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Em Dezembro de 1945, no Bairro Social da Quinta Boavista, na Freguesia de Benfica, nasce um indivíduo do sexo masculino, a quem deram o nome de Raul Ferreira Pica Sinos.
Em Dezembro de 1945, no Bairro Social da Quinta Boavista, na Freguesia de Benfica, nasce um indivíduo do sexo masculino, a quem deram o nome de Raul Ferreira Pica Sinos.
Dois anos mais tarde, com o meu pai de nome Adriano, (funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, com a profissão Cantoneiro) e demais família (mãe, irmã e cunhado), passei a residir, no Bairro Social da Quinta das Furnas, na Freguesia de São Domingos de Benfica, situado entre o Parque Florestal de Monsanto e o Jardim Zoológico, numa casa tipo três, no nº 14, da Rua dos Plátanos, e aí permanecendo (salvo o intervalo de 2 anos na guerra colonial) até à idade de 23 anos, idade com que casei.
Então, a morar no Calhariz de Benfica, frequentemente voltava às origens para visitava minha mãe. E quando em Corroios/Seixal, passou a ser diária de manhã e à noite, tendo em conta que durante o dia, a Georgina cuidou da sua neta Sofia, na idade escolar, e até concluir a instrução primária obviamente no bairro.
Este meu bairro, inaugurado em Maio de 1946, responde com a sua edificação de cariz provisória ao programa no âmbito das “casas desmontáveis”, desenvolvido pelo município de Lisboa, na plena ascensão do Estado Novo.
Está associado à filosofia da Lei da Casas Económicas de 1933 e, é concluído no início da década de 1950, com 280 fogos alojando cerca de 1.500 pessoas. A construção deste e outros bairros de semblante social, visava responder, por um lado, à política do ditador Salazar, para com habitação operária, problema que se arrastava desde finais do séc. XIX, e acudir à mísera situação dos habitantes dos bairros de lata que proliferavam pela cidade.
Por outro lado, ao realojamento dos funcionários da edilidade que viviam em barracas e dos cidadãos despejados administrativamente por causa dos novos empreendimentos públicos. A construção das casas do meu Bairro das Furnas, foi feita, no exterior com chapas de lusalite, sendo no interior forradas por uma pequena espessura de tabique (gesso).
Os fogos eram de diversos tipos – T1, T2, T3 e T4 – procurando responder ao numero do aglomerado familiar. Havia luz eléctrica e água canalizada, casa de banho com lavatório, chuveiro e pia. Na sala da entrada, tinha junto um poial com “chaminé” a quem chamávamos de “cozinha”. A renda da minha casa – T3 - tinha um custo mensal de 110$00, incluindo os gastos com a água e a electricidade cujo horário era o da iluminação pública. Tinha pela frente um pequeno quintal, com duas árvores de frutos (um pessegueiro e uma macieira), também canteiros de flores que a minha mãe (D. Georgina dos Santos) cuidava primorosamente. Era extremamente injusta a fama de “reputação duvidosa”, que a população mal esclarecida de Lisboa catalogava os habitantes do meu bairro. As pessoas com quem eu cresci, eram humildes, honradas e trabalhadoras. Viviam com estremas dificuldades, a fome batia a muitas portas, mas o que era dos outros, não era seu. Paradigma disso, as peças de roupa do laboratório de análises clínicas que a minha mãe lavava e estendia no lavadouro e estendal comunitário, pois, podiam estar dias a fio a secar que nem uma peça faltava. Pobres certamente, mas as suas portas não estavam trancadas nem fechadas à chave. O respeito pelo próximo era muito.
(in http://raulpicasinos.blogspot.com )
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Fotos do livro “O Nosso Bairro” (Maria de Lurdes Pais Gomes), Editado pela Associação de Moradores Do Bairro das Furnas
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