quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Pessoa é de Lisboa.




Fernando Pessoa, a arca perdida e outras relíquias
Por Clara Silva
“Fernando Pessoa: Plural Como o Universo”, a maior exposição sobre o poeta português, inaugura amanhã na Fundação Calouste Gulbenkian com escritos inéditos

O paradeiro da arca onde Fernando Pessoa costumava guardar os seus livros, cartas e poemas era desconhecido até há bem pouco tempo. Desde 2008, altura em que foi arrematada num leilão por 50 mil euros, nunca mais ninguém lhe pôs os olhos em cima. Excepto o coleccionador privado que a comprou, claro. O leilão chocou muitos especialistas da obra do poeta português, que defendiam que o Estado a devia ter comprado para a expor ao público. Já podem suspirar de alívio.

A partir de amanhã, a arca estará à vista de toda a gente na exposição “Fernando Pessoa: Plural Como o Universo” na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, até 30 de Abril. A mostra é a maior já realizada sobre o poeta e, além de poemas, quadros e fotografias, tem escritos inéditos – e a arca, lá está. A relíquia foi conseguida através de intermediários que contactaram o coleccionador que a cedeu para a exposição. Richard Zenith, um dos curadores, confessa que nem sabe quem ele é.

A exposição resulta de uma colaboração entre a Fundação Gulbenkian, a Fundação Roberto Marinho e o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo e já tinha estado no Brasil em 2010. “Foi no Museu da Língua Portuguesa de São Paulo que surgiu a ideia de fazer uma exposição sobre um autor português”, conta o poeta brasileiro Carlos Felipe Moisés, outro dos curadores. “Eu disse logo: Fernando Pessoa. É um poeta português sem sotaque e é muito popular no Brasil.”

De São Paulo, a exposição seguiu para o Rio de Janeiro onde também foi um sucesso em 2011. Ao todo foram 400 mil visitantes a ler os poemas de Pessoa.

Na sede da Gulbenkian, também há poemas por toda a parte e painéis interactivos que até mudam de som consoante os heterónimos. Por exemplo, quando nos aproximamos do ecrã de Alberto Caeiro começamos a ouvir o chilrear de pássaros. “É a Primavera”, comenta alguém.

A melhor parte da exposição são mesmo as peças que não estiveram no Brasil. Como é o caso do retrato de Almada Negreiros, que pertence ao Centro de Arte Moderna, ou os originais que agora são propriedade de coleccionadores privados ou da Biblioteca Nacional. Entre eles está uma lista com crises, escrita em 1913. “É curioso porque agora se fala muito em crise. Em 1913, Pessoa já fazia uma lista de crises”, diz Richard Zenith. Há a crise religiosa, a crise filosófica, a crise da política interna... As listas não se ficam por aqui. Existe também uma com dívidas num pequeno caderno. “Sim, ele tinha muitas dívidas”, diz Richard.

Numa vitrina estão vários cadernos, desde o mais antigo, de 1901, ao último que teve, onde escreveu o último poema antes de morrer, em 1935.

A exposição, com entradas a quatro euros, tem também um jornal que Pessoa inventou aos 14 anos com artigos fictícios, charadas e o primeiro poema em português, “bastante humorístico”, afirma Richard. “Já nessa altura inventava nomes.”

ionline

1 comentário:

APEEGIL disse...

Boa noite, somos a Associação de Pais do Agrupamento de Escolas Gil Vicente, da zona da Graça. Vimos pedir que ajudem a divulgar esta situação:

http://apeegilvicente.blogspot.com/2012/02/e-isto-uma-escola-no-centro-de-lisboa.html

Obrigado e cumprimentos!