórias de uma actividade que começou por acaso, mas que o tempo transformou num negócio de sucesso, agora ameaçado. "Normalmente vendemos à peça. Cada azulejo pode custar entre 1,25 e três euros, consoante as medidas. Temos azulejos que não vendemos durante 20 anos, mas não importa porque passado esse tempo alguém pode vir procurá-los", conta. O negócio da reutilização de azulejos e louças de casa de banho teve início na década de 80 quando procurava aquele material para uma construção própria. Simultaneamente edificou as instalações da Cortiço e Neto naqueles terrenos. E a par de um armazém e de uma casa, onde vivia, construiu uma vida.
Com o crescimento da cidade e o avançar da construção da CRIL, Joaquim Cortiço sabia que um dia teria de abandonar aqueles terrenos que não são seus, por isso, há seis anos adquiriu no concelho de Alenquer dezasseis pavilhões para onde já levou o espólio mais valioso. O que o armazenista não previa é que o desfecho não contemplasse uma solução para o espólio de uma "empresa que funciona há décadas na zona".
Demolido um dos principais armazéns da firma, na sequência das obras da CRIL, a esperança que o negócio de família não fique por aqui é agora a uma loja de apoio na Rua Latino Coelho, na Venda Nova. É naquela rua que esperam receber os clientes.
O objectivo será "construir um catálogo online e impresso com imagens de azulejos, que possa funcionar como amostra, que remeta para um armazém em Alenquer", diz Pedro Ferreira, um dos seis netos e sócios da empresa. Um processo complexo, pois o espólio está espalhado e a sua dimensão dificulta a catalogação, refere o designer industrial que tem dois painéis expostos no Museu do Azulejo. Este é também o caminho encontrado para impedir que a empresa que actualmente "tem uma facturação insignificante" não feche de vez.
A empresa Cortiço e Netos guarda, há três décadas, azulejos e revestimentos cerâmicos fruto da sua actividade comercial. Actualmente tem milhares de azulejos, alguns verdadeiras raridades. Com as obras da CRIL, a firma e a autarquia nunca chegaram a entendimento e o despejo compulsivo desalojou este espólio à força
Na Estrada Militar (Amadora), o número oito já não existe. Mas no chão ainda se encontram azulejos armazenados em paletes e dispostos em grupo ao ar livre, a lembrar que naquela zona se comercializam peças raras daquele material.
A demolição da Cortiço e Netos sedeada naquele local, onde decorrem os trabalhos para a construção do último troço da CRIL (Circular Regional Interna de Lisboa), aconteceu há cerca de cinco semanas originando prejuízos à empresa que tem como sócio-gerente um velho armazenista de azulejos portugueses, alguns datados de 1950.
Joaquim Cortiço, de 78 anos, armazena, cataloga e preserva produtos de revestimento cerâmico desde 1980. Actualmente tem milhares de azulejos com os mais diversos desenhos e louças sanitárias descontinuadas provenientes dos principais fabricantes e revendedores nacionais, muitos já não estão no mercado, como a Fábrica de Loiça de Sacavém.
Um stock que ao longo dos anos se transformou num património: a empresa reuniu aquele que pode ser considerado o maior espólio de azulejos industriais do País. No entanto, devido a uma acção de despejo (ver texto ao lado) para posterior demolição do edifício, o espólio encontra-se espalhado por cinco espaços.
Cerca de 30 anos a procurar azulejos antigos e, posteriormente, também a ser procurado por firmas que queriam vender os restos dos seus stocks e outras que iam fechar as portas, levaram a que Joaquim Cortiço ficasse conhecido como "o homem que compra tudo". Por isso, dizem: "Se não encontra vá ali atrás do Cemitério de Benfica que ele tem", conta Joaquim.
E na verdade, os clientes habituaram-se a procurar os azulejos mais raros na Estrada Militar, a fronteira entre os concelhos de Lisboa e Amadora. O tempo e as vozes que passam a palavra levaram o nome da firma a vários pontos do País tornando aquele espaço movimentado por pessoas vindas de norte a sul à procura de exemplares que não se encontram noutras superfícies comerciais. E da loja - onde "se não há de tudo, quase" - nem os clientes que não encontram o azulejo-chave para uma reparação saem "desiludidos". "Apesar de não descobrirem material para a casa deles encontram material igual aos que viram na casa das avós ou das mães."
As histórias que Joaquim conta são memórias de uma actividade que começou por acaso, mas que o tempo transformou num negócio de sucesso, agora ameaçado. "Normalmente vendemos à peça. Cada azulejo pode custar entre 1,25 e três euros, consoante as medidas. Temos azulejos que não vendemos durante 20 anos, mas não importa porque passado esse tempo alguém pode vir procurá-los", conta. O negócio da reutilização de azulejos e louças de casa de banho teve início na década de 80 quando procurava aquele material para uma construção própria. Simultaneamente edificou as instalações da Cortiço e Neto naqueles terrenos. E a par de um armazém e de uma casa, onde vivia, construiu uma vida.
Com o crescimento da cidade e o avançar da construção da CRIL, Joaquim Cortiço sabia que um dia teria de abandonar aqueles terrenos que não são seus, por isso, há seis anos adquiriu no concelho de Alenquer dezasseis pavilhões para onde já levou o espólio mais valioso. O que o armazenista não previa é que o desfecho não contemplasse uma solução para o espólio de uma "empresa que funciona há décadas na zona".
Demolido um dos principais armazéns da firma, na sequência das obras da CRIL, a esperança que o negócio de família não fique por aqui é agora a uma loja de apoio na Rua Latino Coelho, na Venda Nova. É naquela rua que esperam receber os clientes.
O objectivo será "construir um catálogo online e impresso com imagens de azulejos, que possa funcionar como amostra, que remeta para um armazém em Alenquer", diz Pedro Ferreira, um dos seis netos e sócios da empresa. Um processo complexo, pois o espólio está espalhado e a sua dimensão dificulta a catalogação, refere o designer industrial que tem dois painéis expostos no Museu do Azulejo. Este é também o caminho encontrado para impedir que a empresa que actualmente "tem uma facturação insignificante" não feche de vez.
(in «Diário de Notícias»).
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