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D. Carlos Azevedo
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«A construção de uma nova igreja, dedicada a S. Francisco Xavier, na zona do Restelo, com projecto do arquitecto Troufa Real, tem levantado polémica. O tema tem largo alcance e evidencia alguns elos fracos: a falta de critérios de quem encomenda; a aceitação de presentes perigosos, tais como projectos pagos por autarquias selectivas do Artista, a quem querem conceder uma oportunidade; ausência de frontalidade para corrigir e recusar soluções onerosas para as comunidades, seja do ponto de vista económico, seja do ponto de vista de identidade eclesial. Como não estou por dentro do projecto concreto e só vi a maqueta, lanço aqui alguns princípios teóricos para o debate.
Dou como firme que aquela zona da cidade precisa de um lugar para celebrar a sua fé e está cansada de esperar uma solução.
Para a liturgia ser expressiva, as comunidades cristãs utilizam uma componente visível, um espaço, um lugar, que deve atingir a beleza para estar mais conforme à realidade de Deus. Antecipar nas linhas arquitectónicas a beleza de Cristo presente na comunidade é a grande liturgia da construção. Os aspectos visíveis da liturgia, a distribuição dos elementos no espaço, a ornamentação iconográfica, elementos e utensílios usados são símbolo, emblema, imagem do mistério de Cristo. A estética cristã é trabalho de transfiguração, processo progressivo e doloroso.
O diálogo entre os agentes do rito e os criadores do espaço acertará no conjugar de interesses e posições que atinjam a beleza da forma e a verdade do Espírito. A orquestração do organismo pede ao arquitecto um conhecimento da hierarquia dos elementos que se requerem. O arquitecto que aceite projectar uma igreja está ao serviço da comunidade cristã.
Arte religiosa é o esforço inspirado de fazer cantar as paredes, de fazer do espaço da obra material um hino verdadeiro. Elevar a matéria sensível a significado espiritual é tarefa da arte na Igreja. A natureza do lugar torna-se espaço vital, regenerador, transformadora pela força do Espírito que inspirou os intervenientes da construção. É fundamental aliar qualidade formal e vibração de transcendência, intensidade e profundidade humanas. O que torna insossa e fria uma obra não é o seu apego à tradição ou o avanço de modernidade, o vanguardismo.
O valor litúrgico de um sinal não está na sua riqueza ou pauperismo, na faculdade de aguçar a curiosidade ou de provocar a emoção, mas no poder de fazer entrar os fiéis em comunhão com o Senhor. A conclusão é clara: a igreja que está a ser iniciada não serve bem os cânones de uma estética cristã.»
Dou como firme que aquela zona da cidade precisa de um lugar para celebrar a sua fé e está cansada de esperar uma solução.
Para a liturgia ser expressiva, as comunidades cristãs utilizam uma componente visível, um espaço, um lugar, que deve atingir a beleza para estar mais conforme à realidade de Deus. Antecipar nas linhas arquitectónicas a beleza de Cristo presente na comunidade é a grande liturgia da construção. Os aspectos visíveis da liturgia, a distribuição dos elementos no espaço, a ornamentação iconográfica, elementos e utensílios usados são símbolo, emblema, imagem do mistério de Cristo. A estética cristã é trabalho de transfiguração, processo progressivo e doloroso.
O diálogo entre os agentes do rito e os criadores do espaço acertará no conjugar de interesses e posições que atinjam a beleza da forma e a verdade do Espírito. A orquestração do organismo pede ao arquitecto um conhecimento da hierarquia dos elementos que se requerem. O arquitecto que aceite projectar uma igreja está ao serviço da comunidade cristã.
Arte religiosa é o esforço inspirado de fazer cantar as paredes, de fazer do espaço da obra material um hino verdadeiro. Elevar a matéria sensível a significado espiritual é tarefa da arte na Igreja. A natureza do lugar torna-se espaço vital, regenerador, transformadora pela força do Espírito que inspirou os intervenientes da construção. É fundamental aliar qualidade formal e vibração de transcendência, intensidade e profundidade humanas. O que torna insossa e fria uma obra não é o seu apego à tradição ou o avanço de modernidade, o vanguardismo.
O valor litúrgico de um sinal não está na sua riqueza ou pauperismo, na faculdade de aguçar a curiosidade ou de provocar a emoção, mas no poder de fazer entrar os fiéis em comunhão com o Senhor. A conclusão é clara: a igreja que está a ser iniciada não serve bem os cânones de uma estética cristã.»
(in «Correio da Manhã»).
1 comentário:
Cãnones da estética cristã...desculpe mas o que é isso...
Faz lembrar o tempo, em que o Patriarcado decidia, entre a modernidade da Igreja de Fatima , o o neo-gotico trapalhão da Igreja do Sto Condestável.
Os projectos de Igrejas, realizados pelo Le Corbusier,e pelo Siza, só para dar dois exemplos, tambem foram muito contestadas, e hoje já ninguem contesta o seu valor arquitectónico.
Não digo que seja o caso do Projecto de Troufa Real, mas parece-me que este debate está inquinado.
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