sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Pequenas maravilhas da urbe olissiponense: a Tabula de Aljustrel.


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Imagem in
http://e-geo.ineti.pt/MuseuGeologico/curiosidades/tabula_aljustrel.htm
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No Museu de Geologia (Rua da Academia das Ciências), a Tábua de Bronze de Aljustrel.
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Em Maio de 1876 foi achada nos escoriais da mina dos Algares, ao Sul de Aljustrel, uma tábula de bronze com duas inscrições. Tomou posse deste monumento a direcção da Companhia de Mineração Transtagana e mandou expô-lo ao estudo público numa sala da Comissão Geológica, instituída no pavimento superior do edifício da Academia Real das Ciências, convidando para este estudo as pessoas competentes, por um anúncio inserto no Jornal do Comércio de Lisboa.
Contém esta inscrição 53 linhas, divididas por epigrafes ou capítulos. No plano da chapa ocupa uma área de 0,60 m de altura sobre 0,34 m de largura: mas esta largura chega a 0,36 m, contando-se do alinhamento vertical das três primeiras letras capitais de cada epígrafe, abertas à margem. Os parágrafos são indicados por espaço em aberto, que com frequência interrompem as linhas.
Uma particular circunstância se observa nesta chapa, cuja significação logo à primeira vista se percebe. Na margem esquerda, em distância vertical de quarenta e quatro e meio centímetros e a oito do alinhamento do texto, há dois orifícios; acima da primeira linha há outro em altura de sete e meio centímetros, e a três centímetros abaixo da última há mais dois, separados pela curta distância de doze milímetros, variando o seu diâmetro desde um até um e meio centímetro. O da margem superior e o inferior da esquerda estão obstruídos por oxidadas cavilhas de ferro; o que sem dúvida alguma revela ter estado esta tábula pregada em lugar público porque assim se deve depreender da natureza do seu texto.
A disposição dos referidos orifícios deixa persuadir que na secção destacada e perdida em que devera estar gravada a conclusão de cada linha, haveria outros tantos simetricamente abertos, para assim se poder pagar com bem distribuída segurança um monumento, que, não obstante estar incompleto, pesa talvez uns trinta quilogramas.
Estão abertas estas inscrições em caracteres romanos do tipo rústico maiúsculo, como se vê, mui semelhantes aos das tábulas malacitana e salpensana.
Cotejadas as letras mais típicas com as dos alfabetos romanos antigos, e com as das referidas tábulas dos municípios e colónias da Espanha, já capituladas como pertencentes ao primeiro século do cristianismo, parece me poderem representar a mesma época.
As linhas, palavras e letras em cor azul, pertencem exclusivamente à inscrição número 2, começada pela palavra CENTESIMAE, e as com cor vermelha, à inscrição número 1 do lado oposto, começada pela palavra MAIOREM, sendo comuns ás duas as que vão em preto. Verifica-se que o assunto tratado é o mesmo dum lado e outro da tábula.
Cabia agora aqui a tradução da tábula de bronze de Aljustrel: mas fica reservada essa difícil tarefa para quem tiver competência para a desempenhar. Restringir-me-ei apenas a consubstanciar o sentido principal de cada epigrafe, a fim de melhor se examinar, se entre o texto da lei e as condições locais daquela região metalífera haverá alguma relação de conformidade, que permita a suposição de ter ali lido acção este fragmento do código jurídico do Vicus Vipascensis na época romana.
Já mostrei que a tábula descoberta nos escoriais da mina dos Algares é a terceira de uma série, cujo número não se pode hoje conhecer. Apesar porém de estar incompleto este código, que tantas revelações importantes poderia manifestar, se chegasse a ser descoberto, é sobremodo interessante a página que resta, como se vai ver.
São nove as epigrafes apuradas, em que está dividido o fragmento de Aljustrel.
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(extractos da comunicação de Estácio da Veiga, apresentada em 1880 à Real Academia das Ciências de Lisboa).
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