domingo, 3 de março de 2013

Marés vivas e marés mortas





Eu estive lá, na manifestação de 2 de Março “Que se lixe a Troika”. Foram muitos os que se manifestaram: uma imensidão de gente sem cartazes, palavras de ordem, sem demagogia,  desorientados, avançando num silêncio que incomoda mais que os gritos, mais que as palavras. 




Várias marés. A maré dos organizadores de braço dado com a maré dos de sempre, dos “Zés Pereiras” deste país, dos idiotas de serviço,  daquela classe de gente que se recusa dar a mais pequena parte do seu vencimento para ajudar aqueles que menos têm. Onde estava essa gente toda nos anos gordos, que fizeram eles para que este país não continuasse com as reformas de miséria; com ordenados mínimos que não permitem a ninguém viver com dignidade. Onde estavam? Porque estão aqui hoje? Para a grande maioria dos portugueses a vida nunca foi muito diferente de agora.






Vi os que não encontram nem verbo nem ideias, até dos cultores das mais elaboradas sentenças poéticas

Vi jovens velhos e velhos jovens de mão dada.





Ali estava a onda dos oportunistas, que aproveitaram a maré jogando o boneco de povo.



Um jogo em que as cartas viciadas se confundem no mesmo baralho.


Vi a maré dos estrangeirados, que na prosa deixam cair a máscara. A violência e a incapacidade para jogar o jogo da democracia.







Vi a maré das corporações que jamais prescindem dos “seus” direitos adquiridos, mesmo que tal signifique a ausência total de direitos para os outros. 60 Euros por consulta, uma saltada à clínica, mais a negociata dos remédios; em suma, o baronato da medicina.











Vi a maré dos sem vergonha na cara. Num círculo de cavaqueira, calculei 20.000 Euros por mês...pagos pelo contribuinte, mais prémios literários, avenças e lugares cativos na imprensa cor-de-rosa. 




Vi os que não querem ver: os obnubilados, os cegos voluntários, os mitómanos.








Eu estive lá! Vi muita gente... Não vi um mar de gente, nem lhe senti as vagas. Muita burguesia - a classe média - brincando com os chapéus acachapados dos velhos de sempre.


Somos um país de mar sem marinheiros. No Cais das Colunas, aguardando o Dom Sebastião que trará o ouro e a mirra para uma nova era de abundância.

1 comentário:

Dalaiama disse...

Post interessante!
Algumas análises bastante coerentes. Mas também, na minha opinião, alguns erros de avaliação, filtrados talvez pelos óculos de uma certa amargura... partilho certas preocupações aqui expressas, mas enfim, o mundo não é perfeito, nem as pessoas o são, como coletivo somos todos um aglomerado de diferenças e contradições, mas a boa intenção existe, mesmo que imperfeita, mesmo que nunca à medida exata das aspirações de cada um.
Entre o caos e a ordem, entre os erros e os acertos, é preciso agir por algum lado. Melhor do que nada. Digo eu.
Seja como for, sem dúvida, neste post há reflexões e verdades que precisam de ser ditas.