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O ano que aí vem não vai ser fácil. Todos o sabem. Hoje, saí de casa e Lisboa estava cinzenta. Cartazes rasgados nas paredes, lixo a transbordar dos caixotes, as pessoas com um ar triste e zangado com o mundo. Lisboa grafitada sob um céu de chumbo. Não se sabe se os museus estão abertos, no meio de tantas «reestruturações» e greves. Não se sabe nada. Anda tudo meio desorientado.
Certezas, quais? Vamos apertar o cinto, sem dúvida. Confrontar-nos, enfim, com a realidade: somos um país pobre, ou remediado. E isto há muitos séculos. Mas nestas alturas, justamente nestas alturas, deveremos ter mais cuidado com o (pouco) que temos, tratar do património herdado, não deixar que se acumule lixo, não cair no desleixo derrotista. Na Avª José Régio, no caminho da Gago Coutinho para as Olaias, falta uma placa toponímica. Caiu, desapareceu. Ao lado, dois montes de areia. Estão ali a fazer o quê, quem os deixou lá? Achamos caricatos os bairros de Marrocos com os tijolos à vista, o mesmo sucedendo com as favelas no Rio. Mas, no fundo, no fundo, deixamos Lisboa num estado parecido. Estamos conformados a viver no meio da imundície. Não pode ser. Aproveitemos estes tempos de crise para ter uma cidade mais limpa, arrumada, organizada, digna na sua frugalidade. Sem os espaventos de outrora, que largaram monos como o Museu dos Coches (o novo). Sem a atracção feérica pelo efémero, que nunca deixará de ser pindérico e risível, como as «iniciativas» da Experimenta Design. Sem projectos megalómanos. Tenhamos, isso sim, uma cidade mais limpa, mais cuidada. Não é por sermos mais pobres que vamos deitar o lixo no chão, pois não? Pelo contrário. Esta é uma oportunidade única para termos uma cidade limpa, cuidada, não tolerando nem o vandalismo dos «alternativos» nem a incúria do establishment; nem as negociatas dos «grandes», nem os grafitos dos «pequenos». Larguem as querelas ideológicas: um rabisco na parede não é de esquerda nem de direita, é um rabisco na parede. Temos de continuar, nascemos aqui. Com calma, com força traquila, sem politiquices nem negociatas. Sobriedade digna, atenção ao espaço público. Temos de mudar, pela força das circunstâncias. Mudemos então para melhor, é o pedido de Ano Novo do Lisboa SOS.
2 comentários:
Rabiscos à parte....essa história do lixo poderia ter sido escrita em 1971....e daqui a 40 anos?
Feliz Ano Novo S.O.S:s...
subscrevo os votos deste texto!
porque será que o que parece tão simples, se torna tão difícil de realizar como a arrumação das ruas e espaços públicos!?
votos de limpeza para todas as fachadas, ruas e cidades!
bom ano
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