Em 1932, Adão
Dantas decidiu abrir uma nova mercearia no número 94 da Rua da Bela Vista à
Lapa, em Lisboa. Na pequena assoalhada, a Mimosa fazia a usual oferta de maças
e pão fresco. O sobrinho, Manuel Dantas, manteve a tradicional ocupação mas,
com a vitalidade das mercearias a esmorecer, fechou o estabelecimento em 1996.
Foi apenas
preciso despertar alguma curiosidade em Carlos Costa, lojista do Bazar da Lapa,
para descobrir uma mercearia ao abandono. Na demanda restauradora, chamou os
amigos lisboetas Tiago Veloso e Gabriel Garcia para criar uma mercearia para o
século XXI, com bicicletas, quadros e vinho, entre outras iguarias.
“Não tirámos
nada, excepto uma fiambreira e fotocopiadora”, diz Tiago Veloso. A entrada da
Mimosa é um testemunho dos tempos, mantendo o característico armário de
madeira. As maçãs ainda são presença obrigatória, agora complementadas pelas
pastilhas Gorila, chouriços, doces e vinho. “Na loja queremos ter produtos de
qualidade, que não estejam acessíveis nos supermercados”, acrescenta. No
entanto, a peculiaridade não se restringe à mercearia, o antigo armazém
transformou-se num ponto para ciclistas e galeria de arte. “A única regra que
nos propusemos a cumprir é a venda exclusiva de produtos nacionais ou
lusófonos”, indica Tiago.
“A Mimosa resulta
de uma partilha de paixões comuns, a comida, a arte e as bicicletas”, diz
Gabriel Garcia. Além da venda de bicicletas e selins, a marca de roupa Rasto
serve de linha exclusiva aos ciclistas, podendo mesmo vestir-nos de nostalgia
com um boné e pala a condizer. “A nossa loja serve de pequena oficina
comunitária, com bombas de encher e remendos”, indica Tiago, que além de
lojista é adepto das bicicletas. O outro ciclista no activo é Gabriel Garcia,
que além da vida sobre rodas ainda se dedica às artes de pincel sobre a tela.
“Não queremos concorrer com galerias, apenas mostrar algum trabalho”, conta.
A oferta democrática e
dinâmica da Mimosa coincide com a reinvenção de alguns espaços em Lisboa. “Um
dos nossos objectivos é entrar no circuito dinâmico dos novos espaços”, revela
Gabriel. Entre decoração original e encontrada na rua, os primeiros dias de
abertura têm sido característicos pela clientela que reencontra a mercearias de
outros tempos mas muito diferente. No futuro esperam-se provas de degustação,
tertúlias e apresentações de novos projectos. Na saudável mistura do
tradicional com o peculiar, será possível vender mais alguma coisa?
“Também
vendemos charme”, dizem-nos.
(Texto in Jornal i)
Mimosa da Lapa
Rua da Bela Vista à Lapa,
92-96,
Lisboa
www.amimosadalapa.pt
Todos os dias 10h – 20h
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