sexta-feira, 6 de julho de 2012
Carmen / 6 e 7 de julho
Festival ao Largo 2012. Largo do Teatro de São Carlos sempre às 22:00. Programa
aqui
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A versão para teatro de «Carmen» nasceu praticamente ao mesmo tempo do que a rodagem do filme de Carlos Saura. O êxito do filme, que surpreendeu inclusivamente os próprios criadores do milagre, inspirou certamente Antonio Gadés para criar a versão para teatro, obra-prima da dança espanhola que acrescentou ao seu repertório, de que já se destacavam duas obras de enorme peso artístico, Bodas de Sangue e a Suite de Flamenco.
A estreia parisiense em 1983 obteve um enorme êxito de crítica e de público que colocou definitivamente Antonio Gadés na esfera dos bailarinos e coreógrafos mais importantes do mundo.
Os motivos que levaram Antonio Gadés a realizar este trabalho de criação encontram-se resumidos numa série de ideias que expôs em várias conferências de imprensa. Na sua opinião, Carmen não é uma mulher frívola nem uma devoradora de homens, mas sim uma mulher que quando ama diz que ama e quando não ama diz que não ama. Ou seja: é uma mulher livre. Não creio que seja, uma mulher «comehomens». Carmen tem um conceito de classe, não fazia dos seus sentimentos propriedade privada. Quando amava, dizia-o, e quando deixava de amar dizia-o também. Para além do mais, tinha um tal conceito de liberdade que preferiu morrer a perdê-la. Sempre a trataram de maneira frívola, e a apresentaram como uma devoradora de homens. Mas Carmen tem algo de essencial que é muito diferente de tudo isso: o seu conceito de classe e nobreza.
Quanto ao êxito obtido por todo o mundo com a versão para teatro, Gadés referia-se à crítica em França, que dizia que a «Carmen» levou-a Merimée a França, mas nós conseguimos devolvê-la a Espanha. «Carmen» foi quase sempre tratada de uma maneira bastante superficial e frívola e a «Carmen» é muito mais profunda do que isso. O genial dançarino não hesitava em afirmar que «Carmen» foi incompreendida à data de publicação da obra, em 1837, essa mulher escandalizou os puritanos e os que não viam que ela representava a verdadeira emancipação da mulher. Don José é um fugitivo, um burguês que sai do seu ambiente social e que não lhe será fiel. Vive com um conceito fincado do amor enquanto propriedade privada. Fiz a «Carmen» porque não me agradava essa imagem estereo-tipada que tem, sendo ela uma mulher que quando se ama se entrega sem reservas, que não abandona o seu meio mesmo que chegue a frequentar as mais altas esferas.
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