Pavilhão Carlos Lopes. Medalha de ouro na arquitectura e de lata no aproveitamento
Por Rui Miguel Tovar
Faltam 15 dias para a maratona de Los Angeles. Em Lisboa, o atleta Carlos Lopes treina-se. Ou talvez não... De repente, é varrido por um carro, perto do Estádio da Luz. O condutor é um tal Lobato Faria, comandante da TAP, ao volante de um Mercedes SL.
“Fui ao ar e fiquei lá por uns segundos. Depois caí, com força. Levei algum tempo a levantar-me com medo de pensar que já não ia a Los Angeles. Ergui-me e comecei a correr, mas o senhor que me atropelou insistiu em levar-me ao Hospital de Santa Maria. Lá, fiz radiografias à cabeça e à bacia. Os exames repetiram--se na Clínica de São Lucas. Estava bem, sentia-me bem e o sonho da medalha olímpica continuava bem presente.”
Uma semana depois, Carlos Lopes parte para Los Angeles, acompanhado por Miranda Calha e Mirandela da Costa, mas não fica hospedado na aldeia olímpica, nas instalações da famosa universidade UCLA. Tal como Rosa Mota, o sportinguista prefere o hotel da Nike. “A UCLA não oferecia as mínimas condições de treino, com as estradas à sua volta cheias de trânsito. A Nike deu-me hotel e todas as condições de treino.” Ao seu lado, Carl Lewis e Alberto Salazar, norte-americano de origem cubana que os ianques queriam fazer símbolo universal do american way of life.
Tudo preparado para a maratona? Sim. São 17 horas em Los Angeles (uma da manhã em Lisboa), quando a maioria da população finta Morfeu para ver uma proeza nacional até então nunca vista nos Jogos Olímpicos. Ao 38.o quilómetro, Carlos Lopes ataca, ganha 200 metros de avanço e nunca mais é incomodado. Nem pelo irlandês John Tracy, nem pelo inglês Charles Speeding, os últimos obstáculos ao ouro.
Já são 3h10 da manhã quando Carlos Lopes, número 723, corta a meta. Só 35 segundos depois, o segundo classificado (Tracy) dá o ar da sua graça. Instantes depois, toca o hino português. Pela primeira vez na história olímpica.
e agora? Já passam 15 dias da maratona de Los Angeles. Em Lisboa, o atleta Carlos Lopes treina-se. Ou talvez não... De repente, é alvo de mais uma homenagem. Está a ver aquele edifício majestoso entre o Parque Eduardo VII e a saída do metro Parque? Esse mesmo.
Idealizado pelos arquitectos Guilherme e Carlos Rebello de Andrade e Alfredo Assunção Santos, é construído no Brasil para a Grande Exposição Internacional do Rio de Janeiro, inaugurada a 21 de Maio de 1923. Mais tarde é reconstruído em Lisboa, com o nome de Palácio das Exposições. A Grande Exposição Industrial Portuguesa é o acontecimento ideal para a sua rentrée, a 3 de Outubro de 1932.
Adaptado para receber eventos musiciais e desportivos desde 1946, é palco do Mundial de hóquei em patins em 1947 (ganho por Portugal, sem uma derota sequer em seis jogos) mais uma infinidade dos afamados Jogos da Cidade de Lisboa (um batalhão de miúdos a subir e a descer a rua entre provas e mais provas), antes de mudar o nome para Pavilhão Carlos Lopes. Desconhecemos se o próprio Carlos Lopes ainda se passeia por lá mas desaconselha-se completamente. Seria varrido outra vez. Por um carro chamado desgosto XXL.
“Aquilo” está ao abandono. Continua a ser uma obra majestosa e grandiosa, com significado histórico, só que ao abandono. As ervas daninhas (calma, ainda não estamos a falar de políticas nem de políticos) circundam o edifício e até aventuram-se dentro dele. As pessoas passeiam--se alegremente pela Feira do Livro e depois deparam-se com “aquilo”. A bela e o monstro ao mesmo tempo.
Quem se assusta facilmente, pára à frente da porta principal e perde segundos, minutos a olhar para a infra-estrutura. Quem não se assusta facilmente, também pára à frente da porta principal e perde segundos, minutos a olhar para a infra-estrutura. É impossível ficar indiferente.
Encerrado desde 2003, é prometida a reabilitação do Pavilhão Carlos Lopes com o sonante Museu do Desporto mas a ideia perde-se entre as ervas daninhas (agora sim). Em 2008, por exemplo, a ideia é lançada pelo governo mas não sai do papel. Chega-se agora à conclusão de erguer um Museu/Casa do Património do Desporto no Palácio Foz, na Praça dos Restauradores, de acordo com o email de resposta de António Matos, assessor de Alexandre Mestre, secretário de Estado do Desporto e da Juventude. Da Câmara Municipal de Lisboa, ninguém atende telefonemas ou responde a mensagens para esclarecer. É o black-out. Um pouco à imagem do Carlos Lopes (o pavilhão), continuamente varrido da memória dos portugueses. O seu interior, claro. Porque o exterior é medalha de ouro na arquitectura e na localização.
ionline
“Fui ao ar e fiquei lá por uns segundos. Depois caí, com força. Levei algum tempo a levantar-me com medo de pensar que já não ia a Los Angeles. Ergui-me e comecei a correr, mas o senhor que me atropelou insistiu em levar-me ao Hospital de Santa Maria. Lá, fiz radiografias à cabeça e à bacia. Os exames repetiram--se na Clínica de São Lucas. Estava bem, sentia-me bem e o sonho da medalha olímpica continuava bem presente.”
Uma semana depois, Carlos Lopes parte para Los Angeles, acompanhado por Miranda Calha e Mirandela da Costa, mas não fica hospedado na aldeia olímpica, nas instalações da famosa universidade UCLA. Tal como Rosa Mota, o sportinguista prefere o hotel da Nike. “A UCLA não oferecia as mínimas condições de treino, com as estradas à sua volta cheias de trânsito. A Nike deu-me hotel e todas as condições de treino.” Ao seu lado, Carl Lewis e Alberto Salazar, norte-americano de origem cubana que os ianques queriam fazer símbolo universal do american way of life.
Tudo preparado para a maratona? Sim. São 17 horas em Los Angeles (uma da manhã em Lisboa), quando a maioria da população finta Morfeu para ver uma proeza nacional até então nunca vista nos Jogos Olímpicos. Ao 38.o quilómetro, Carlos Lopes ataca, ganha 200 metros de avanço e nunca mais é incomodado. Nem pelo irlandês John Tracy, nem pelo inglês Charles Speeding, os últimos obstáculos ao ouro.
Já são 3h10 da manhã quando Carlos Lopes, número 723, corta a meta. Só 35 segundos depois, o segundo classificado (Tracy) dá o ar da sua graça. Instantes depois, toca o hino português. Pela primeira vez na história olímpica.
e agora? Já passam 15 dias da maratona de Los Angeles. Em Lisboa, o atleta Carlos Lopes treina-se. Ou talvez não... De repente, é alvo de mais uma homenagem. Está a ver aquele edifício majestoso entre o Parque Eduardo VII e a saída do metro Parque? Esse mesmo.
Idealizado pelos arquitectos Guilherme e Carlos Rebello de Andrade e Alfredo Assunção Santos, é construído no Brasil para a Grande Exposição Internacional do Rio de Janeiro, inaugurada a 21 de Maio de 1923. Mais tarde é reconstruído em Lisboa, com o nome de Palácio das Exposições. A Grande Exposição Industrial Portuguesa é o acontecimento ideal para a sua rentrée, a 3 de Outubro de 1932.
Adaptado para receber eventos musiciais e desportivos desde 1946, é palco do Mundial de hóquei em patins em 1947 (ganho por Portugal, sem uma derota sequer em seis jogos) mais uma infinidade dos afamados Jogos da Cidade de Lisboa (um batalhão de miúdos a subir e a descer a rua entre provas e mais provas), antes de mudar o nome para Pavilhão Carlos Lopes. Desconhecemos se o próprio Carlos Lopes ainda se passeia por lá mas desaconselha-se completamente. Seria varrido outra vez. Por um carro chamado desgosto XXL.
“Aquilo” está ao abandono. Continua a ser uma obra majestosa e grandiosa, com significado histórico, só que ao abandono. As ervas daninhas (calma, ainda não estamos a falar de políticas nem de políticos) circundam o edifício e até aventuram-se dentro dele. As pessoas passeiam--se alegremente pela Feira do Livro e depois deparam-se com “aquilo”. A bela e o monstro ao mesmo tempo.
Quem se assusta facilmente, pára à frente da porta principal e perde segundos, minutos a olhar para a infra-estrutura. Quem não se assusta facilmente, também pára à frente da porta principal e perde segundos, minutos a olhar para a infra-estrutura. É impossível ficar indiferente.
Encerrado desde 2003, é prometida a reabilitação do Pavilhão Carlos Lopes com o sonante Museu do Desporto mas a ideia perde-se entre as ervas daninhas (agora sim). Em 2008, por exemplo, a ideia é lançada pelo governo mas não sai do papel. Chega-se agora à conclusão de erguer um Museu/Casa do Património do Desporto no Palácio Foz, na Praça dos Restauradores, de acordo com o email de resposta de António Matos, assessor de Alexandre Mestre, secretário de Estado do Desporto e da Juventude. Da Câmara Municipal de Lisboa, ninguém atende telefonemas ou responde a mensagens para esclarecer. É o black-out. Um pouco à imagem do Carlos Lopes (o pavilhão), continuamente varrido da memória dos portugueses. O seu interior, claro. Porque o exterior é medalha de ouro na arquitectura e na localização.
ionline
3 comentários:
Penso que há uma especialidade na destruição do que os turistas gostariam de visitar!
"outro perigo" também com a rampa dos antigos navios do cais do Sodré que, segundo dizem, irá ficar tapada, como se as pessoas que procuram Lisboa tivessem como objectivo visitar um parque de estacionamento.
Espero que os vossos artigos sobre o património em risco ajudem a chamar a atenção para a sua proteção, e para o facto que os portugueses se preocupam muito com o estado desse património, e que ficam muito felizes quando a cultura do país é preservada.
Boa Noite,
É deveras desolador como um espaço tão bonito no coração da cidade está neste estado de amabono e degradação.
Ainda ontem passei por lá, ao sair da Feira do Livro: é impossível ficar indiferente.
Deixo desde já aqui os meus parabéns, por terem chamado a atenção para este edifício.
Um Bem-haja,
Miffy
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