quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Museu Javardo.







Museu Berardo. Estado gasta 10 euros por cada entrada “gratuita”
Por Nelson Pereira


O comendador oferece borlas. Mas é o Estado quem paga as entradas, enquanto Berardo passa por bom escuteiro


Que as entradas são de graça no Museu Colecção Berardo (MCB) é benesse que tem sido associada a uma sensibilidade especial de Joe Berardo, preocupado em facilitar o acesso à arte da população menos favorecida, um traço com raízes nas origens humildes do coleccionador e empresário madeirense. O relatório da Inspecção Geral de Finanças à Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Colecção Berardo (FAMC), a que o i teve acesso, tira o brilho a Berardo e vem demonstrar, com mais este exemplo, que o Estado tem andado a gerir mal o dinheiro dos contribuintes. A propósito das entradas “gratuitas”, a IGF aponta que, para o ano de 2008, o custo por visitante, financiado por subsídios públicos directos, foi de 9,16 euros. E mesmo se este dinheiro serve para pagar borlas num museu, o Estado deixa que os louros sejam proveito de outrém. Os contribuintes têm pago a 10 euros cada visita no MCB. Se o gesto desprendido merece elogios, estes são pois devidos aos portugueses, não ao comendador. A Berardo cabem, sim, elogios por ter sido capaz de manter durante anos uma estratégia que, à custa da má gestão dos dinheiros públicos, tem dourado a sua imagem e defendido os seus interesses.
A decisão de manter gratuito o acesso à exposição da colecção Berardo foi desde o nascimento do museu, em 2006, no espaço do módulo 3 do CCB, divulgada pela FAMC como visando “cumprir a sua função de serviço público: promover o gosto pelos museus em Portugal”, considerando o MCB “uma porta de acesso”. Uma nota de 2007, divulgada pela instituição, sustentava a decisão como “uma forma de materializar a vontade de partilha e acessibilidade que está na origem da criação do Museu de Arte Moderna e Contemporânea”.
O secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas considerou no passado dia 12 de Outubro, no parlamento, “surpreendente” o contributo de 27 milhões de euros do Estado para o Museu Colecção Berardo entre 2007 e 2009, e deixou claro a vontade de avaliar “se o acordo vale a pena”. Fonte no MCB contestou ao i que as contas do secretário de Estado da Cultura estejam bem explicadas. Ou seja: o valor apontado pelo governante resulta da soma de contributos públicos que são comuns a outras entidades, caso das verbas assinadas pelo Turismo de Portugal (TP), que não atribuí financiamentos unicamente ao MCB. Em 2011 foi concedido pelo TP um financiamento de 800 mil euros à FAMC, dos quais já foram pagos 600 mil euros. Fonte no TP explicou ao i que este valor se destina a “apoiar as actividades do Museu Berardo e a sua promoção interna e externa”.
Ainda segundo a mesma fonte no MCB, os cálculos de Francisco José Viegas não deveriam incluir os chamados “proveitos do protocolo Fundação CCB (FCCB)”. Estes custos, a que se refere o relatório e contas da FCCB, e que anualmente ascendem a cerca de 1,5 milhões de euros, estão previstos no decreto lei nº 164/2006 que estabelece a FAMC.
Segundo nota do MCB enviada ao i, “neste ponto o Estado assume o custo de funcionamento do centro de exposições onde funciona o museu, continuando a transferir, como no passado, essa verba para a FCCB”. Esta verba diz respeito a, grosso modo, 33% dos custos de manutenção de todos os módulos do CCB e “com a existência da Colecção Berardo no CCB o Estado poupa na programação cultural, pois a ocupação dos 9000 m² de área expositiva fica assegurada por 1/3 do custo que seria se fosse ocupada por exposições temporárias externas” - acrescenta a nota do MCB.
A SEC entende as coisas doutro modo: o financiamento público que beneficia a FAMC deve ser calculado por inteiro. E o dinheiro público injectado na entidade inclui o subsídio à exploração da SEC, o apoio do TP, os proveitos do protocolo FCCB e o fundo de aquisição de obras.
Contactada pelo i, Margarida Veiga, vogal da Administração da FCCB, não quis fazer comentários.

(jornal «i»).

1 comentário:

Portugalredecouvertes disse...

Pelo menos com esta transferência de fundos, o povo sempre aproveita umas visitinhas sem pagar,

é que segundo dizem os entendidos, haveá por aí tantas outras, das quais a população nem tira qualquer proveito (claro que é que o se diz por aí)!

abraço