segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sex and alcohol and rock and roll.







Bairro Alto. 498 anos de sexo, álcool e rock’n’roll
Por Clara Silva


Pergunta para queijinho do Trivial Pursuit: Como se chamava o Bairro Alto há 498 anos? Não vale consultar a Wikipédia. Nos passeios onde hoje em dia se acumulam todas as noites copos de plástico, apenas existiam terrenos baldios numa zona que se chamava Vila Nova de Andrade. Agora que já pode impressionar os seus amigos com a sua cultura geral, da próxima vez que sair para o Bairro Alto – ou nalgum inquérito de rua, nunca se sabe – podemos contar-lhe o resto da história.

A 15 de Dezembro de 1513, Lopo de Atouguia fechava um acordo com Bartolomeu de Andrade e a sua mulher, Francisca Cordovil, para construir casas nas herdades em talhões da então Vila Nova de Andrade. Foi a partir daí que aos poucos começaram a surgir as ruas estreitas e as casas encavalitadas do Bairro Alto, um dos primeiros bairros europeus a ser construído com planta em quadrícula, segundo ordens do rei D. Manuel. Aliás, foi isso que lhe valeu séculos mais tarde ter resistido em parte ao terramoto de 1755.

No século XIX, as casas nobres do Bairro Alto começaram a ser transformadas em prédios de comércio. O mesmo aconteceu com alguns conventos, como o dos Caetanos, onde surgiu o Conservatório Nacional, ou o dos Paulistas, que se tornou quartel da GNR.

Na zona instalaram-se também as sedes das principais tipografias e jornais, que acabaram por dar nome às ruas (como a Rua do Diário de Notícias ou a Rua do Século). Além disso, o Bairro Alto ganhava fama de lugar de prostituição, repleto de tabernas de marinheiros, tal como o Cais do Sodré.

É a partir dos anos 80 que se dá a viragem na noite lisboeta e o Bairro Alto começa a ser uma referência. A discoteca Frágil é uma das responsáveis por isso, nessa sua década de ouro.

Nos dias de hoje, nas ruas do bairro cruzam-se jovens que apanham as primeiras bebedeiras, turistas que procuram uma casa de fado e lisboetas que querem comer bem numa tasca barata, ou num restaurante caro, há para todos os gostos. Também ninguém se pode queixar de falta de bares. Porta sim, porta sim há caipirinhas em tamanho XXL, jelly shots e bebidas com nomes como "Pontapé na Cona".

Os comerciantes agradecem às centenas de pessoas que se acumulam nas ruas, mas os moradores ensonados há muito que travam uma guerra com baldes de lixívia a quem se senta nos seus degraus às tantas da manhã.

O Bairro Alto sopra, na quinta-feira, 498 velas e esta semana as ruas estão em festa também durante o dia.

(in jornal «i»).

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