sábado, 7 de janeiro de 2012

Guerra à EMELDA.







Alfama em pé de guerra com regras da EMEL
Prometeram-lhes disciplinar o estacionamento mas continuam a viver entre o caos
Paulo Lourenço

O sistema de controlo de trânsito em Alfama, Lisboa, é alvo de fortes críticas, por parte de comerciantes, moradores e familiares destes. Queixam-se da falta de controlo e das dificuldades em aceder ao bairro para assistir idosos. A empresa diz que há cartões próprios para quem queira aceder pontualmente à zona.


foto PAULO LOURENÇO/JN

Mensagem de descontentamento dirigida à EMEL


As pinturas nas paredes e cartazes nas lojas denunciam o clima tenso entre quem ali mora ou trabalha e a empresa que gere o estacionamento municipal. "EMEL fora daqui, estas ruas pertencem-nos" ou simplesmente "EMEL rua" são os exemplos visíveis do descontentamento popular, há muito instalado.

São duas as situações que causam maior desconforto: o acesso ao bairro por parte de familiares de idosos que, muitas vezes, têm dificuldades em andar e a falta de controlo do estacionamento já dentro do próprio bairro, um dos mais antigos e típicos da capital.

"O meu sobrinho muitas vezes não me vem buscar para passear, porque eles não lhe abrem o pilarete e eu e o meu marido temos dificuldade em andar até à zona onde ele tem de deixar o carro", conta ao JN Gracinda Ferreira, 90 anos. Vilma Cruz concorda. "É uma vergonha! Os nossos parentes querem visitar-nos no bairro mas não os deixam entrar", diz.

Obrigado a descer escadas, com um AVC

Serafim Guerreiro não esquece um dos maiores sustos da sua vida. "Tive um AVC e o meu filho teve de deixar o carro lá em baixo e levar-me, com auxílio da minha nora, pela escada abaixo. Cheguei ao carro a muito custo", recorda, destacando ainda que o filho até já desistiu de ir ao bairro. "Não está para se chatear por não o deixarem entrar", argumenta.

Experiência idêntica tem Anabela Domingues. "Venho da Pontinha buscar o meu pai, que tem muita dificuldade em caminhar, mas tenho que vir com ele a pé até casa, porque eles, na maioria dos casos, não me abrem o pilarete", critica.

A casos como estes a EMEL responde com a possibilidade de adquirir um cartão por 25 euros. "O sistema está cada vez mais automático. Basta adquirirem o cartão e passam a entrar quando quiserem. Só podem é ficar 30 minutos, se ficarem mais, pagam", revelou fonte da empresa.

Um argumento que não convence Vasco Duarte, um comerciante que se tem destacado na "luta" do bairro contra o actual sistema. "As pessoas perguntam: mas eu lá tenho de pagar para voltar à casa onde nasci ou sempre vivi?", desabafa.

Maria de Lurdes, dona de uma mercearia em Alfama, concorda e diz que nem o cartão aludido pela EMEL é garantia de entrada. "Mesmo pessoas com cartão eles implicam. Se dá para embirrar não entra ninguém. E isso prejudica o bairro, porque há pessoas novas que vieram para cá morar, mas não acham muita graça a este sistema e não estão para deixar o carro longe e vir a pé, muitas vezes carregadas com compras". A comerciante diz mesmo que este sistema "foi a pior coisa que puseram aqui".


Anarquia total

Mas a revolta de muitos moradores e comerciantes direcciona-se também à falta de controlo no interior do próprio bairro. Lembram que o sistema foi criado com o propósito de disciplinar o estacionamento na zona, mas os resultados estão muito longe das expectativas. Com efeito, basta percorrer as apertadas ruas e vielas para encontrar casos flagrantes de carros estacionados anarquicamente, tapando entradas ou obstruindo acessos.

"Nós, moradores, pagamos para entrar no bairro, mas o importante era haver mais controlo. A verdade é que, passando o pilarete, é a anarquia total", sintetiza Alexandre Froes, um jovem morador na Rua dos Remédios.

Vasco Duarte concorda e destaca que o perigo ameaça diariamente o mais castiço dos bairros alfacinhas. "Basta sair à rua e ver. Há aqui carros estacionados de qualquer maneira. Se vier uma ambulância não entra ninguém", destaca, à porta da sua loja, apontando de imediato, casos que comprovam a sua teoria.

A empresa garante porém que tem fiscalização e, segundo a fonte contactada pelo JN, "não é muito costume haver carros em situação irregular". "Agora, se deixarem entrar toda a gente, sim, vai acontecer isso", acrescenta, garantindo que "a EMEL faz a fiscalização, não pode é estar sempre em todo o lado".

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