terça-feira, 29 de maio de 2012

Aloma!







Aloma. A pastelaria que renasceu graças aos pastéis de nata
Por Clara Silva


Depois do “Melhor Bolo de Chocolate do Mundo”, Campo de Ourique tornou-se local de peregrinação graças a outra iguaria: o pastel de nata da septuagenária pastelaria Aloma, que ganhou o prémio de melhor de Lisboa
“Desculpe lá, sabe dizer-nos onde é que fica aquela casa dos pastéis de nata?”, pergunta um casal numa carrinha branca. “Não somos de Lisboa e estamos perdidos.” Podíamos estar a dar indicações para os pastéis de Belém, mas não. Em pouco mais de um mês, Campo de Ourique tornou-se a Meca dos pastéis de nata e a Aloma, uma modesta pastelaria de bairro, viu-se invadida por uma multidão de gulosos, inclusive turistas japoneses e russos.

“Tem sido uma febre”, confessa João Castanheira, gerente da casa desde 2009. “Logo no dia seguinte a vencermos o prémio [de Melhor Pastel de Nata, promovido em Abril pelo evento gastronómico Peixe em Lisboa], havia filas que chegavam à esquina.” A popularidade mantém-se e não há um fim de tarde em que restem pastéis de nata na vitrina. “No outro dia, um senhor chegou aqui às seis da tarde e pediu um pastel. Já não tínhamos”, conta João. “Então virou-se para nós e disse-nos que queria oito dúzias para o dia seguinte, às oito da manhã.”

As grandes encomendas tornaram-se comuns, principalmente para restaurantes de luxo que já servem o pastel de nata como sobremesa. A melhor altura para apanhar pastéis é durante a manhã. “Embora eles estejam a sair a qualquer hora do dia”, acrescenta João.

A pastelaria, que vai cumprir o seu 70.º aniversário no ano que vem, tem desde sempre fabrico próprio, num espaço apertado por detrás do balcão. É aí que três empregados de bata e barrete branco tiram do forno tabuleiros de 45 pastéis de nata a ferver. Há uma hora estavam em directo num programa da manhã com Serenela Andrade. É o que dá a fama. “Mas depois do prémio, o fabrico não se alterou”, garante João. “Continuamos a ter a mesma qualidade e o mesmo processo artesanal. Aliás, não vamos abdicar dessa qualidade para vender em massa.”

É por isso que, se chegar à Aloma ao fim da tarde, principalmente aos fins-de--semana, pode só encontrar migalhas no balcão. “Muitos clientes não percebem porque não fazemos mais”, diz João. “Acusam-nos de não ter visão de negócio. Mas tento explicar-lhes que há um limite de fabrico por dia para podermos manter a qualidade.”

Ainda assim, João está a pensar na expansão do negócio para outros bairros de Lisboa, para que ninguém fique sem pastéis. O negócio poderá seguir as pisadas do “Melhor Bolo de Chocolate do Mundo”, a loja no mesmo bairro que já chegou à Austrália. “Vamos ver”, diz João.

O que é certo é que o prémio, que já existe há quatro anos consecutivos, deu uma nova vida à pastelaria.

“Até há cinco anos, só tínhamos café de saco”, conta João. Aliás, há clientes que ainda o pedem. A decoração também se manteve inalterada desde o dia da inauguração, a 24 de Dezembro de 1943. Só há pouco tempo ganhou uma nova pintura, um ar mais rejuvenescido e seis mesas.

“Já cá veio a dona Otília?”, pergunta de uma mesa uma senhora que em pouco tempo percebemos chamar-se Fernanda e ter sido actriz antes de se reformar. “Não sei quem é a dona Otília, dona Fernanda”, responde-lhe um empregado. Um deles, o Jorge, já apanhou três gerações de clientes e sabe de cor o nome de muitos habitantes de Campo de Ourique. “Uma senhora aqui do bairro ficou até de me trazer uma caixa antiga da pastelaria onde costuma guardar o presépio”, diz João, que também ali mora e por isso se interessou por pegar no negócio. “Há clientes que já vêm aqui há muito, muito tempo.”

Alguns deles até desde o tempo da fundação. A história da pastelaria já anda esquecida, mas João tenta recuperá-la: “Dois empregados vieram de outra pastelaria e decidiram abrir um negócio só deles em Campo de Ourique. É a segunda pastelaria mais antiga do bairro e uma das mais antigas de Lisboa”, conta. O nome vem de um dos filmes em exibição em 1943, ano da abertura, no cinema Europa, mesmo em frente – onde agora começa a erguer-se um condomínio de luxo. “Nessa altura estreava ‘The Aloma Of The South Seas’, ‘Aloma’ em português, em que Dorothy Lamour fazia o papel de Aloma. Daí o nome.”

Mas nem só de pastéis de nata vive a Aloma. A pastelaria também é conhecida pelas merendinhas, pelas bolas de berlim – “que depois de uma dentada parece que voltam a encher, como se tivessem um pulmão que respirasse”, fantasia João –, e pelo bolo-rei, uma loucura no Natal.

Aloma. Rua Francisco Metrass, 67. De terça a domingo, das 8h00 às 19h00. 213 963 797


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1 comentário:

Jibóia Cega disse...

Será mais um Careca? Aepnas e só Marketing puro?