A morte lenta de Lisboa
Por Eduardo Oliveira Silva,
A renovação urbana é um mito. O que se fez foi ao sabor de patos bravos e, pontualmente, ao gosto educado de designers finos, a preços incomportáveis
Ao contrário de muitas cidades portuguesas, Lisboa não tem melhorado. Lisboa estagnou e degradou-se. Entristeceu. Vai morrendo aos poucos. Só escassas zonas históricas se vão aguentando. A movida que anima algumas delas gera uma sensação falsa de cidade europeia. O Príncipe Real, o Bairro Alto, o Chiado e as recentes zonas ribeirinhas são epifenómenos que respondem à pressão de uma sociedade moderna que se liberta e vive valores e conceitos urbanos. Mas que ninguém se iluda. O resto da cidade está a cair aos bocados.
Há escritórios para alugar e vender por todo o lado. Há milhares e milhares de casas vazias que não servem para gente nova alugar. Não há política de habitação. Nas Avenidas Novas cai um prédio cada dois meses. Os incêndios oportunos não têm conta. As lojas fecham em catadupa. A idade média e a pobreza dos lisboetas aumentam preocupantemente. Têm frio em casa. Têm medo na rua. Não têm a opção de ir para um lar ou de ter uma rede social de proximidade eficaz. Ficam emparedados. Alguns morrem esquecidos. São descobertos por vizinhos mais atentos. Não há sistemas de sinalização social eficazes. As escassas ajudas que chegam são da Igreja, de organizações da sociedade civil ou da Santa Casa, que é a segurança social lisboeta. No Rossio (onde só vivem oito pessoas!) trafica-se droga livremente a partir do fim da tarde. A PSP não vê. Nos estacionamentos na Baixa (aliás, incomportáveis para quem quisesse ali viver) dormem drogados e marginais.
A renovação urbana é um mito. O que se fez foi ao sabor de patos bravos e, pontualmente, ao gosto educado de designers finos, a preços incomportáveis. A cidade continua a ter um rio magnífico e uma luz maravilhosa, talvez porque não se consegue dar cabo das duas coisas, embora o rio não lhe pertença administrativamente.
O município e o Estado estão ausentes da cidadania, mas estão em todo o lado. Ele são prédios desocupados do Estado ou da câmara. Ele são posturas e multas municipais. Ele são regras de trânsito insensatas… Os serviços públicos camarários são ineficazes. Se considerarmos Lisboa uma área delimitada por Algés e os Olivais, o panorama então é aterrador. Quanto mais fora do desértico centro urbano pior.
A insegurança e a sujidade misturam-se em abundância em bairros como a Musgueira, enquanto nas zonas novas do Lumiar se corre perigo de vida ao pôr o pé na rua. Chelas à noite são um perigo. Campo de Ourique até parece coisa boa, mas olhando de perto vê-se que está devastado.
Das obras anárquicas nem é bom falar. Os transportes não têm relação entre a necessidade e a oferta. Cúmulo dos absurdos, o metro não chega a um aeroporto que tem mais de meio século e que esteve para ser mudado para Alcochete, antes que isso acontecesse. A vantagem da localização da Portela esteve quase a perder-se. Foi a falência nacional que salvou Lisboa dessa. As empresas de incoming vêem--se gregas para arranjar qualquer autorização de circulação ou para usar um espaço público para um evento médio e importador de divisas. Logo, fogem para Cascais, Sintra e Oeiras. Já se for uma iniciativa Continente a cidade é bloqueada.
A Expo tornou-se um aglomerado insensato de prédios. Com o fim da empresa que a gere, o caos pode ser maior. A ministra Cristas não explica o que vai fazer ao Pavilhão Atlântico, verdadeira âncora da cidade. O Pavilhão Carlos Lopes ia servir para o Museu do Desporto, mas o projecto finou-se no meio da indiferença geral, enquanto a infra-estrutura cai aos pedaços.
Entretanto, o simpático António Costa prepara uma recandidatura. O ex- -número dois de Sócrates é capaz de ter uma vitória retumbante, sobretudo porque não aparece quem também ame a cidade, mas a repense como capital nacional e regional, que, por sinal, está farta de ser desconsiderada. E, já agora, de pagar impostos aos que a ofendem e usufruem nas suas terras de condições de lazer e apoio social que os lisboetas não sonham existir.
Nota: Para ser só sustentada em fontes, uma notícia tem de ter factos. Quando tem fontes e não tem factos é uma “inventona”, como se dizia no PREC. Por isso é que os jornais americanos têm secções de assuntos internos que chegam a desmascarar Pulitzer indignos.
ionline
Há escritórios para alugar e vender por todo o lado. Há milhares e milhares de casas vazias que não servem para gente nova alugar. Não há política de habitação. Nas Avenidas Novas cai um prédio cada dois meses. Os incêndios oportunos não têm conta. As lojas fecham em catadupa. A idade média e a pobreza dos lisboetas aumentam preocupantemente. Têm frio em casa. Têm medo na rua. Não têm a opção de ir para um lar ou de ter uma rede social de proximidade eficaz. Ficam emparedados. Alguns morrem esquecidos. São descobertos por vizinhos mais atentos. Não há sistemas de sinalização social eficazes. As escassas ajudas que chegam são da Igreja, de organizações da sociedade civil ou da Santa Casa, que é a segurança social lisboeta. No Rossio (onde só vivem oito pessoas!) trafica-se droga livremente a partir do fim da tarde. A PSP não vê. Nos estacionamentos na Baixa (aliás, incomportáveis para quem quisesse ali viver) dormem drogados e marginais.
A renovação urbana é um mito. O que se fez foi ao sabor de patos bravos e, pontualmente, ao gosto educado de designers finos, a preços incomportáveis. A cidade continua a ter um rio magnífico e uma luz maravilhosa, talvez porque não se consegue dar cabo das duas coisas, embora o rio não lhe pertença administrativamente.
O município e o Estado estão ausentes da cidadania, mas estão em todo o lado. Ele são prédios desocupados do Estado ou da câmara. Ele são posturas e multas municipais. Ele são regras de trânsito insensatas… Os serviços públicos camarários são ineficazes. Se considerarmos Lisboa uma área delimitada por Algés e os Olivais, o panorama então é aterrador. Quanto mais fora do desértico centro urbano pior.
A insegurança e a sujidade misturam-se em abundância em bairros como a Musgueira, enquanto nas zonas novas do Lumiar se corre perigo de vida ao pôr o pé na rua. Chelas à noite são um perigo. Campo de Ourique até parece coisa boa, mas olhando de perto vê-se que está devastado.
Das obras anárquicas nem é bom falar. Os transportes não têm relação entre a necessidade e a oferta. Cúmulo dos absurdos, o metro não chega a um aeroporto que tem mais de meio século e que esteve para ser mudado para Alcochete, antes que isso acontecesse. A vantagem da localização da Portela esteve quase a perder-se. Foi a falência nacional que salvou Lisboa dessa. As empresas de incoming vêem--se gregas para arranjar qualquer autorização de circulação ou para usar um espaço público para um evento médio e importador de divisas. Logo, fogem para Cascais, Sintra e Oeiras. Já se for uma iniciativa Continente a cidade é bloqueada.
A Expo tornou-se um aglomerado insensato de prédios. Com o fim da empresa que a gere, o caos pode ser maior. A ministra Cristas não explica o que vai fazer ao Pavilhão Atlântico, verdadeira âncora da cidade. O Pavilhão Carlos Lopes ia servir para o Museu do Desporto, mas o projecto finou-se no meio da indiferença geral, enquanto a infra-estrutura cai aos pedaços.
Entretanto, o simpático António Costa prepara uma recandidatura. O ex- -número dois de Sócrates é capaz de ter uma vitória retumbante, sobretudo porque não aparece quem também ame a cidade, mas a repense como capital nacional e regional, que, por sinal, está farta de ser desconsiderada. E, já agora, de pagar impostos aos que a ofendem e usufruem nas suas terras de condições de lazer e apoio social que os lisboetas não sonham existir.
Nota: Para ser só sustentada em fontes, uma notícia tem de ter factos. Quando tem fontes e não tem factos é uma “inventona”, como se dizia no PREC. Por isso é que os jornais americanos têm secções de assuntos internos que chegam a desmascarar Pulitzer indignos.
ionline
1 comentário:
o lado positivo em tudo isto é que há consciências a indignar-se
Então quem manda na cidade não é de Lisboa?
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