Não faz mal se bater num agente da PSP... desde que seja com jeitinho
Por Rosa Ramos, publicado em 26 Nov 2011 - 13:05
Prospério entrou no tribunal acusado de dois crimes, mas saiu condenado só por um. Pode ter empurrado uns polícias, mas a juíza acha que foi sem “grande força”
As bebedeiras têm destas coisas difíceis de imaginar. Prospério é profissional de seguros, ganha quase 1500 euros por mês, vive com a filha de 15 anos, nunca se mete em complicações e até é um homem honesto. Quem o vê agora assim, diante da juíza – bem penteado, fato e gravata, sapato italiano bem engraxado, voz grave, figura esguia e ar sensato –, dificilmente consegue imaginar o sarilho em que se meteu há duas noites. Mas já se sabe que nunca se sabe do que um homem é capaz depois de andar metido nos copos.
Ia o Prospério na sua viatura de luxo em Lisboa quando foi mandado parar pela polícia numa operação STOP de rotina. Nada indiciava que alguma coisa de errado se passasse com o condutor. Aliás, os agentes até lhe elogiam a condução: “Ia ali direitinho, ninguém adivinhava, sotôra juíza.” Assim que a polícia o mandou parar, Prospério abriu a porta do carro à patrão. E a primeira coisa que fez, assim que se achou no exterior, a cambalear, foi pôr ordem nos agentes e deixar as coisas bem claras: “A mim ninguém me põe a mão, ó bófias.”
“‘Tá bém, ‘tá bem, mas o senhor vai ter de fazer o teste do álcool”, respondeu-lhe um dos agentes. Prospério negou-se. “Porque a minha cunhada morreu há duas semanas e eu não fiz nada de mal, só estou a dar apoio ao meu irmão.” A justificação deixou os agentes a matutar: afinal o homem estava sozinho, não havia sinal de nenhum irmão e muito menos de qualquer defunta. “Tudo bem, mas agora o senhor tem mesmo de soprar no balão”, devolve o polícia, em tom quase paternal. Prospério não vai de modas e dá-lhe dois empurrões. O PSP avisa: mais um e vai dentro. E é então que o homem, roxo de raiva, vai a cambalear até ao carro da polícia e desata aos pontapés e aos murros às rodas. Os agentes ficam a olhar para aquilo, perplexos, sem saberem o que fazer perante o homem enfurecido a descarregar uma bateria de raiva num carro inofensivo. “É melhor agarrarmos o tipo, que ainda parte os dedos com tanto pontapé”, dizem os agentes enquanto o homem continua concentradíssimo a espancar a viatura. Agarram--no, todo ele esbracejante. “Você deu-me com o cacetete, mas eu tenho muitos amigos na bófia”, continua a gritar. Minutos depois, Prospério faz o teste do álcool. E é nesta parte da história que o profissional de seguros se torna num verdadeiro herói, digno de entrar no Guiness: o alcoolímetro acusou uma taxa de 3,17 g/l.
Agora, no tribunal, Prospério diz que não se lembra “bem” dos factos. Recorda-se de qualquer coisinha, não sabe bem do quê. Também se lembra de ter dito qualquer coisa, agora o quê é que é mais difícil. Foi acusado de dois crimes: condução em estado de embriaguez e resistência e coacção sob funcionário – que é como quem diz resistência à “bófia”.
O que vale é que, aparentemente, hoje é o dia de sorte do Prospério. A juíza está determinada a absolvê-lo do segundo crime. “Porque estava embriagado, porque as palavras que proferiu não causaram medo aos agentes e porque não está provado que dos empurrões tenha resultado uma ofensa no corpo do ofendido”, explica a meritíssima juíza.
O agente da PSP bem pode ter explicado que foram dois empurrões “à séria” e o companheiro de operações até pode ter acrescentado que chegou a levar um pontapé enquanto tentava imobilizar o arguido, imensamente concentrado em espancar-lhes a viatura. Mas a juíza considera que os empurrões “nem sempre podem ser qualificados como agressão”. E que, neste caso, foi “sem grande força”, dado que os agentes não se magoaram. Lá está. Não faz mal bater num agente da PSP. O que é preciso é que seja com jeitinho e que ninguém se magoe.
De qualquer forma, Prospério não se livra da condenação por conduzir bêbedo. “O senhor apresentou uma taxa de álcool pouco frequente por aqui e olhe que nos aparecem destes crimes todos os dias”, admite a juíza. “Mas vamos esperar que isto seja um episódio isolado na sua vida”, acrescenta. Como o homem até nem tem antecedentes, o tribunal dá o assunto por encerrado. Prospério volta para casa, certamente mais aliviado, com uma multa de 720 euros e a proibição de voltar a tocar num carro durante cinco meses. O Prospério que se mantenha, então, longe de viaturas: seja para as conduzir seja para as esbofetear.
As bebedeiras têm destas coisas difíceis de imaginar. Prospério é profissional de seguros, ganha quase 1500 euros por mês, vive com a filha de 15 anos, nunca se mete em complicações e até é um homem honesto. Quem o vê agora assim, diante da juíza – bem penteado, fato e gravata, sapato italiano bem engraxado, voz grave, figura esguia e ar sensato –, dificilmente consegue imaginar o sarilho em que se meteu há duas noites. Mas já se sabe que nunca se sabe do que um homem é capaz depois de andar metido nos copos.
Ia o Prospério na sua viatura de luxo em Lisboa quando foi mandado parar pela polícia numa operação STOP de rotina. Nada indiciava que alguma coisa de errado se passasse com o condutor. Aliás, os agentes até lhe elogiam a condução: “Ia ali direitinho, ninguém adivinhava, sotôra juíza.” Assim que a polícia o mandou parar, Prospério abriu a porta do carro à patrão. E a primeira coisa que fez, assim que se achou no exterior, a cambalear, foi pôr ordem nos agentes e deixar as coisas bem claras: “A mim ninguém me põe a mão, ó bófias.”
“‘Tá bém, ‘tá bem, mas o senhor vai ter de fazer o teste do álcool”, respondeu-lhe um dos agentes. Prospério negou-se. “Porque a minha cunhada morreu há duas semanas e eu não fiz nada de mal, só estou a dar apoio ao meu irmão.” A justificação deixou os agentes a matutar: afinal o homem estava sozinho, não havia sinal de nenhum irmão e muito menos de qualquer defunta. “Tudo bem, mas agora o senhor tem mesmo de soprar no balão”, devolve o polícia, em tom quase paternal. Prospério não vai de modas e dá-lhe dois empurrões. O PSP avisa: mais um e vai dentro. E é então que o homem, roxo de raiva, vai a cambalear até ao carro da polícia e desata aos pontapés e aos murros às rodas. Os agentes ficam a olhar para aquilo, perplexos, sem saberem o que fazer perante o homem enfurecido a descarregar uma bateria de raiva num carro inofensivo. “É melhor agarrarmos o tipo, que ainda parte os dedos com tanto pontapé”, dizem os agentes enquanto o homem continua concentradíssimo a espancar a viatura. Agarram--no, todo ele esbracejante. “Você deu-me com o cacetete, mas eu tenho muitos amigos na bófia”, continua a gritar. Minutos depois, Prospério faz o teste do álcool. E é nesta parte da história que o profissional de seguros se torna num verdadeiro herói, digno de entrar no Guiness: o alcoolímetro acusou uma taxa de 3,17 g/l.
Agora, no tribunal, Prospério diz que não se lembra “bem” dos factos. Recorda-se de qualquer coisinha, não sabe bem do quê. Também se lembra de ter dito qualquer coisa, agora o quê é que é mais difícil. Foi acusado de dois crimes: condução em estado de embriaguez e resistência e coacção sob funcionário – que é como quem diz resistência à “bófia”.
O que vale é que, aparentemente, hoje é o dia de sorte do Prospério. A juíza está determinada a absolvê-lo do segundo crime. “Porque estava embriagado, porque as palavras que proferiu não causaram medo aos agentes e porque não está provado que dos empurrões tenha resultado uma ofensa no corpo do ofendido”, explica a meritíssima juíza.
O agente da PSP bem pode ter explicado que foram dois empurrões “à séria” e o companheiro de operações até pode ter acrescentado que chegou a levar um pontapé enquanto tentava imobilizar o arguido, imensamente concentrado em espancar-lhes a viatura. Mas a juíza considera que os empurrões “nem sempre podem ser qualificados como agressão”. E que, neste caso, foi “sem grande força”, dado que os agentes não se magoaram. Lá está. Não faz mal bater num agente da PSP. O que é preciso é que seja com jeitinho e que ninguém se magoe.
De qualquer forma, Prospério não se livra da condenação por conduzir bêbedo. “O senhor apresentou uma taxa de álcool pouco frequente por aqui e olhe que nos aparecem destes crimes todos os dias”, admite a juíza. “Mas vamos esperar que isto seja um episódio isolado na sua vida”, acrescenta. Como o homem até nem tem antecedentes, o tribunal dá o assunto por encerrado. Prospério volta para casa, certamente mais aliviado, com uma multa de 720 euros e a proibição de voltar a tocar num carro durante cinco meses. O Prospério que se mantenha, então, longe de viaturas: seja para as conduzir seja para as esbofetear.
(in jornal «i»).
1 comentário:
A nossa "justiça" é mesmo de/e para "gajos porreiros". Um Prospério com 3,17 noutros países, vai uns mesinhos dentro e perde a carta pelo menos durante um ano, sendo ainda obrigado a passar por um novo exame de condução
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