Mulher bala. É um pássaro? É um avião? É a atracção principal do Circo Cardinali
Por Clara Silva
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Tem 38 anos e vem dos EUA com os dois filhos e o marido, que acciona o gatilho do canhão. Jennifer Schneider é filha do homem bala que tem o recorde do Guinness e está em Lisboa
“Cinco, quatro, três, dois...” Os miúdos de bibe e chapéu de Pai Natal, que até então só tinham reagido com gargalhadas às estaladas dos palhaços espanhóis e a um “bom dia” arrancado a ferros da vereadora da Câmara de Loures, tapam os ouvidos e alguns escondem a cabeça nos braços das educadoras de infância. A mulher bala acaba de entrar no canhão e o número é o mais aguardado do Circo Victor Hugo Cardinali. Lisboa está cheia de cartazes que anunciam a vinda da mulher bala dos “USA” e o dono do circo, Victor Hugo Cardinali, afirma na televisão que ela “é única no mundo”. Jennifer Schneider, de 38 anos, sabe e também sabe que foi por isso que a convidaram para vir a Portugal, “por causa da publicidade”.
A actuação da mulher bala em Lisboa já estava a ser planeada há dois anos. “Mas nessa altura não podia vir porque tinha a agenda preenchida”, conta Jennifer Schneider ao i nos bastidores do circo. De vez em quando, um leão interrompe a conversa com uns rugidos. “Não é um máximo ele?”, pergunta Jennifer. “Chama-se Sonho e tem cinco anos.” Victor Hugo contactou Jennifer através de uma agência. Uma agência de mulheres bala? Não sabemos, mas o que é certo é que esta é o trunfo do seu circo, que estará até 8 de Janeiro num descampado do Parque das Nações. “Depois disso volto para casa e começo a minha digressão pelos Estados Unidos. Começo em Nova Iorque e a seguir vou para o Canadá, mas uso um canhão maior, montado num camião.”
TRÊS, DOIS, UM... Quando a trapezista Esmeralda entra no circo agarrada a uma corda, vários homens começam a encher um airbag gigante na arena. Podia ser uma rede de segurança para Esmeralda, mas a trapezista agarra-se à corda e não precisa disso. Jennifer, a mulher bala, aparece com um capuz na cabeça e dá algumas indicações sobre a posição do colchão. Parece compenetrada para que não fique nem um milímetro afastado do sítio certo.
De repente ouve-se o barulho de um helicóptero e Luís, o apresentador, promete ao microfone “momentos de grande emoção”. A mulher bala volta a aparecer, desta vez com um capacete na mão e um maiô. Quando passa por nós parece nervosa, como se fosse a primeira vez que fazia o número. Mais tarde viria a confessar-nos: “Já fiz mais de 3 mil lançamentos mas tenho sempre medo.”
O seu filho Brody, de sete anos, aparece a correr nas escadas perto do fosso onde o canhão está instalado e tropeça. Levanta-se e fica a olhar para a mãe, que, depois de acenar ao público, desaparece no canhão. Amber, a outra filha, tem 13 anos e também ajuda no espectáculo. “Dá o sinal ao Luís para começar a fazer a contagem”, explica Jennifer.
“Cinco, quatro, três, dois, um...” Ouve--se um estrondo, vê-se um clarão e Jennifer sai disparada do canhão até aterrar no airbag. Levanta-se e agradece às crianças. Algumas começaram a chorar com o barulho. No ar fica o cheiro a pólvora e o espectáculo de circo chega ao fim – pelo menos até à próxima actuação, dali a poucas horas. Há tantos espectáculos que Jennifer confessa que ainda não conhece Lisboa. “Só fomos à mercearia, ao centro comercial e ao cinema”, diz.
FAMÍLIA BALA Depois de recuperar da aterragem – “é sempre a parte mais perigosa” –, Jennifer mostra-nos o canhão. “Bem-vindos à minha caverna”, diz enquanto afasta a cortina e nos mostra a máquina. Rob, o seu marido, um ex-piloto de motocrosse, está envolto numa nuvem de fumo. Na mão tem um comando que move o canhão para cima e para baixo e também é ele quem acciona o gatilho. Jennifer tira algumas fotos em cima do canhão, mas recusa-se a entrar novamente e a explicar como funciona. “É um segredo de família. Foi o meu pai que desenhou e não podemos revelar.”
Jennifer é filha de David Smith, o detentor do recorde do Guinness no que diz respeito a homens e mulheres bala: conseguiu voar 56 metros a uma velocidade de 112 km/hora. “O meu recorde pessoal é de 44 metros”, conta Jennifer. “É três vezes mais do que estou a fazer aqui, porque não há espaço. Não posso ir mais longe se não bato no tecto e não posso puxar o airbag mais para cima porque ficava em cima das pessoas.”
O primeiro voo de Jennifer foi aos 15 anos num circo em Idaho, nos Estados Unidos. “Cresci neste mundo, desde que me lembro que o meu pai faz isto.” Mas esta nem sempre foi a sua profissão. David era trapezista num circo até que, em 1970, decidiu criar um número a solo e inventou um canhão. Dos seus dez filhos, três seguiram os seus voos: Jennifer, David e Stephanie. “Há cinco anos a minha irmã teve um acidente num lançamento na Austrália e partiu a coluna”, recorda Jennifer. “Na altura disseram-lhe que nunca mais ia voltar a andar, mas recuperou e agora está na faculdade de Medicina. Ainda não voltou aos canhões mas está a pensar nisso.”
Jennifer também já teve alguns acidentes: “O processo de aprendizagem é duro. Já parti os tornozelos, o cotovelo... É por isso que temos de estar muito concentrados.” Dentro do canhão, Jennifer tem de ficar muito quieta na posição em que vai sair. “No ar as mãos ficam de lado para estabilizar um bocado. É tudo tão rápido que nem tenho de mudar de posição. Assim que saio só tenho de pensar na aterragem.”
Para os filhos já é normal vê-la em altos voos. “Quando perguntam ao Brody a minha profissão, ele responde: ‘Mummy goes boom.’” A mais velha, Amber, já faz algumas perguntas sobre o funcionamento do canhão e Jennifer acha que pode ser a próxima mulher bala da família. Nos tempos livres, quando os tem, Jennifer trata das suas terras – “somos proprietários de várias terras nos EUA” – ou faz wakeboard no seu barco.
(jornal «i»).
“Cinco, quatro, três, dois...” Os miúdos de bibe e chapéu de Pai Natal, que até então só tinham reagido com gargalhadas às estaladas dos palhaços espanhóis e a um “bom dia” arrancado a ferros da vereadora da Câmara de Loures, tapam os ouvidos e alguns escondem a cabeça nos braços das educadoras de infância. A mulher bala acaba de entrar no canhão e o número é o mais aguardado do Circo Victor Hugo Cardinali. Lisboa está cheia de cartazes que anunciam a vinda da mulher bala dos “USA” e o dono do circo, Victor Hugo Cardinali, afirma na televisão que ela “é única no mundo”. Jennifer Schneider, de 38 anos, sabe e também sabe que foi por isso que a convidaram para vir a Portugal, “por causa da publicidade”.
A actuação da mulher bala em Lisboa já estava a ser planeada há dois anos. “Mas nessa altura não podia vir porque tinha a agenda preenchida”, conta Jennifer Schneider ao i nos bastidores do circo. De vez em quando, um leão interrompe a conversa com uns rugidos. “Não é um máximo ele?”, pergunta Jennifer. “Chama-se Sonho e tem cinco anos.” Victor Hugo contactou Jennifer através de uma agência. Uma agência de mulheres bala? Não sabemos, mas o que é certo é que esta é o trunfo do seu circo, que estará até 8 de Janeiro num descampado do Parque das Nações. “Depois disso volto para casa e começo a minha digressão pelos Estados Unidos. Começo em Nova Iorque e a seguir vou para o Canadá, mas uso um canhão maior, montado num camião.”
TRÊS, DOIS, UM... Quando a trapezista Esmeralda entra no circo agarrada a uma corda, vários homens começam a encher um airbag gigante na arena. Podia ser uma rede de segurança para Esmeralda, mas a trapezista agarra-se à corda e não precisa disso. Jennifer, a mulher bala, aparece com um capuz na cabeça e dá algumas indicações sobre a posição do colchão. Parece compenetrada para que não fique nem um milímetro afastado do sítio certo.
De repente ouve-se o barulho de um helicóptero e Luís, o apresentador, promete ao microfone “momentos de grande emoção”. A mulher bala volta a aparecer, desta vez com um capacete na mão e um maiô. Quando passa por nós parece nervosa, como se fosse a primeira vez que fazia o número. Mais tarde viria a confessar-nos: “Já fiz mais de 3 mil lançamentos mas tenho sempre medo.”
O seu filho Brody, de sete anos, aparece a correr nas escadas perto do fosso onde o canhão está instalado e tropeça. Levanta-se e fica a olhar para a mãe, que, depois de acenar ao público, desaparece no canhão. Amber, a outra filha, tem 13 anos e também ajuda no espectáculo. “Dá o sinal ao Luís para começar a fazer a contagem”, explica Jennifer.
“Cinco, quatro, três, dois, um...” Ouve--se um estrondo, vê-se um clarão e Jennifer sai disparada do canhão até aterrar no airbag. Levanta-se e agradece às crianças. Algumas começaram a chorar com o barulho. No ar fica o cheiro a pólvora e o espectáculo de circo chega ao fim – pelo menos até à próxima actuação, dali a poucas horas. Há tantos espectáculos que Jennifer confessa que ainda não conhece Lisboa. “Só fomos à mercearia, ao centro comercial e ao cinema”, diz.
FAMÍLIA BALA Depois de recuperar da aterragem – “é sempre a parte mais perigosa” –, Jennifer mostra-nos o canhão. “Bem-vindos à minha caverna”, diz enquanto afasta a cortina e nos mostra a máquina. Rob, o seu marido, um ex-piloto de motocrosse, está envolto numa nuvem de fumo. Na mão tem um comando que move o canhão para cima e para baixo e também é ele quem acciona o gatilho. Jennifer tira algumas fotos em cima do canhão, mas recusa-se a entrar novamente e a explicar como funciona. “É um segredo de família. Foi o meu pai que desenhou e não podemos revelar.”
Jennifer é filha de David Smith, o detentor do recorde do Guinness no que diz respeito a homens e mulheres bala: conseguiu voar 56 metros a uma velocidade de 112 km/hora. “O meu recorde pessoal é de 44 metros”, conta Jennifer. “É três vezes mais do que estou a fazer aqui, porque não há espaço. Não posso ir mais longe se não bato no tecto e não posso puxar o airbag mais para cima porque ficava em cima das pessoas.”
O primeiro voo de Jennifer foi aos 15 anos num circo em Idaho, nos Estados Unidos. “Cresci neste mundo, desde que me lembro que o meu pai faz isto.” Mas esta nem sempre foi a sua profissão. David era trapezista num circo até que, em 1970, decidiu criar um número a solo e inventou um canhão. Dos seus dez filhos, três seguiram os seus voos: Jennifer, David e Stephanie. “Há cinco anos a minha irmã teve um acidente num lançamento na Austrália e partiu a coluna”, recorda Jennifer. “Na altura disseram-lhe que nunca mais ia voltar a andar, mas recuperou e agora está na faculdade de Medicina. Ainda não voltou aos canhões mas está a pensar nisso.”
Jennifer também já teve alguns acidentes: “O processo de aprendizagem é duro. Já parti os tornozelos, o cotovelo... É por isso que temos de estar muito concentrados.” Dentro do canhão, Jennifer tem de ficar muito quieta na posição em que vai sair. “No ar as mãos ficam de lado para estabilizar um bocado. É tudo tão rápido que nem tenho de mudar de posição. Assim que saio só tenho de pensar na aterragem.”
Para os filhos já é normal vê-la em altos voos. “Quando perguntam ao Brody a minha profissão, ele responde: ‘Mummy goes boom.’” A mais velha, Amber, já faz algumas perguntas sobre o funcionamento do canhão e Jennifer acha que pode ser a próxima mulher bala da família. Nos tempos livres, quando os tem, Jennifer trata das suas terras – “somos proprietários de várias terras nos EUA” – ou faz wakeboard no seu barco.
(jornal «i»).
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