terça-feira, 3 de novembro de 2009

Uma proposta de um leitor. A ler e meditar.

Caríssimos amigos, gostaria de ter a oportunidade de partilhar convosco este meu projecto.
Chamo-me Gastão Freire de Andrade de Brito e Silva.
Sou fotógrafo de publicidade e arquitectura, recentemente tenho-me dedicado a um projecto de fotografia que chamei “Ruin’Arte”. O projecto "Ruin'Arte", é uma forma de chamar a atenção para a degradação do património arquitectónico deste País à beira mar plantado, são pedaços de história perdidos, são almas penadas do nosso passado. Procuro desta forma denunciar e catalogar alguns exemplos dramáticos que testemunham a falta de carinho que os nossos governantes ao longo do tempo devotaram a estes edifícios. Não pretendo apenas focar as minhas atenções na arquitectura "erudita", a história não se centra apenas em edifícios nobres, há casas de pastoreio, fábricas, moinhos, chalets, quintas, unidades militares e outros tipos de"monumentos" que igualmente merecem a nossa atenção. Obviamente devo enfatizar casos mais graves como palácios, paços reais, castelos, mosteiros e conventos... Espero com este trabalho não ofender susceptibilidades porque a culpa já vem de várias gerações... não é um caso de política mas de falta de sensibilidade histórica, um comportamento que é apanágio da nossa nação e que pretendo reverter através desta iniciativa. Desde a data da nossa fundação que nunca houve a preocupação em preservar o nosso património, não só das classes governantes como dos simples proprietários, que nunca souberam valorizar a nossa herança histórica que marcou o percurso de uma nação, deixando ao abandono o testemunho longínquo das nossas glórias passadas. É uma lacuna social e histórica que nos persegue há muitas gerações e tem deitado a perder muitas das nossas jóias de arquiterctura. Porém todos os governantes através dos tempos tiveram o mérito de erguer novos edifícios, talvez com a esperança de perpetuar o seu nome ligando-se a obras faraónicas e megalómanas que foram muitas vezes responsáveis pela desgraça financeira deste País que tanto amamos. Casos recentes como o Museu dos Coches, o CCB, os estádios do Euro 2004, o futuro TGV e outras obras, que sonegam verbas incalculáveis e conduzem Portugal a uma ruína cada vez mais evidente, são prova de uma incompetência financeira e falta de sensibilidade social e histórica, tal como dar prioridade a projectos inócuos que nada de melhor nos trarão, além de um protagonismo momentâneo no plano internacional. Considero que o melhor “espelho” sociocultural de uma nação é indubitavelmente a qualidade da arquitectura, não só nos estilos e nos materiais, mas essencialmente no estado em que se encontra. Somos um País rico em bons exemplos arquitectónicos, com uma história e estilos próprios que marcaram uma identidade cultural em todo o mundo. É uma obrigação que deve ser assumida pelos nossos governantes - a preservação desse património - e evitar a todo o custo que sejam apagadas as memórias de um povo que tanto fez para preservar a sua independência. É com orgulho que falamos de Camões, mas a casa que habitou em Lisboa está quase em estado de ruína, Julio de Castilho foi o primeiro e maior olissipógrafo, mas a autarquia pagou-lhe com a ruína da sua humilde casa (património municipal)... já nem falo de ingratidão, mas como se poderá explicar às gerações futuras, porque é que e como é que, aconteceu este descalabro... e acontecerá enquanto não se tomarem providências, enquanto não houver uma atitude firme que regulamente as incontornáveis burocracias que envolvem uma propriedade, enquanto não houver vontade política e preocupação moral com o nosso património arquitectónico. A perda do património arquitectónico é IRREVERSÍVEL!!!! Nada o poderá substuituir e apenas sobreviverá nas nossas memórias. É urgente fazer algo pelo futuro de Portugal e pela sua riquíssima cultura para as próximas gerações não se envergonharem dos seus egrégios avós. Quando o regime talibã demoliu os Budas gigantes o mundo inteiro sentiu vergonha e indignação ... é exactamente como me sinto quando observo a passividade com que se destrói a nossa história. Existe alguma solução? Só a morte não a tem... enquanto não houver derrocadas de edifícios todos eles poderão ser reabilitados. Todas as leis são feitas para bem da nação e seria urgente legislar nesse sentido!
Depois de muito pensar, apenas na qualidade de cidadão e não de engenheiro, advogado, arquitecto, autarca, ministro, historiador, economista ou qualquer outra profissão que esteja intimamente ligada a este assunto que tanto nos transtorna, cheguei à conclusão que seria muito mais fácil e até bastante rentável para o Estado português pôr em prática um plano que em cerca de cinco anos acabaria com a nossa ruína... Aqui vos apresento:
1º- Travar a construção em pólos urbanos enquanto houver uma ruína; devemos reedificar os bairros históricos antes de construir novos: todas as empresas de construção teriam muito mais trabalho se se dedicassem a este tipo de obras, o que proporcionaria novos postos de trabalho, mais-valias camarárias, melhor ambiente urbano e finalmente a oportunidade a muitas famílias de não residirem na periferia.
2º- Nomear várias comissões compostas por arquitectos, engenheiros, historiadores, advogados, arqueólogos, um fotógrafo ;-) , etc... para decidirem a viabilização e interesse de determinados imóveis, evitar a todo o custo que se prolongue mais do que o tempo necessário para finalizar um relatório e imediatamente proceder à sua recuperação.
3º- Avaliar todos os imóveis que necessitem de uma intervenção, concedendo ao proprietário uma permilagem e ao empreiteiro outra no valor da obra em questão, caso seja necessário, como no caso das heranças dificeis proceder à sua expropriação no prazo máximo de um ano.
4º- Nunca alienar património histórico e sim conceder licenças de exploração por tempo determinado em função do investimento feito na sua recuperação, tal como conceder regalias fiscais a quem se dedicar a edificios que proporcionem cultura e postos de trabalho.
5º- Criar uma fundação ou instituto que distinga os melhores projectos e incentive a este tipo de acções. Seria necessário uma entidade reguladora que evitasse a vandalização continuada de certas “empreitadas” que desvirtuam os objectivos a que se propõem e que são atentados ao termo reedificação.
6º- A formação profissional dentro de todas as áreas envolvidas neste processo, o que uma vez mais iria criar postos de trabalho e garantir a qualidade das obras e do futuro das mesmas. Se houver competência nos processos e profissionais neles envolvidos, creio que em cerca de um ano toda a legislação estaria elaborada, dando cerca de dois anos para as fases de projecto e início de obras, normalmente qualquer obra se completa ao fim de outros dois anos, perfazendo cinco anos no total. Sem ser demasiado optimista creio ser possível atingir esta meta. Pondo em prática estas acções, daríamos emprego a muitos cidadãos que dele necessitam, tiraríamos ao Estado o “fardo” da responsabilidade da preservação do património, reabilitaríamos a arquitectura e cultura de um País, daríamos nova vida às cidades e meios urbanos, a oportunidade de viver com dignidade a muitas famílias que vivem em prédios degradados, traríamos mais turismo a Portugal, teríamos mais orgulho em nós próprios e seríamos certamente um povo melhor... Tudo isto sem esforços financeiros da parte do Estado, dando-lhe ao mesmo tempo a oportunidade de rentabilizar este património através da máquina fiscal... É um sonho que se pode tornar realidade...
Com LUZ
Gastão de Brito e Silva

http://www.luzviva.com/

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