domingo, 26 de outubro de 2008

Entrecampos é um mundo!



O majestoso edifício da Portugal Telecom em Entrecampos esmaga quem o observa.
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Símbolo de modernidade, os vidros espelhados reflectem a pujança de uma das maiores empresas nacionais. Cotada na Bolsa de Nova Iorque, seja lá isso o que for nos tempos que correm.
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Os fumos das crises vão e vêm, mas o edifício da PT permanece lá. Forte. Como um camponês antigo.

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Desculpem, este não é o edifício da PT. O nosso estagiário a recibos verdes, o Joca, colocou aqui uma imagem de várias antenas. Quis mostrar o individualismo dos Portugueses. Joca, não era agora esta cena, está bem?
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Do outro lado da linha férrea, ficam o edifício da PT e o não menos impressivo edifício das Águas de Portugal. O enquadramento não poderia ser melhor.
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A linha férrea, rasgando horizontes de futuro. Por Entrecampos adentro.
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Ooopps, um imóvel grafitado tira alguma coisa à paisagem. Mas isto é do lado de cá da linha.
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Do lado de lá da linha, como se vê, o grafito é mais sóbrio e contido. Contidas são também as pessoas que vivem aqui, na Rua Infante D. Pedro, paredes-meias com a grandiosa Portugal Telecom.
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A Portugal Telecom orgulha-se de também ostentar grafitos. Poderia, claro, gastar um pouco do seu orçamento para limpar a fachada de um edifício que custou milhões. Mas cada um sabe a imagem que quer ter. A Portugal Telecom prefere ter uma imagem própria. Esta.
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No terreno fronteiro, a Portugal Telecom também podia ter feito arranjos e, no mínimo, posto relva. Mas isso, claro, é com a Câmara Municipal.
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Já agora, a limpeza dos grafitos na fachada do edifício da PT também é responsabilidade da Câmara?
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Um relvadozinho aqui, Portugal Telecom, por favor. Vocês podiam dar uma ajuda. Chama-se a isso «responsabilidade corporativa». Lá fora, as empresas praticam muito disso.
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Pelo menos, ponham uns cinzeiros na entrada. Custa muito? Vão a uma loja de chineses. Mandem um mail para nós, que vos enviaremos uns cinzeiros para porem lá no vosso edifício.
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É que, com uma imponência destas, criam-se expectativas entre os cidadãos. A gente julga que a PT é uma grande empresa. Pelos vistos, nem têm dinheiro para comprar cinzeiros para as beatas dos cigarros dos vossos funcionários.
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Não há de ser a estes pacatos moradores na Rua Visconde de Seabra que vão pedir responsabilidades, pois não?
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A Junta de Freguesia de Alvalade já cumpriu a sua parte. Arranjou a fonte centenária. E ficou linda. Já vamos ver.
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Continuemos a apreciar o edifício. Aqui transmite-se a imagem certa: solidez, modernidade, eficiência.



Espelho de Portugal, a PT é um motivo de orgulho para todos nós.


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Os próprios graffiters gostam de se rever nas paredes da PT.
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Os cidadãos, ao passarem e lerem a palavra «Macaco» na parede, pensarão certamente: a PT vela por nós.
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A PT podia cuidar do relvado, mas, claro, continuamos todos a pensar que a nossa casa só começa para dentro da porta.
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O pior é quando os próprios trabalhadores da empresa vêm cá para fora da porta. Um cinzeiro, por amor de Deus, custava muito?
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Já agora, insistimos, um relvadinho... Então gastaram tanto no edifício e o resto à volta é para estar assim?
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Está marcado: no próximo sábado, 9, 9 e meia, eu e o meu primo Arnaldo Bava vamos aí tratar da relva.
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Atençãozinha que aqui até há uma passagem elevatória com mobilidade urbana. Já vamos ver.

E também há uma casa com imobilidade urbana. Também já vamos ver.

É disto que se alimenta o querer de um Povo, a vontade de uma Nação.

Falando em querer: não querem mesmo arranjar isto, pois não? Vá lá, não custa nada...

Fica mesmo à porta. Senhores administradores: pensem nisto como um «green» de golfe. Assim, talvez percebam. Ainda mostramos isto ao Sr. Dow Jones... Ele não vai gostar.


Umas árvores, por exemplo, também podiam ficar catitas por aqui. Os moradores pedem árvores.


Assim, o verde ficava a reflectir no aço e no vidro espelhado, bem moderno. Usa-se lá fora.



O acesso até já foi decorado pelos nossos artistas urbanos. E vocês, PT, nada?

A rapaziada do grafito já fez a parte que lhe competia. E vocês, PT?

Ou terá de ser este senhor que ainda vos vai ter de ir colocar a relva?



Bem, relva tem ele à porta. Relva e um terreno com serventia de estacionamento privado. Isto passa-se no centro de Lisboa, em 2008.


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Aquele telhado está mais velho do que o coiso do Restelo. O que safa o conjunto ainda é o respiradouro em prata. Belo periscópio. Deve ter custado uma fortuna.
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A figura humana que sobe dá bem ideia da dimensão do que aqui está em causa.
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Simplesmente isto. É isto que está em causa. A escala não engana. Esmagador.
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Isto também esmaga. É a criativa decoração do elevador para atravessamento da passagem de peões. Mobilidade urbana, óptimo. E moralidade urbana, não?
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Avassalador.
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Nos dois sentidos. Como os comboios. Avassalador para lá e avassalador para cá.
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Olhem, estamos em Entrecampos. Nome apropriado.


Agora já estamos Entre Copos.



Olhem este mundo...

E olhem este...
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Tudo, claro, com financiamentos da Europa. Ainda vamos ter que pedir à Europa uns cinzeirinhos para o pessoal da PT?
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O Tratado de Lisboa prevê a inclusão do grafito nas obras co-financiadas pela União Europeia?
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Esta porcaria toda sarapintada já está prevista no orçamento da obra? Ou foram «trabalhos a mais»? Queremos saber a verdade. Quanto custaram os grafitos? Têm visto do Tribunal de Contas?
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Ainda nem tiraram a placa da Europa mas já puseram as inscrições de Portugal.



O nacionalismo é um bonito sentimento. Europa paga, Portugal pinta.






A placa da obra ainda lá está, como se viu. Mas, nas escadas, há placas que acusam já algum cansaço.




Mas a vista justifica: Portugal Telecom, Fonte Centenária, Águas de Portugal.


Há imagens que não merecem comentários.
Até porque para cumentários temos um leitor atento, o Senhor Velho do Restelo. Boa noite, se nos está a ouvir. Tem passado bem, Sr. Velho do Restelo? Lá por casa, tudo rijo? Mulher e filhos, nos conformes?






Lisboetas: ide até Entrecampos. Os ares são magníficos, as vistas melhores ainda.


Daqui podereis contemplar como Lisboa sabe combinar o novo e o velho. Em harmoniosa convivência. Ao fundo, o moderno. Ao perto, o antigo. A ruinosa decadência.



O gradeamento, muito oportuno. A tentação do suicídio é, de facto, muito grande.


Atravessámos. Ainda não é desta que os repórteres Lisboa SOS se mandaram à linha. Mas já faltou mais.


Só para vir aqui, já valeu a pena.

O velho chafariz, em boa hora embelezado pela Junta de Freguesia. O reino do «kitsch».
Os graffiters, nas traseiras do chafariz, também deram o seu contributo. Obrigadinho.


Calma, que isto agora é outra música. É a Portugal Telecom.








E a sua magnífica zona envolvente. Obrigado, Dr. Henrique Granadeiro.
Obrigado, Dr. Zenal Bava.


O eterno problema do estacionamento. Saudades de outros tempos.



Os azulejos do chafariz são de um bom gosto surpreendente. São estas maravilhas escondidas que entendemos ser nossa função mostrar na blogosfera.

Entretanto, há milhares de azulejos roubados por toda a Lisboa. Estes, ninguém os rouba. Porque será?

Não podiam ter pintado, só? Assim de branco, nada mais. Depois, punham-se uns grafitos e ficava tudo mais compostinho.

Não, a Junta achou que havia que condizer com o edifício da PT. Ou foi a PT que achou que...

Com o que aqui gastaram nos azulejos naïf, que outras coisas se poderiam ter feito?

O conjunto é bonito, de facto. Mas gastou-se em excesso.


Olhai as lindas aguadeiras. Quem pintou isto é um artista. Quem encomendou, é um patrono das artes. Quem pagou? Ah, quem pagou foi você, caro leitor.

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As borboletas de Sá Nogueira a caírem, os azulejos da Infante Santo numa desgraça, mas este lavrador de outros tempos permanece de pé. No Beco do Belo, roubam azulejos do século XVIII. Em Entrecampos, coloca-se esta cena. De há muito que a nossa capital é gerida pelos Monty Python. Sabia?
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Eis um bom exemplo de como estragar uma fonte de 1851. E julgando-se que se estava a alindar, o que é ainda mais espantoso.



Ó lá, o que está atrás da fonte? Vamos ver? Calma, já vamos mostrar. Vale a pena.

Entretanto, deleite-se com esta exemplar recuperação do património histórico lisboeta.






A Rua Visconde de Seabra.



E, aqui temos, um amontoado de lixo à porta do edifício da Portugal Telecom.

A Portugal Telecom e...

... o vazadouro de lixo que está mesmo, mesmo à sua porta. Porreiro, pá. isto chama-se «marketing»?




Provavelmente, algum mobiliário que o Conselho de Administração julgou ser obsoleto.



Apreciai, senhores: é muito material disperso.


E tudo do bom: mesas, cadeiras, tábuas...

Pergunta a gente: como é possível isto estar aqui?


Senhor Vereador da Higiene Urbana, Dr. Marcos Perestrello, sabemos que tem a paixão do «tae-kwon-do». Mas, nos entretantos, não poderia dar aqui uma ajuda?
Na revista «Focus» nº 471, desta semana, Marcos Perestrello era qualificado como um «político promissor». Lá promessas, sim. Mas limpar esta porcaria toda, isso não é do pelouro da Higiene Urbana. Deve ser do pelouro do Espaço Público. Quem é o veredaor com esse pelouro? Não, não me digam que é o Drº Marcos Perestrello. Não, não brinquem comigo.




Vários cães protegem este espaço. Portugal Telecão.

Isto de andar em reportagem tem os seus riscos.
Olha, aqui vive uma pessoa. Até tem lá uma enxerga improvisada. Será funcionário da Portugal Telecom? Ou das Águas de Portugal? Um vereador no desemprego? Bem, vereador no desemprego não deve ser. As eleições são só para o ano.

O cão acalmou. Resignado e triste. Como todos nós, no fundo.

Tudo bem, canito? Acabrunhado?


Sentes o mesmo que nós, não é? Não percebes como é que isto pode acontecer em Entrecampos, frente à Portugal Telecom. Deixa estar: nós também não percebemos. Olha, canito, faz um blogue. Ladra. Nós também nos fartamos de ladrar.

À cautela, já fizeram um muro. Não fora assim, mais outros se meteriam aqui. O Conselho de Administração da PT, por exemplo, adoraria reunir nas traseiras deste chafariz de 1851.

Quem mandou fazer estes azulejos, merece sem dúvida o nosso aplauso. É prova que em Portugal o exclusivo do humor não pertence ao «Gato Fedorento».


Atravessemos a linha. Do lado de cá, vê-se melhor o edifício da PT.






E pronto...


Um bom contraste.








Há muitas lisboas dentro de Lisboa. De facto.









O urbano ultramoderno e o rural em derrocada cruzam-se para espanto e graça dos lisboetas.

A Rua Isidoro Viana, esquecida injustamente. Um autêntico espaço lúdico.
Estes fios, são dos telefones?

O grafito no seu lugar: atrás das grades.


As pessoas quando estacionam já nem se apercebem. Ou será que se apercebem?
Ao fundo, o Campo Pequeno. Mas a melhor tourada está cá fora.
Com acesso a sanitários e tudo.
E mesmo um belo sofá para que o Srº Vereador Marcos Perestrello possa descansar.
De facto, o rapaz tem muito trabalho. É Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa. No Partido Socialista, tem o pelouro da organização interna. Na CML, reparem bem, tem os pelouros: das Obras Municipais, do Desporto, dos Mercados, da Higiene Urbana, dos Espaços Públicos. Muita coisa? A isto acresce a «supervisão de uma série de empresas municipais», refere a revista «Focus». E representava o PS no programa «A Cadeira do Poder». Deve andar cansado. Já agora, à atenção da tão atenta ERC: quem detém responsabilidades executivas, como o Drº António Costa, poderá ser comentador político? «Perestrello não tenciona abdicar de dar um rumo auspicioso a uma carreira política, por enquanto, apenas promissora», termina o perfil biográfico feito nas páginas da revista «Focus». «Apenas promissora»? Um rapaz que é responsável pela Higiene Urbana e os Espaços Públicos e deixa estar este sofá vermelho na via pública não é uma promessa, é já uma certeza. A certeza de que marcos Perestrello deveria dedicar-se à pesca ao anzol ou à filatelia das ex-colónias. Não lhe arranjam um lugar em Bruxelas?







O que vereis a seguir são imagens muito bonitas. Atenção:


Pronto, lá tinham os tipos do Lisboa SOS vir mostrar grafitos. É um «fétiche» vosso, não?


Terminámos o nosso passeio. Em poucos metros, tanta coisa: relvados por relvar, beatas no chão, uma das maiores empresas portuguesas a tratar como lixo o local onde construiu um edifício de milhões, uma Junta de Freguesia que destruiu um chafariz centenário com azulejos de anedota, um armazém de tralha, dois cães, grafito muito grafito, uma passagem para peões completamente destruída mas ainda com as placas a anunciar a conclusão da obra, uma casa antiga em derrocada. Enfim, Entrecampos é bonito, mas muito cansativo. É a modos como que o «Hermitage» de São Petersburgo: tem coisas a mais para ver por metro quadrado. Esta reportagem é dedicada, com muito carinho, ao nosso mais querido leitor, o Srº «Velho do Restelo».

7 comentários:

Paulo Dias Figueiredo disse...

foi pena não ter cortado à direita a seguir à passagem pedonal, entrando na infante D. Pedro para conhecer os carros plantados em cima do que era até há pouco tempo relva descurada... e o barracão em decomposição acelerada do grupo Dramatico Ramiro Jose... e logo a seguir, entrando na Travessa Henrique Cardoso, uma ruína cheia de gente, à beira da linha de comboio, à espera de uma tragédia como a da Avenida da Liberdade. Sem esquecer os cócós de cão de que os legítimos donos se esquecem.
fica o convite

cumprimentos

Paulo Figueiredo

Cerrodoouro disse...

Mais uma bela reportagem, cheia de objectividade, sarcasmo e humor que os lisboetas devem agradecer.
Se há Medalha de Honra da cidade também deveria ser atribuída ao Lisboa SOS pelos contributos positivos que diariamente concede aos cidadãos e fregueses,não só em termos turísticos mas fundamentalmente quanto às preocupações urbanísticas.
Cumprimentos.
Carlos

M Isabel G disse...

"As borboletas de Sá Nogueira a caírem, os azulejos da Infante Santo numa desgraça, mas este lavrador de outros tempos permanece de pé. No Beco do Belo, roubam azulejos do século XVIII. Em Entrecampos, coloca-se esta cena. De há muito que a nossa capital é gerida pelos Monty Python. Sabia? "
:)
Parabéns pela reportagem. Não sei se chore se ria

O velho do Restelo disse...

É evidente que o agradecimento á dedicatória seguiu, por lapso, para o comentário deixado no post http://lisboasos.blogspot.com/2008/10/contrastes_26.html

O velho do Restelo disse...

Ao que me parece o terreno "Reservado" é de propriedade da REFER. Seja de quem fôr, é inqualificável o estado em que se encontra bem como a sua ocupação, tendo em conta a utilização dada ao espaço.

Unknown disse...

Sobre o descaminho de azulejos, e a sua comercialização, que tal visitar periodicamente este site americano, propriedade do ex-presidente da Associação Portuguesa de Antiquários.

http://www.solarantiquetiles.com/

Não obstante não duvidarmos da licitude desta actividade comercial que não nos compete pôr em dúvida, é pertinente a interrogação de quantas das exportações definitivas de pedras históricas e azulejos com mais de cem anos é que foram autorizadas pelo Ministério da Cultura ?

Marota disse...

Os azulejos da Fonte de Entrecampos, foram feitos pelo irmão do Senhor chefe "dador" de projectos na câmara de Lisboa. Não era artista, mas não faz mal. O dinheirinho foi certamente dividido entre eles. Certamente um balúrdio para uma desgraça destas. Só em Portugal e países corruptos acontencem coisas destas. Deviam ir era para a prisão, andam a gastar o dinheiro dos outros e a massacrar a paisagem de Lx. Outra aberração do género é a estátua na Praça de 25 de Abril em Lisboa. Mostrengo feio, grande só no tamanho e de péssima qualidade. Quando visito Lx, tento evitar passar por esta estrada, tenho tanta, tanta vergonha de passar por lá com amigos do estrangeiro. Este grande artista, devia era de devolver o dinheiro que recebeu para esta desgraça. Cumprimentos - Pimp my Portugal