quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

um efeito de espelho de grande escala revelador da beleza cénica do reflexo das fachadas









Câmara de Lisboa planeia transferir verba da obra da Ribeira das Naus para as juntas


Por Ana Henriques in Público

Serão retirados 550 mil euros aos sete milhões inscritos no orçamento para obra que ainda não arrancou


A maioria socialista que governa a Câmara de Lisboa vai propor a transferência de 550 mil euros das obras de requalificação da Ribeira das Naus para as juntas de freguesia, com o objectivo de o PSD lhe viabilizar o orçamento municipal deste ano. A consignação da empreitada decorreu há escassa semana e meia, não tendo as obras sequer começado ainda.Na passada terça-feira, os sociais-democratas admitiram inviabilizar o orçamento apresentado pelo PS, na assembleia municipal, reivindicando um aumento das transferências para as juntas, que a autarquia reduziu em dez por cento para este ano. Das exigências do PSD faz ainda parte a manutenção do Fundo de Emergência Social e o início do Programa de Emparedamento de Edifícios Devolutos, medidas que este partido negociou há já um ano com a maioria socialista, mas que até agora não foram desenvolvidas. Destinado a aproximar a cidade do rio, a requalificação da Ribeira das Naus vai fazer avançar a margem Tejo dentro, com plataformas de relva e de pedra. Também está prevista a criação de um lago no recinto da Marinha, que passará a estar aberto ao público, com os edifícios militares protegidos por um gradeamento amovível. No âmbito do mesmo plano o dique do Arsenal vai ser desenterrado, recuperando a estrutura da doca seca e as rampas de varadouro, que permitia a reparação de navios através de um sistema de comportas que controlava a passagem da água.Segundo os números oficiais, as primeiras duas fases do projecto representam um investimento de dez milhões de euros, dos quais 6,5 milhões provenientes do Quadro Comunitário de Apoio (QREN), sendo o restante montante capital próprio da câmara. Estas verbas não incluem a construção de um silo automóvel de três andares entre a Rua do Arsenal e o rio, no valor de 4,5 milhões. O edifício devia ser subterrâneo, mas a Câmara de Lisboa diz que afinal esta solução fica demasiado cara.A alteração orçamental para reforçar as verbas destinadas às juntas de freguesia é hoje discutida em reunião de câmara. A contrapartida que o PS vai tentar negociar com o PSD passa por reduzir 550 mil euros aos sete milhões inscritos na rubrica orçamental da Ribeira das Naus.De acordo com as grandes opções
do plano da Câmara de Lisboa para 2012-2015, "para o desenvolvimento do projecto da Ribeira das Naus será dada prioridade às respectivas obras financiadas através da candidatura aprovada pelo QREN".Da responsabilidade da sociedade Frente Tejo, a empreitada passou para o controlo do município, na sequência da extinção daquela entidade. O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa (PS), garante que quando as obras ficarem prontas, em 2013, a Ribeira das Naus estará transformada num parque urbano. O trânsito automóvel continuará a passar por esta artéria, mas "através de uma ponte/passadiço, assente sobre um açude de contenção da revelada Doca da Marinha", explica a memória descritiva do projecto, que é da responsabilidade dos ateliers Proap e Global.
com Lusa


O QUE NOS PROMETERAM:

A Frente Tejo,S.A. convidou dois dos melhores ateliers de arquitectura paisagista para elaborarem, em consórcio, o projecto de requalificação da Ribeira das Naus. A PROAP, liderada pelo arq. paisagista João Nunes e a GLOBAL, liderada pelo arq. paisagista João Gomes da Silva associaram-se à Consulmar, tendo esta empresa a responsabilidade de elaborar os estudos e projectos relacionados com o avanço das margens do rio.
No dia 29 de Julho a Frente Tejo, acompanhada pelos projectistas da PROAP e da GLOBAL, apresentou na reunião do executivo da Câmara de Lisboa o estudo prévio para a Ribeira das Naus. Este estudo foi disponibilizado no mesmo dia a todas as forças políticas representadas no executivo camarário e aos orgãos de comunicação social presentes.


História, cultura e lazer

O Estudo Prévio para a Ribeira das Naus tenta cristalizar numa solução contemporânea de espaço público os elementos estruturais mais relevantes da História deste lugar. Dessa síntese, resultam como elementos fundamentais da proposta e do conceito que lhe está subjacente, a revelação de estruturas enterradas, a recuperação da geometria da antiga linha de costa e sua integração no desenho, a reinvenção de elementos funcionais associados ao trabalho de estaleiro (rampas, pontões). Esta atitude de revelação culmina no topo Poente com a possibilidade de utilizar a arqueologia e os trabalhos de escavação na zona do antigo Palácio Corte Real como elementos integrantes do desenho e como função dos novos espaços verdes criados. Em síntese, o projecto aponta como elementos essenciais de revelação histórica as seguintes acções:

•Desaterro da antiga Doca da Marinha (caldeira) e da Doca Seca com a revelação das estruturas pré-existentes de contenção das mesmas, as quais poderão ser completadas e/ou reforçadas caso se verifique estarem danificadas ou incompletas;
•Recuperação da geometria da antiga Ribeira das Naus como limite de transição entre o pavimento em pedra de calcário e o pavimento em basalto;
Construção de dois planos inclinados relvados à imagem das antigas rampas varadouro de lançamento de navios;
•Existência de uma zona de jardim compatível com a possível integração de trabalhos de escavação arqueológica (zona do antigo palácio Corte Real), permitindo a criação de uma escavação visitável por parte dos utilizadores do jardim e assim uma mais-valia cultural e pedagógica da fruição do espaço;
•Reconfiguração da linha de costa; A condição de limite físico da cidade no seu contacto com o rio, confere a esta zona e a outras congéneres, um carácter volúvel, materializado pelo avanço de um sobre o outro. Esta dinâmica, vem conformando a linha de costa ao longo da história de Lisboa. A presente proposta afirma-se positivamente sobre a natureza e geometria do limite da cidade propondo o seu avanço face ao limite actual, reconquistando-se a continuidade das direcções e alinhamentos das áreas contíguas, ganhando espaço público de grande proximidade com o rio e regrando as relações formais entre os vários vazios em presença (praças, ruas);
•Definição clara da geometria do limite das várias plataformas niveladas no troço Cais do Sodré/ Praça do Comércio, com a afirmação de um alinhamento único e contínuo ao longo de todas estas zonas coincidente com a crista do plano inclinado;
•Criação de dois pontões de remate nos extremos ajudando a conter a plataforma inclinada de avanço sobre o rio e reforçando a ideia desta funcionar como uma peça encaixada;
•Criação de espaço público;

A reinvenção da Ribeira das Naus enquanto espaço público resulta naturalmente da eliminação da barreira física de limite das instalações da Marinha e da relocalização do eixo viário para sul, acompanhando a linha de costa. Na proposta apresentada, o sentido de fruição do espaço estende-se a praticamente toda a área de intervenção, com diferentes características e aspectos diferenciadores:

•A zona de circulação junto aos edifícios, que apesar de sujeita a alguns condicionamentos, surge como uma plataforma pétrea de continuidade entre o edificado e o restante espaço;
•As zonas de jardim que assumem o carácter de áreas de relvado com maciços arbóreos e que permitem uma circulação livre e não condicionada.
•A plataforma de transição rio/cidade com o basalto negro, onde a circulação de viaturas se confina ao estritamente necessário e a não existência de desníveis convida ao atravessamento;
•A aproximação ao rio protagonizada por um plano inclinado, onde a circulação longitudinal no coroamento da peça é complementada pelo alinhamento de árvores (conforto) e declive suave da rampa convidam à estadia e contemplação do rio.

Espaço de ligação

A posição do espaço da Ribeira das Naus no contexto urbano da cidade de Lisboa é ela própria definidora de uma condição de espaço/junta entre uma praça monumental (Praça do Comércio) e o conjunto Praça Duque da Terceira / Jardim Roque Gameiro. Este carácter foi reconhecido nas várias opções que reforçam este espaço como espaço de ligação.

A proposta reafirma como pressuposto a utilização pelo público da passagem existente através do edifício no topo norte da área de intervenção, o que permitirá a comunicação com a Praça do Município e Rua do Arsenal e daí com a Baixa Pombalina e com a zona do Chiado;

Possibilita-se com a reinterpretação da antiga linha de contorno dos pontões, a criação de percursos de atravessamento transversal que colocam em ligação a praça de armas interior com o percurso marginal em basalto;

Estabelece-se uma continuidade no alinhamento e geometria do percurso pedonal e ciclável marginal proveniente quer do Cais Sodré, através dos edifícios das Agências, quer da Praça do Comércio, coincidindo o seu limite sul com a linha de coroamento do grande plano inclinado de aproximação ao rio;

Reforça-se no limite poente a relação entre a cidade e o rio, através da criação de um pontão de remate no enfiamento do eixo do Largo do Corpo Santo e a criação de uma alameda arborizada no contacto com o edifício mais a nascente das Agências;

Garante-se a ligação automóvel e pedonal entre a Ribeira Das Naus e o topo poente da Praça do Comércio através de uma ponte/passadiço, assente sobre um açude de contenção da revelada Doca da Marinha. Este elemento que garante a ligação vital entre a Praça monumental e o espaço multifacetado da Ribeira reinventada terá uma singularidade acrescida pela leveza da sua estrutura e pela nobreza dos materiais e qualidade construtiva.

Segurança
A eliminação de limites físicos e a nova configuração do espaço traz consigo novas formas de garantir as questões relativas à segurança das instalações militares e descontinuar a proporcionar espaços de representação institucional. O desenho e a organização do espaço encontrados permitem, de forma bastante simples, criar zonas de acesso e circulação condicionados, ou mesmo, em situações de excepção, impedir a entrada do público na plataforma mais próxima dos edifícios:

•A nova praça de armas, localizada na zona onde actualmente se encontram respiradouros do Metropolitano, terá uma área aproximada de 2000 m2 e permitirá concentrar todas as funções de representação a que o espaço exterior do edifício tenha de dar resposta;
•O desaterro da antiga Doca da Marinha (Caldeira) actuará como uma barreira acrescida de segurança. O percurso em volta deste plano de água poderá ser condicionado em termos de acesso total ou parcial;
•A existência dos dois grandes planos inclinados relvados no centro da área de intervenção recuperando a geometria e o conceito dos antigos varadouros, cria uma tectónica do pavimento que garante o isolamento (pela diferença de cotas) das zonas próximas ao edifícios e afectos à função militar;
•A barreira da doca seca redescoberta é aproveitada e maximizada constituindo factor acrescido de segurança e de controle;
•O desenho permite, através de elementos estruturais e pela forma como combina pré-existências com modelação das cotas do pavimento, garantir que em grande parte da linha de contacto com os edifícios seja fácil implementar medidas de segurança, quer passivas quer activas, que possam possibilitar estabelecer diferentes níveis de segurança;

Qualidade do espaço
Tendo como ponto de partida a ambiguidade espacial dos vários espaços da actual Ribeira das Naus, pretendeu-se com a reinterpretação da condição urbana deste lugar, conquistar para a cidade áreas de qualidade superior no que à fruição do espaço público diz respeito. Foi possível ao projecto, na concretização do conceito, definir espaços tipologicamente diversos e complementares, que garantem uma multiplicidade de valências e funções, enriquecendo ainda mais através da diversidade, um espaço à partida único na cidade, quer pela História que representa quer pelas características naturais.

A procura dessa qualidade espacial foi conduzida no sentido de um maior conforto ambiental e da potenciação das qualidades cénicas do espaço:

•Criando zonas de jardim de escala considerável e zonas de estadia generosas e de relação directa com o rio;
•No cuidado na escolha dos materiais de revestimento (calcário, basalto), na mobilidade e conforto de acesso em todas as zonas do projecto e na segurança da utilização dos espaços (relação peões/automóveis);
•Na reintrodução do elemento água na composição do espaço com a revelação da Doca da Marinha e suas estruturas de contenção, criando um
efeito de espelho de grande escala revelador da beleza cénica do reflexo das fachadas

http://www.frentetejo.pt/169/ribeira-das-naus.htm


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