sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Severa da Rua do Capelão.


Capa da revista Teatro, de Maio de 1925. Apresenta Palmira Bastos em «A Severa».

A Severa data de 1901, o que explica o entusiasmo do público, nessa época cativo do pitoresco trágico, uma das garras do romantismo. «Como se sabe, Dantas não fugia ao ardor sentimental de uma estória com sabor e cheiro a pecado e a drama, como a de Maria Severa Onofriana (Lisboa, 1820-1846), a que morreu na rua do Capelão à Mouraria, a rua do fado que Dina Teresa consagrou em A Severa, o nosso primeiro filme sonoro (1931), realizado por Leitão de Barros. (...) A peça A Severa (mais tarde adaptada a romance, à opereta e depois ao cinema, sendo nestes dois casos, ainda mais popularizada pela música de Frederico de Freitas, com uma melodia afadistada de grande aplauso) teve um êxito duradouro, aliás, como Dantas escreveu em Páginas de Memórias: "A peça converteu-se em novela, como, no andar do tempo, veio a converter-se em opereta, em filme, em zarzuela, em ópera, em bailado, em pintura, em escultura de arte, e até (com lamentável mau gosto!) em quadro de revista do ano, sem contar, bem entendido, as imitações, decalques, paródias e apropriações, melhor ou pior disfarçadas, de que o autor no decurso da sua vida literária tem sido vítima" (in Sociedade Portuguesa de Autores -Uma Casa de Memórias, de Vítor Wladimiro Ferreira).

Palmira Bastos em «A Severa», num desenho de Amarelhe.

Maria Severa Onofriana era filha de Severo Manuel e Ana Gertrudes, conhecida por “A Barbuda” pela barba que tinha na cara. A Severa era prostituta e cantava o fado numa taberna na Rua do Capelão. Morreu com 26 anos e, a partir de então, tornou-se uma referência maior do fado. Segundo o dramaturgo Júlio Dantas, terá tido um romance com o Conde de Vimioso, nobre da aristocracia tradicional portuguesa. A família não gostou de ver o nome do Conde envolvido, mesmo que apenas numa peça de teatro, perdido de amores por uma rameira. Um membro do governo da Coroa acabou por sugerir ao dramaturgo que fosse substituída a personagem pelo Conde de Marialva porque se tratava de um título já extinto.

Dina Teresa, capa de pauta musical do «Novo Fado da Severa», o primeiro filme sonoro português.

Dina Teresa, intérprete de «A Severa».


Cartaz do filme de Leitão de Barros «A Severa».

Amália Rodrigues e Paulo Renato na opereta «A Severa».


Agora, a severa realidade dos nossos dias...

A Mouraria, onde se situa a Rua do Capelão, é hoje refúgio de toxicodependentes que por ali deambulam sem qualquer tipo de apoio ou assistência social. O bairro, atulhado de lixo a qualquer hora do dia, é um dos mais tristemente esquecidos pela autarquia.


Largo da Severa, Mouraria.









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