sexta-feira, 1 de junho de 2012

Lisboa, cidade aberta.






Megapiquenique

Couves e porcos no Terreiro do Paço indignam vereadores de Lisboa

Por Ana Henriques


A realização de um megapiquenique no Terreiro do Paço, no próximo dia 16 de Junho, promovido pelo Continente e abrilhantado pelo cantor Tony Carreira, levantou ontem um coro de protestos entre vereadores na reunião da Câmara de Lisboa - apesar de o município ser um dos parceiros da iniciativa.



A indignação não se ficou pelos autarcas da oposição: os Cidadãos Por Lisboa, de Helena Roseta, grupo que se associou aos socialistas no governo da cidade, também criticou a utilização de um espaço público emblemático como o Terreiro do Paço para fins comerciais.

"Não imagino os russos a permitirem uma exposição de chouriças junto ao mausoléu de Lenine", ironizou o vereador social-democrata João Navega, para quem a realização do evento naquele local constitui "uma ofensa à identidade nacional".

"Encher o Terreiro do Paço com couves, porcos, vacas e outros animais não é digno", considerou Victor Gonçalves, também do PSD. Para o comunista Ruben de Carvalho, o problema é outro. Comparando o mega-piquenique à promoção do Pingo Doce que levou milhares de pessoas a invadir os supermercados no Dia do Trabalhador, o autarca do PCP criticou o facto de a Câmara de Lisboa se associar a tamanha campanha de marketing, alugando para isso a Praça do Comércio ao Continente.

Ministra deve aparecer

Um ponto de vista idêntico manifestaram Fernando Nunes da Silva e Helena Roseta, dos Cidadãos por Lisboa. O primeiro recordou que desde 2007 que o grupo se bate pela restrição das operações publicitárias nas praças de Lisboa. Sem sucesso: nunca foram criadas regras nesta matéria. "Estando a decisão sobre o Terreiro do Paço tomada, importa agora evitar eventuais danos no pavimento, porque a praça não foi projectada para este tipo de utilização", ressalvou Nunes da Silva.

O facto de alguns vereadores terem ficado a saber do megapiquenique no Terreiro do Paço pelos anúncios na televisão fez aumentar o tom da críticas. Victor Gonçalves chamou mesmo leviano ao vereador José Sá Fernandes. Responsável pela gestão do espaço público, este autarca está a ultimar com o grupo Sonae (proprietário do PÚBLICO), a realização do evento. Sá Fernandes explicou que as finanças camarárias não permitem à autarquia promover uma iniciativa destas a suas expensas.

Também criticada por causa dos cortes de trânsito que envolveram os preparativos, a edição do ano passado do piquenique teve lugar na Av. da Liberdade e juntou cerca de meio milhão de pessoas, de acordo com a organização. Ao patrocínio de toda a iniciativa, concerto incluído, junta-se, segundo Sá Fernandes, uma comparticipação de 40 mil euros no restauro da estátua de D. José e uma verba idêntica distribuída por "várias acções na cidade" não especificadas - além da entrega de cinco toneladas de alimentos a instituições de solidariedade. O autarca diz que o megapiquenique servirá para promover a produção nacional, "mas também para dar a conhecer produtos e animais que muitas pessoas não conhecem".

No Terreiro do Paço estarão ainda presentes muitas casas regionais, as únicas com autorização para vender géneros alimentares. O evento poderá contar com a ministra da Agricultura, com gabinete na Praça do Comércio. "Não sei se a ideia foi dela, mas disse ao presidente da câmara que gostaria muito que isto acontecesse", contou Helena Roseta.

Os supermercados Continente não se quiseram ontem pronunciar sobre a polémica que o megapiquenique está a levantar. Uma semana antes do evento, a 9 de Junho, abrirão no Terreiro do Paço diversas esplanadas, que se juntarão às poucas que ali abriram há cerca de um ano.


Público

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